Publicada em 09/09/2024 às 09h38
As forças de Israel promoveram na noite do domingo (9) o maior ataque contra alvos associados ao Irã na Síria desde o fatídico bombardeio da embaixada da teocracia, em abril, que desencadeou a primeira ação militar direta de Teerã contra o Estado judeu.
A ação ocorreu no momento em que o governo de Binyamin Netanyahu sofre grande pressão por um cessar-fogo na guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza. O grupo terrorista palestino, que disparou a atual crise no Oriente Médio ao atacar Israel há quase um ano, é apoiado pelo Irã e Síria.
Ao menos 16 pessoas morreram e 35 ficaram feridas, segundo a agência estatal síria Sana. Já a ONG britânica Observatório Sírio para Direitos Humanos fala em 25 vítimas fatais. Foram bombardeadas por mísseis de longa distância israelenses instalações que analistas dizem ser fábricas de armas químicas.
O Irã negou associação com o local, dizendo que eram unidades síria –a ditadura de Bashar al-Assad é famosa pelo emprego desses condenados armamentos na guerra civil que assola o país desde 2011, mas que ele conseguiu dominar com a ajuda da Rússia e dos iranianos.
O governo de Israel, como é praxe nessas situações, não negou nem confirmou o ataque, focado na região de Masyaf. "Foi um ataque criminoso", disse o porta-voz da chancelaria em Teerã, Nasser Nanaani.
O ataque, o mais recente de uma longa história de ações de Israel contra alvos iranianos na Síria, país com quem não tem relações diplomáticas e vive em estado de guerra desde a criação do Estado judeu em 1948, ocorre em um momento particularmente delicado.
Com a descoberta de mais seis corpos de reféns do 7 de Outubro em Gaza, na semana passada, foram renovados os protestos de rua contra Netanyahu. Uma tensão adicional com o risco de escalada de guerra regional, politicamente, é útil ao premiê.
O fantasma do conflito ampliado permeia suas ações na guerra em Gaza. Em abril, quando 16 pessoas morreram na seção consular da embaixada iraniana em Damasco, incluindo um general, Teerã acabou por responder com um mega-ataque de mísseis e drones.
A eficaz defesa de Israel, apoiada por EUA e aliados até no mundo árabe, como os Emirados e a Jordânia, foi seguida por uma tréplica comedida, de-escalando a crise. Desde que uma ação atribuída a Tel Aviv matou o líder do Hamas em Teerã, há pouco mais de um mês, o Irã promete uma retaliação militar.
Até aqui, ela foi restrita a um embate mais duro entre israelenses e o Hezbollah, o grupo fundamentalista libanês que também é aliado do Irã e teve um líder morto por Tel Aviv poucas horas antes do ataque contra Ismail Haniyeh na capital dos aiatolás.
No caso iraniano, a fragilidade do regime devido a problemas econômicos e sociais, aliado à eleição de um presidente moderado após a morte em acidente aéreo do antecessor radical, entra na conta do ritmo lento de decisões.
O jogo de pressões de lado a lado obedece a cálculos políticos, mas basta um erro para o barril de pólvora regional explodir. Em favor da contenção há a pressão nada sutil dos EUA, que deslocaram dois grupos de porta-aviões, submarino nuclear de ataque e mais aeronaves para suas base na região.
Por outro lado, mesmo vozes oposicionistas em Israel têm defendido que algumas contas sejam acertadas. O ex-ministro da Defesa Benny Gantz, principal rival de Netanyahu, disse no domingo nos EUA que "o Hamas era notícia velha" e que "o tempo do norte [atacar o Hezbollah] chegou, e eu na verdade acho que estamos atrasados nisso".