Publicada em 27/09/2024 às 10h07
Porto Velho, RO – Nos dias 25 e 26 de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), embarcou em uma excursão por Rondônia, em um esforço para consolidar sua popularidade no estado e dar suporte a aliados locais que almejam cargos nas próximas eleições municipais. Sua passagem incluiu visitas estratégicas a Ji-Paraná, onde foi acompanhado por Affonso Cândido, pré-candidato do PL à Prefeitura; Jaru, com Patrick Faelbi, nome forte na região; Ariquemes, ao lado da prefeita Carla Redano, do União Brasil; e, finalmente, Porto Velho, onde apareceu em público com Mariana Carvalho, também do União Brasil e uma figura de destaque no cenário político da capital.
A cada parada, Bolsonaro foi ovacionado por multidões. Em Ji-Paraná, centenas de veículos formaram uma longa caravana para escoltar o ex-presidente em sua chegada. A presença de Affonso Cândido, aliado próximo, foi vista como uma tentativa de impulsionar sua candidatura ao lado de Bolsonaro, capitalizando no forte apelo popular do ex-mandatário. Em Jaru, a cena se repetiu: ruas cheias, bandeiras do Brasil e camisas verde-amarelas, símbolos de sua base de apoio. O cenário foi semelhante em Ariquemes, onde a prefeita Carla Redano buscou atrair ainda mais apoio ao se alinhar com Bolsonaro. E em Porto Velho, onde sua recepção foi marcada por um comício lotado, a prefeita Mariana Carvalho reforçou sua ligação com o ex-presidente, em um gesto claro de busca por legitimidade política.
As cenas dos eventos, que incluíram até mesmo recepções calorosas ao longo das estradas rondonianas, deixaram a impressão de que Bolsonaro ainda é uma figura central e amada por uma parcela significativa da população. O apelo visual de milhares de pessoas aglomeradas nas ruas reforçava a narrativa de um ex-presidente que ainda arrasta multidões e mantém um poder de mobilização invejável.
No entanto, a força física demonstrada nas ruas esconde um contraste que emergiu nas redes sociais. Em plataformas digitais, como páginas de humor e até em publicações de estabelecimentos comerciais que celebraram a visita de Bolsonaro, as reações foram bem diferentes. Publicações em tom de louvor à visita do ex-presidente geraram uma onda de descontentamento, com comentários críticos e, muitas vezes, carregados de sarcasmo.
Um restaurante da capital, onde Bolsonaro chegou a autografar uma mesa, postou uma homenagem ao ex-presidente e à prefeita Mariana Carvalho, em tom de celebração. Porém, as respostas ao post revelaram um público dividido: usuários rapidamente tomaram as redes para expressar repúdio, afirmando que não frequentariam mais o local. Entre os comentários, muitos destacavam a ineficácia de Bolsonaro para Porto Velho, associando sua figura à falta de ações concretas na região. Um internauta chegou a ironizar que "um cliente a menos" seria o resultado direto da visita.
Outro aspecto interessante surgiu nas páginas de humor, onde uma postagem sobre a chegada de Bolsonaro a Ji-Paraná desencadeou uma enxurrada de críticas. Comentários jocosos como "veio visitar seus bons gados" e "povo desempregado é fod4" dominaram as interações, reforçando que, embora Bolsonaro mantenha uma base de apoio expressiva, há também um sentimento de repulsa que se manifesta com força nas redes. Internautas questionaram o legado do ex-presidente em Rondônia, indagando sobre as obras ou ações efetivas realizadas durante seu mandato e sugerindo que sua presença não era motivo de celebração, mas sim de descontentamento.
Essa dicotomia entre a aclamação nas ruas e a resistência nas redes sociais oferece uma visão mais complexa sobre a popularidade de Jair Bolsonaro em Rondônia. Enquanto ele continua a ser uma figura que atrai multidões nas cidades onde passa, a resposta digital aponta para uma divisão latente na opinião pública. A internet, muitas vezes usada como reflexo da opinião coletiva, mostrou que a adulação não é unânime. Pelo contrário, Bolsonaro enfrenta uma oposição vocal, especialmente entre aqueles que questionam sua gestão e os benefícios trazidos ao estado.
Porto Velho, por exemplo, é um retrato claro dessa contradição. No comício que reuniu milhares pessoas, a força visual das ruas sugeria um apoio incondicional. Contudo, é sempre importante lembrar que a cidade possui uma população superior a 450 mil habitantes, dos quais a vasta maioria preferiu não comparecer aos eventos. As ruas podem estar cheias de apoiadores, mas o silêncio de uma grande parte da população e as críticas expressas nas redes indicam que nem todos compartilham do mesmo entusiasmo.
Em última análise, o retorno de Jair Bolsonaro a Rondônia expôs as duas faces de sua popularidade: um líder que ainda mobiliza milhares de pessoas fisicamente, mas que, ao mesmo tempo, enfrenta uma crescente onda de desaprovação nas redes sociais. Essa dualidade coloca em questão até que ponto sua influência permanece sólida no estado e se a oposição digital poderá, no futuro, se traduzir em uma redução de seu poder de mobilização nas ruas. A política, especialmente em tempos de polarização, é sempre um campo dinâmico e imprevisível, e a excursão de Bolsonaro por Rondônia deixa claro que sua popularidade, longe de ser absoluta, continua a ser debatida e colocada à prova.