Publicada em 05/08/2024 às 11h16
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou nesta segunda-feira (5) que irá criar um batalhão de polícia permanente para lidar com os tumultos violentos que estão se espalhando pelo país desde semana passada em protestos da extrema direita.
Starmer convocou uma reunião urgente depois que, neste domingo (4), dois hotéis usados para abrigar requerentes de asilo foram atacados. Antes que a polícia chegasse para dispersar a multidão e evacuar os moradores, janelas foram quebradas e os manifestantes atearam fogo aos locais.
“Seja qual for a motivação aparente, isso não é protesto. É pura violência e não toleraremos ataques a mesquitas ou às nossas comunidades muçulmanas. A força total da lei será aplicada a todos aqueles que forem identificados", declarou Starmer.
Em entrevista à rede de TV BBC, Oliver Coppard, o prefeito de South Yorkshire, onde fica um dos hotéis atacados, condenou a violência:
“Como Keir disse, como toda pessoa decente disse, eles são bandidos de extrema direita que atacaram algumas das pessoas mais vulneráveis em nossas comunidades e não há absolutamente nenhuma desculpa para isso. Não há justificativa para tentar queimar até a morte 200 das pessoas mais vulneráveis em nossa comunidade”.
Segundo a agência de notícias AFP, Keir Starmer também prometeu "fortalecer a justiça criminal" para garantir "condenações rápidas".
Protestos após morte de crianças
Manifestantes de extrema direita, alimentados por desinformação online, vêm entrando em confronto com a polícia nos últimos dias para se manifestar contra o ataque a faca que matou três meninas participavam de um clube de férias temático de Taylor Swift em Southport.
O que se sabe sobre os protestos violentos da direita radical no Reino Unido
Na quinta passada, após mais de 100 pessoas serem presas em um protesto em Londres, no entorno de sua residência oficial, o premiê fez a primeira reunião de crise sobre o assunto.
Como o nome do responsável pelo crime não havia sido divulgado por ele ser menor de idade, houve disseminação de informações incorretas sobre sua identidade e o ataque foi ligado à imigração ilegal.
Para conter a onda de violência e de notícias falsas, a Justiça suspendeu a ordem de anonimato e divulgou o nome do acusado, Axel Rudakubana, além de revelar que ele é britânico. A polícia de Merseyside confirmou que o jovem de 17 anos nasceu em Cardiff, é filho de pais ruandeses e parece não ter nenhuma ligação conhecida com o islamismo.
O primeiro grande protesto contra o ataque ocorreu na terça-feira (30), do lado de fora de uma mesquita em Southport. A multidão atirou tijolos e garrafas contra a polícia de choque, incendiou latas de lixo e veículos e saqueou uma loja.
“Estou absolutamente chocada e enojada com o nível de violência que foi demonstrado contra meus oficiais. Alguns dos primeiros socorristas que compareceram àquela cena horrível na segunda-feira foram confrontados com aquele nível de violência”, disse a chefe de polícia de Merseyside, Serena Kennedy à agência de notícias Associated Press.
Horas antes, uma vigília pacífica pelas vítimas do esfaqueamento foi realizada na cidade. À Reuters, uma moradora que participou do ato falou sobre a violência presenciada nos protestos:
"O que vi ontem à noite foi absolutamente assustador. Foi devastador e meio que tirou a importância do que realmente aconteceu, que é a tragédia dessas mortes".
Na quarta (31), a confusão ocorreu perto do gabinete do primeiro-ministro em Londres. Centenas de manifestantes gritando “queremos nosso país de volta” atiraram latas e garrafas de cerveja e lançaram sinalizadores em uma estátua próxima do líder da guerra Winston Churchill.
No mesmo dia, na cidade de Hartlepool, no nordeste da Inglaterra, policiais foram atingidos com garrafas e ovos e uma viatura foi incendiada. Um distúrbio menor foi relatado em Manchester.
Segundo a AP, o gabinete de Starmer diz que, na reunião desta quinta, ele dirá aos líderes da polícia que, "embora o direito ao protesto pacífico deva ser protegido a todo custo, os criminosos que exploram esse direito para semear o ódio e realizar atos violentos enfrentarão toda a força da lei".
Acusações contra o réu
O criminoso não foi acusado de terrorismo, mas enfrenta três acusações de assassinato pelas mortes de Alice Dasilva Aguiar, de 9 anos, Elsie Dot Stancombe, de 7, e Bebe King, de 6. Ele também vai responder por 10 acusações de tentativa de homicídio pelas oito crianças e dois adultos que ficaram feridos.
O juiz decidiu colocá-lo em prisão preventiva em um centro para menores.