Publicada em 23/11/2024 às 10h30
Porto Velho, RO – Desde 2018, Rondônia tornou-se um dos bastiões do conservadorismo brasileiro, impulsionado pela ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência e de Coronel Marcos Rocha ao governo estadual, ambos pelo PSL. Esse movimento consolidou lideranças políticas alinhadas ao bolsonarismo, como Marcos Rogério e Coronel Chrisóstomo. No entanto, o avanço das investigações contra o ex-presidente ameaça reconfigurar esse cenário, com impactos que podem reverberar no tabuleiro político local.
O indiciamento de Bolsonaro pela Polícia Federal envolve acusações graves, como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e articulações relacionadas aos atos de 8 de janeiro de 2023. Esses desdobramentos colocam o ex-presidente em uma situação jurídica delicada, que pode culminar em sua prisão caso o Supremo Tribunal Federal considere as evidências suficientes.
Para Rondônia, onde Bolsonaro foi figura central na consolidação do conservadorismo, a fragilidade do ex-presidente representa um teste para a sustentabilidade de seus aliados políticos. A possível prisão de Bolsonaro pode marcar um ponto de inflexão, exigindo reposicionamento estratégico das lideranças locais.
Embora ainda mantenha relevância em determinados contextos, como demonstrado pela vitória de Affonso Cândido (PL) em Ji-Paraná, a influência de Bolsonaro já não é absoluta. A derrota de Mariana Carvalho (União Brasil) para Léo Moraes (Podemos) na disputa pela Prefeitura de Porto Velho, mesmo após uma visita do ex-presidente à cidade, simboliza a perda de força do bolsonarismo em alguns redutos importantes.
Lideranças como Marcos Rogério e Coronel Chrisóstomo, que construíram suas carreiras em torno do discurso bolsonarista, enfrentam agora o desafio de adaptar suas estratégias em um cenário de desinteresse crescente por retóricas exclusivamente ideológicas. A reeleição de Marcos Rocha em 2022, com um tom mais moderado, reforça a tendência de que o eleitorado local começa a priorizar resultados práticos.
A possível ausência de Bolsonaro no cenário político pode acelerar a fragmentação da direita rondoniense. Sem a figura centralizadora do ex-presidente, líderes locais terão que se reinventar para captar um eleitorado conservador ainda predominante, mas menos alinhado a discursos radicais.
Paralelamente, essa fragmentação pode abrir brechas para o avanço de lideranças progressistas, ainda que esse movimento enfrente barreiras estruturais em um estado de tradição conservadora. Nomes como Confúcio Moura (MDB) e Cláudia de Jesus (PT) têm a oportunidade de se consolidar, desde que consigam conectar suas agendas às demandas populares e se afastar da polarização que marcou os últimos ciclos eleitorais.
A eleição de 2026 poderá ser um marco para Rondônia, onde o enfraquecimento do bolsonarismo pode levar à diversificação das lideranças locais. Eleitores, cansados de promessas ideológicas vazias, tendem a buscar perfis que apresentem soluções concretas e pragmáticas para os desafios do estado.
Nesse cenário de transição, políticos rondonienses terão que demonstrar capacidade de adaptação e articulação para manter relevância. O futuro político do estado dependerá de como as forças locais interpretarão e reagirão às mudanças no panorama nacional, especialmente diante de um eleitorado cada vez mais exigente e menos disposto a seguir discursos polarizadores.