Publicada em 01/10/2024 às 15h02
Porto Velho, RO – Em 2016, Léo Moraes, então com 32 anos, era o típico candidato jovem e reativo, pronto para desafiar o sistema. Naquele segundo turno das eleições municipais, ele se confrontou com Hildon Chaves, do PSDB, um outsider neófito no cenário político, que, apesar da inexperiência, conquistou o eleitorado ao representar um sentimento de aversão à política tradicional. Hildon, praticamente desconhecido, soube canalizar essa insatisfação e, assim, saiu da última colocação nas pesquisas para vencer Moraes no segundo turno, marcando o início de sua trajetória como prefeito reeleito de Porto Velho.
Léo, por outro lado, carregava o peso de já ter ocupado a Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE/RO) e a Câmara de Vereadores da capital, o que, de certo modo, o vinculava à política convencional. Sua campanha era marcada por respostas rápidas e frases preparadas, com uma abordagem combativa que se destacou no primeiro turno, mas acabou sendo insuficiente na fase final. O eleitorado de 2016 estava em busca de novidade, e Léo, por mais carismático que fosse, ainda representava, para muitos, a "velha política".
Entretanto, 2024 revela um Léo Moraes completamente diferente. Após ter sido eleito deputado federal com a maior votação em Rondônia em 2018, e de uma tentativa de alcançar o Palácio Rio Madeira em 2022, Moraes amadureceu politicamente. Embora tenha ficado de fora do segundo turno na disputa pelo governo, ele foi um jogador estratégico ao se aliar ao governador reeleito Marcos Rocha, um movimento que ajudou a derrotar Marcos Rogério no segundo turno.
Essa aliança não passou despercebida. O apoio ao governo lhe rendeu a oportunidade de comandar o Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RO), onde, finalmente, teve a chance de demonstrar suas habilidades administrativas. No comando do órgão, Léo adotou uma postura mais pragmática, desburocratizando processos e eliminando taxas, conquistando elogios.
A trajetória política de Léo Moraes, em 2024, reflete essa nova fase. Ele deixou de lado o ímpeto reativo e desenvolveu uma postura mais centrada e madura. Seus discursos são agora mais propositivos, sua voz é mais calma e sua presença pública carrega um ar de serenidade que contrasta profundamente com o estilo quase histriônico de oito anos atrás. A escolha desse novo tom pode ser vista como uma estratégia para atrair um eleitorado cansado dos excessos tanto da continuidade quanto do espetáculo político.
Em contraposição, candidatas como Euma Tourinho, do MDB, que apostam em uma retórica mais barulhenta reproduzindo os trejeitos debochados, satíricos, irônicos e provocadores de Pablo Marçal, do PRTB de São Paulo, parecem seguir uma linha que pode saturar um público que ainda acredita em seriedade e respeito na condução da política. Léo, por outro lado, manteve-se longe das provocações e "baixarias" que marcaram o início da campanha, preferindo manter uma postura de urbanidade que tem conquistado a simpatia de eleitores que ainda depositam fé na boa conduta.
Prova disso foi a última *pesquisa publicada pelo Instituto Futura Inteligência e divulgada no último sábado, 28 de setembro, colocando o postulante do Podemos em segundo lugar, a despeito da liderança de Mariana Carvalho, do União Brasil. Moraes encontrou ainda mais ressonância, também, junto à fatia do eleitorado que repele comportamentos hidrofóbicos nos embates ideológicos após o debate promovido pela SIC TV, afiliada da Rede Record.
No entanto, nem todas as escolhas de Léo são vistas de maneira unânime. A nomeação de Magna dos Anjos como sua vice-gerou certo estranhamento, principalmente se comparada à escolha do médico Amado Rahhal, em 2016, que foi uma figura popular e bem-quista. Embora Magna seja uma advogada respeitada, seu perfil discreto parece distanciar Léo do modelo de campanha mais carismático e acessível adotado no passado. Essa decisão reflete uma estratégia pragmática, onde o foco está em conquistar o apoio do eleitorado cristão, em consonância com o perfil conservador de parte dos vices escolhidos por outros candidatos.
Ainda assim, Léo Moraes se posiciona como um nome que atrai aqueles que rejeitam a continuidade do governo atual, mas que, ao mesmo tempo, não têm paciência para o teatro eleitoral. Ele oferece uma alternativa para os que buscam uma liderança mais equilibrada, que privilegie o trabalho concreto e a gestão eficiente, sem apelar para os extremos.
Em 2024, Léo Moraes se torna uma espécie de “ás” do baralho, um político que, apesar de suas raízes na política tradicional, soube se reinventar e agora se posiciona como a opção dos eleitores que desejam ver mudanças, mas sem abrir mão da seriedade e da eficiência no trato público.
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*A pesquisa citada na opinião foi realizada entre os dias 25 e 26 de setembro, por meio de entrevistas telefônicas assistidas por computador (CATI). Foram entrevistadas 600 pessoas, e o estudo está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número RO-03409/2024. O nível de confiança da pesquisa é de 95%, e a margem de erro é de 4 pontos percentuais.