Publicada em 26/09/2024 às 15h40
A escalada de confrontos nos últimos dias entre Israel e Hezbollah se sustenta em uma guerra de crenças de ambos os lados. O governo de Benjamin Netanyahu aposta que os bombardeios nos redutos da milícia xiita no Líbano e a morte de seus principais comandantes terão um efeito psicológico: acabarão por cobrar o chefe Hassan Nasrallah para que interrompa os ataques que começaram em outubro passado, permitindo, assim, o retorno de 60 mil residentes às suas casas na fronteira Norte do país.
Humilhado pela explosão coordenada de centenas de pagers e walkie-talkies, o líder do Hezbollah, por sua vez, aposta na sobrecarga do Exército israelense, cansado e dividido em duas frentes de conflitos — em Gaza e na Cisjordânia — para entrar numa terceira, no Norte.
Apesar dos ataques crescentes — segunda-feira (23) foi o dia mais mortal no Líbano desde a guerra civil que abalou o país por 15 anos —, Nasrallah parece não querer ceder à pressão militar de Israel, que causou pelo menos 600 mortos e o deslocamento de meio milhão de libaneses. Ao contrário, ele mantém-se desafiador no intuito de atuar como uma ameaça potencial ao país vizinho e enredá-lo num confronto terrestre que seria desastroso para ambos os lados.
A estrutura de comando da milícia xiita se enfraqueceu com a morte de seus principais auxiliares e golpes sucessivos na última semana. Mas o Hezbollah resiste, e a prova disso foi a demonstração na manhã desta quarta-feira (25), com o lançamento de um míssil balístico Qader1 na região de Tel Aviv.
De acordo com o grupo, o ataque tinha como objetivo o quartel-general do Mossad, mas o míssil de médio alcance, desenvolvido pelo Irã e com capacidade para atingir alvos a 1.600 quilômetros de distância, foi interceptado pelo sistema aéreo de defesa israelense.
O principal porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, deixou claro que o objetivo da ofensiva é uma campanha aérea e não uma incursão terrestre. Mas isso vai depender do quanto o Hezbollah é capaz de suportar e de arrastar Israel para uma Segunda Guerra do Líbano.
Um dos principais analistas em questões militares e de defesa do país, o colunista Amos Harel, do jornal “Haaretz”, pondera que a política do Hezbollah ainda pode mudar, e o grupo tem capacidade de causar grandes danos a Israel, tanto no Norte quanto no Centro do país.
“O uso massivo de suas armas estratégicas – mísseis de precisão de médio e longo alcance – depende de o Irã conceder permissão”, avalia o comentarista.
Nesse jogo de apostas arriscadas, o Irã atua como peça essencial, como principal patrocinador do Hezbollah. Até agora, o regime dos aiatolás parece não ter interesse em entrar numa conflagração regional, conforme sugeriu o presidente Masoud Pezeshkian, ao mesmo tempo em que advertiu que o “Hezbollah não pode ficar sozinho” se continuar a ser duramente atingido.