Publicada em 26/09/2024 às 09h14
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou, nesta quarta-feira (25), as críticas do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sobre a proposta do Brasil de se colocar como um mediador para um acordo de paz em meio ao conflito no Leste Europeu.
O líder ucraniano questionou, durante discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o papel do governo brasileiro nas negociações para um possível cessar-fogo entre seu país e a Rússia.
Zelensky disse duvidar do "real interesse" de Brasil e China ao pressionarem para liderar o diálogo entre Kiev e Moscou. Os dois países europeus estão em guerra desde que o governo de Vladmir Putin decidiu invadir o território vizinho, em fevereiro de 2022.
Questionado durante coletiva de imprensa ao final da viagem a Nova York (EUA), Lula avaliou que o presidente da Ucrânia falou "o óbvio" em seu discurso, que é defender a própria soberania, uma "obrigação dele".
"Ele tem que ser contra ocupação territorial, é a obrigação dele. O que ele não tá conseguindo fazer é a paz. E o que nós estamos propondo fazer não é a paz por ele. Nós estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir que a Ucrânia sobreviva enquanto país soberano e a Rússia sobreviva. É isso que nós estamos falando", respondeu.
Segundo o petista, eles não precisam aceitar uma proposta de paz elaborada pelo Brasil e pela China, porque não há, de fato, uma proposta.
"Tem uma tese que é importante começar a conversar. Eu vou dizer mais, ele, se fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não militar. Isso depende da capacidade de sentar e conversar, ou vir o contrário e tentar chegar a um acordo para que o povo ucraniano tenha sossego na vida, é isso".
Durante a coletiva, o petista também reiterou as duras críticas que tem feito ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O governo israelense está em conflito com o grupo extremista Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
De acordo com Lula, o governo brasileiro condena "veementemente" comportamento de Israel e diz que o premiê israelense promove um "genocídio" no Oriente Médio.
Acordo de paz
Desde o ano passado, o presidente Lula vem afirmando que quer atuar como mediador de um diálogo entre Rússia e Ucrânia para o fim da guerra, inclusive com um plano de paz específico.
Durante o discurso na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), nessa terça-feira (24), o petista lembrou a necessidade dos dois países aceitarem negociar, e lembrou que o Brasil e a China elaboraram uma sugestão para o fim das hostilidades no Leste Europeu.
"O recurso a armamentos cada vez mais destrutivos traz à memória os tempos mais sombrios do conflito estéril da Guerra Fria. Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento. Essa é a mensagem do entendimento de seis pontos que China e Brasil oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades", disse o presidente brasileiro.
Zelensky acompanhou o discurso da tribuna. Nesta quarta, quando foi a vez dele de se manifestar à assembleia, o líder ucraniano afirmou que as alternativas propostas por outras nações "ignoram os interesses e o sofrimento" do povo dele.
"Quando alguns propõem alternativas, planos de acordo pouco entusiasmados, isso não apenas ignora os interesses e o sofrimento dos ucranianos...não apenas ignora a realidade, mas também dá (ao presidente russo Vladimir) Putin o espaço político para continuar a guerra", discursou.