Publicada em 04/09/2024 às 15h51
Ao menos 41 pessoas morreram e 180 ficaram feridas em um dos mais mortíferos ataques da Guerra da Ucrânia. Elas estavam no prédio do Instituto de Comunicações de Poltava (leste do país), que foi atingido por um ou dois mísseis balísticos russos, segundo o presidente Volodimir Zelenski.
O ataque ocorreu nesta terça (3), acrescentando um saldo mórbido à escalada da guerra aérea entre russos e ucranianos, registrada a partir do começo da semana passada.
Até aqui, o maior número de mortos em um bombardeio contra uma única localidade na guerra havia ocorrido não muito longe dali, na estação de trem de Kramatorsk, com 61 vítimas em 2022. Naquele caso, o míssil era de artilharia, de um modelo usado tanto por separatistas pró-Rússia quanto por Kiev, o que levou a acusações de autoria.
O Ministério da Defesa da Rússia ainda não comentou o incidente, mas sua resposta padrão é a de que mira alvos militares ou estratégicos, e não civis. Mais cedo, a pasta havia divulgado ter lançado um ataque coordenado contra alvos da infraestrutura ferroviária dos ucranianos.
Ao longo da madrugada desta terça, os russos haviam lançado 35 drones contra a Ucrânia, 27 dos quais Kiev disse ter derrubado. Também foram empregados quatro mísseis de modelos não determinados, e não está claro se isso inclui os que segundo Zelenski atingiram Poltava (leste).
A cidade fica entre Krementchuk, importante ponto de Donetsk, e Kharkiv, a capital da província homônima mais a nordeste. Os outros ataques haviam matado duas pessoas em Zaporíjia (sul) e uma em Dnipro (centro).
Zelenski publicou um vídeo no qual disse ter "aberto uma investigação" sobre o ocorrido, mas não falou sobre a hipótese levantada por blogueiros militares russos de que o prédio possa ter sido atingido por engano pela defesa antiaérea ucraniana.
A campanha russa havia começado a escalar na semana passada, com três ataques que incluíram a maior ação do tipo na guerra.
Os ucranianos revidaram com o maior número de drones lançados contra o território russo no domingo (1), e já na segunda (2) Moscou voltou à carga.
O incidente vai elevar a pressão de Kiev sobre parceiros ocidentais para o fornecimento e autorização de uso dentro de alvos na Rússia de mísseis de longa distância.
Quando invadiu a região meridional russa de Kursk, em 6 de agosto, Zelenski buscava entre outras coisas provar que as linhas vermelhas do Kremlin não eram tão rubras, tanto que empregou mísseis americanos na ação.
Tecnicamente, no jogo de palavras da guerra, Kursk é uma área fronteiriça que apoia ações militares russas na Ucrânia, então seria elegível para o emprego de armas dos EUA e de seus parceiros da Otan (aliança militar ocidental).
O que Zelenski quer é autorização para atingir bases aéreas distantes, de onde partem bombardeiros estratégicos que lançam mísseis de cruzeiro e os caças MiG-31K que disparam hipersônicos Kinjal. Já mísseis balísticos do tipo Iskander-M, os melhores do arsenal russo, voam de veículos lançadores móveis e têm alcance de 500 km.
A escalada na guerra aérea, portanto, serve a propósitos diversos. Para Kiev, é uma forma de pressionar por mais ajuda. Já Moscou parece buscar apertar ao máximo os ucranianos no momento em que operam em seu território e também enquanto avançam com força na região de Donetsk.
Na segunda, o presidente Vladimir Putin havia feito uma rara celebração pública do avanço por lá, onde tropas russas estão cercando o centro logístico de Pokrovsk, ameaçando destruir toda a defesa ucraniana e conquistar o restante da região -um processo muito longo, mas que os russos parecem decididos a tentar antes do mau tempo a partir de outubro e novembro.
Apesar dos protestos da Ucrânia, União Europeia e do TPI (Tribunal Penal Internacional), que no ano passado emitiu uma ordem de prisão contra Putin por alegados crimes de guerra, o presidente russo visitou em alto estilo a vizinha Mongólia.
O país asiático reconhece a corte, e em tese seria obrigado a prender o russo. Mas sua posição geográfica delicada, espremido entre Rússia e China, e uma série de projetos energéticos oferecidos por Moscou falaram mais alto.
O Kremlin já havia dito que não haveria constrangimentos, e não houve. Putin convidou os mongóis a participarem como observadores da reunião do Brics em Kazan, no mês que vem, quando terá outra oportunidade de mostrar apoio externo apesar das críticas à invasão da Ucrânia.
O TPI acusa Putin e outras autoridades de remover ilegalmente crianças do país invadido para a Rússia. O Kremlin nega. No ano passado, o russo não foi a uma reunião do Brics na África do Sul devido à ordem, já que o anfitrião pediu e não conseguiu autorização junto à corte para recebê-lo.