Publicada em 31/10/2024 às 08h20
O resultado das eleições para prefeito de Porto Velho no segundo turno das eleições em 2024 trouxe várias lições. A primeira delas foi compreender que a maioria da população da cidade não mais aceita calada uma candidatura “empurrada de goela abaixo” pelos poderosos. Mariana Chaves não perdeu esse pleito apenas para o Léo Moraes. Ela perdeu para as circunstâncias que foram acontecendo durante toda a sua campanha. Os dois candidatos que foram para o segundo turno têm praticamente a mesma origem na política. São filhos de poderosas dinastias locais, ricas e abastadas, da direita e da extrema-direita reacionárias. Ambos nasceram em outras cidades fora do Estado de Rondônia, mas vivem e moram aqui desde pequenos. Léo foi preterido pelos poderosos de plantão enquanto Mariana teve o apoio irrestrito de todos: prefeito, governador e mídia.
O problema é que esses endinheirados se esqueceram de combinar com o povo, o cidadão eleitor da cidade, o sujeito humilde da periferia, que é quem decide de fato toda e qualquer eleição. E pelo menos desta vez, a maioria desses eleitores de Porto Velho merece os parabéns. Não só porque votou no Léo Moraes e rejeitou a Mariana Carvalho, mas principalmente porque não aceitou uma decisão tomada antes pela elite lá nos bastidores. O que o atual prefeito, Dr. Hildon Chaves, fez de tão bom e tão excepcional para que Porto Velho em peso votasse na sua candidata, a Mariana? Não acabou sequer com os alagamentos da cidade, que ainda continuam. Prova disso foi o forte temporal que se abateu sobre a cidade na noite anterior ao segundo turno. Léo Moraes saiu às ruas e denunciou ao vivo o absurdo de uma administração de oito anos que nada fez pela cidade.
Os eleitores de Porto Velho, pelo menos agora, estão de parabéns com a sua escolha. Superaram em visão política os eleitores de São Paulo, por exemplo. Lá o atual prefeito, Ricardo Nunes, que deixou a cidade às escuras depois de uma chuva, recebeu um turbilhão de votos e foi devidamente reeleito. Superaram também os eleitores de Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Na capital gaúcha, o atual prefeito Sebastião Melo, deixou a cidade ser toda inundada e mesmo assim, foi também reeleito tranquilamente. Aqui, os eleitores, de um modo geral, viram que a administração Hildon Chaves foi uma farsa. No verão é só problema com poeira e fumaça. No inverno, a mesma coisa, só que com lama e alagações. Nada mudou, portanto, na capital dos rondonienses. E o eleitor viu isso. Já o governador do Estado sequer construiu o “Built to Suit”. Por isso, foi derrotado também.
Claro que nem tudo são flores. Esse mesmo eleitor de Porto Velho elegeu todos os 23 vereadores ligados à direita e à extrema-direita reacionárias. Léo pode ter problemas para administrar com uma Câmara de Vereadores tão conservadora assim. Mas enfim, as “promissórias” existem para quê? E o senhor Leonardo Barreto que se cuide: foi eleito com os votos também da esquerda local, que não está morta. Ele tem que reconhecer isso. Além do mais, se ele nada fizer pelos porto-velhenses nos próximos quatro anos, pode dar adeus à política. Léo fez aliança com o povo, como ele mesmo diz. Um hospital de pronto-socorro municipal, mais saneamento básico, mais mobilidade urbana, mais esgoto, mais arborização, menos fumaça das queimadas nos próximos verões, mais água tratada, mais remédios nos postos, dentre outros benefícios para quem sempre sofreu por ter que morar aqui. Se não fizer nada disso, já era! Vai se afogar no mesmo esgoto que o elegeu.
*Foi Professor em Porto Velho.