Publicada em 08/08/2024 às 16h42
Com a indicação dos nomes para a chapa democrata, a corrida eleitoral americana ganha um novo ritmo. Candidatos a presidente e vice realizam os primeiros comícios com foco em estados-pêndulo nos EUA. Nesta quarta (07), JD Vance, Kamala Harris e Tim Walz participaram de eventos no Michigan e Wisconsin.
A redefinição na eleição dos EUA começa a dar pistas de como serão os próximos passos das campanhas dos candidatos e como o histórico de Tim Walz poderá ser explorado pelos republicanos. Veja alguns pontos fortes e fracos que o candidato a vice poderá enfrentar na campanha.
Pontos Fortes
Um dos pontos que podem favorecer Tim Walz na campanha presidencial é o alto alcance que tem nos estados Centro-Oeste. Mesmo não sendo de um “estado pêndulo” (swing state, em inglês), que serão decisivos nesta votação, o governador de Minnesota traz aos eleitores uma figura familiar aos mais conservadores, que podem não se sentir atraídos por uma mulher negra e asiática da Califórnia.
A expectativa da campanha de Kamala Harris é que Walz tenha apelo em estados-chave do meio-oeste americano, como Wisconsin e Michigan. Ao jornal americano The New York Times, a senadora de Minnesota, Amy Klobuchar, afirmou que Walz “traz consigo uma vasta compreensão do Centro-Oeste”.
“Este será um vice-presidente que ficou em posições de caça de veados no meio de um clima de 10 graus e pescou nos 10 mil lagos de Minnesota”, afirmou.
Com 60 anos, o escolhido a vice na chapa democrata é um ex-técnico de futebol americano de uma escola de ensino médio de uma cidade pequena. Ele costuma passar o tempo livre caçando e pescando.
A figura, vista como simpática pela imprensa internacional, demonstra também uma habilidade de atacar Trump e J.D. Vance de maneira leve e com humor. Um dos momentos que chamam a atenção nas redes sociais é de Walz chamando os candidatos republicanos de "estranhos".
Watz tem uma carreira política sólida, mesmo mudando de opiniões ao longo dos anos. Foi parlamentar por 12 anos no Congresso antes de se tornar governador de Minnesota, em 2018. O governo dele foi marcado pela aprovação de diversas políticas progressistas no estado. Assim como Kamala Harris, a defesa aos direitos reprodutivos é uma importante bandeira de Walz. O Minnesota se tornou o primeiro estado a incluir o direito ao aborto na legislação estadual.
Tim Walz também defende a legalização da maconha recreativa, a comunidade LGBTQIA+, metas de energia renovável, a educação pública e o controle de armas. Walz defendia o amplo acesso às armas no início da carreira política. Mas, depois de um massacre em uma escola na Flórida, em 2018, que resultou em 17 mortos, ele mudou de opinião. No ano passado, o democrata aprovou um pacote de leis para limitar o acesso às armas de fogo em Minnesota.
Pontos fracos
Grande parte do histórico de Walz será facilmente usada contra ele pelos republicanos, o que começou a acontecer.
O governador democrata é considerado moderado quando o assunto é imigração. Mas já foi alvo de críticas após criar medidas para ajudar imigrantes sem documentação no país. Durante o governo dele, foram aprovadas leis que permitem que migrantes ilegais consigam seguro saúde e tirem carteira de motorista. Segundo ele, a medida poderia tornar as estradas mais seguras ao reduzir o número de motoristas sem habilitação.
Walz já votou a favor de uma triagem mais rigorosa de refugiados que chegassem ao país, mas abandonou a posição quando se candidatou ao governo de Minnesota. Em 2021, apelou a líderes democratas a criação de um caminho de cidadania de “sonhadores” levados aos EUA quando crianças, além de trabalhadores essenciais ou quem fugiu de países em crise.
Outro ponto sensível ao democrata é a demora na reação aos protestos no estado em 2020, depois que um policial de Minneapolis foi filmado assassinando George Floyd, que gerou uma reação em larga escala do movimento “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”, em português).
A reação da população foi intensa e o caso tomou a imprensa mundial. Com protestos em Minneapolis se tornando cada vez mais violentos, o prefeito da cidade, Jacob Frey, chegou a pedir que o governador Walz mobilizasse a Guarda Nacional. Foi somente na tarde seguinte, no entanto, que o democrata assinou uma ordem executiva permitindo que a Guarda auxiliasse as cidades.
“O governador Walz tinha a capacidade e o dever de usar a força e a aplicação da lei para impedir a violência criminal, mas não o fez”, disse um relatório do Senado de Minnesota de 2020 sobre os tumultos que ocorreram após a morte de Floyd.
O governador chegou a defender as ações recentemente, afirmou que tentou fazer o melhor que pôde numa situação difícil. Apesar das críticas, os eleitores de Minnesota reelegeram Walz para um segundo mandato em 2022.
As políticas progressistas de Walz também já se tornaram alvo dos republicanos. A campanha de Trump chamou Walz de "perigosamente liberal" e os dois democratas de “a dupla de esquerda mais radical da História americana”.
Após o anúncio do governador como vice de Harris, os republicanos dedicaram o dia vasculhando o histórico de Walz no comando do estado e rotulando Walz como um liberal progressista.
A campanha de Trump chegou a cometer uma gafe ao criticar uma política de Tim Walz que concede o direito de voto a criminosos condenados. O ex-presidente Trump e líder da chapa republicana, no entanto, foi o primeiro ex-presidente da história dos EUA a ser condenado criminalmente.