Publicada em 27/11/2024 às 08h30
Entre os anos de 1964 e 1985 o Brasil viveu, até agora, a sua última ditadura. Foram anos de chumbo com uma ditadura militar cruel, assassina, anticomunista, violenta e absurda que simplesmente golpeou as nossas instituições democráticas apenas para satisfazer a ambição de uma elite rica, abjeta e igualmente má, corrupta e sanguinária. E já são quase 40 anos de regime democrático, o maior período em que o nosso país não tem “virada de mesa” na política. Ainda assim, a nossa democracia é muito jovem e por isso mesmo, muito frágil. Nunca vivemos tanto tempo respirando ares de liberdade, de justiça social e de eleições livres. Mas no final do ano de 2022, logo após o término do segundo turno das eleições presidenciais, o então presidente Jair Bolsonaro e um grupo de militares tentaram, segundo relatos da Polícia Federal, mergulhar o país na escuridão.
Segundo esses mesmos relatos, Bolsonaro e a sua turma de aloprados golpistas tramaram a morte do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice presidente Geraldo Alckmin e do então presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes. A partir daí, uma junta militar assumiria o comando da nação e então se consumava mais um golpe do Estado no Brasil. Fala-se nas entrelinhas que a ditadura implantada por eles seria muito pior do que a que os militares, apoiados pela elite civil, instalaram na década de 1960. Mortes, exílios, perseguições, prisões, centros de tortura a oposicionistas (DOI-CODI), censura à mídia e outras ações do gênero não estavam descartadas com o novo governo. Os golpistas tinham como certo o apoio de pelo menos metade da população do país. Talvez aqueles “patriotários” que tomaram a frente dos quartéis logo depois das eleições.
Contavam também com o apoio quase irrestrito do aparato das polícias militares espalhadas pelas 27 unidades da federação e também com a adesão de muitos militares de mentalidade golpista, de policiais civis fiéis ao regime bolsonarista e de vários políticos oportunistas. Mas burros que são, não perceberam que a atual conjuntura política internacional era totalmente diferente daquela dos anos 1960, que vivia a dicotomia da Guerra Fria, com o capitalismo versus comunismo. O mundo hoje respira democracia como forma de governo a ser implantada e seguida pela maioria dos países civilizados. O golpe, se tivesse mesmo sido consumado não seria reconhecido nem pelos vizinhos sul-americanos. O Brasil sofreria retaliações da União Europeia, Mercosul, OEA, da própria ONU, além de muitos outros organismos internacionais. Todos ficaríamos isolados e sós.
As autoridades judiciárias brasileiras não podem fazer vistas grossas a essa tentativa de golpe de Estado. Todos os participantes têm que ser punidos na forma da lei. Cadeia para todos eles. É o mínimo que se espera. Jair Bolsonaro e seus generais golpistas devem ir para o xilindró após o processo legal e todos eles sem direito à anistia. O próprio Código Penal do Brasil prevê punição mesmo que o crime não tenha sido consumado. É uma vergonha que em pleno século XXI tenhamos ainda que passar, de novo, por esta situação vexatória. Ainda bem que muitos expoentes da extrema-direita brasileira são estúpidos e com pouca leitura de mundo. Caso contrário, estaríamos hoje “correndo atrás do prejuízo” e lambendo as feridas. E será que não haveria nenhuma reação da esquerda nacional e dos grupos que ainda defendem a frágil democracia no país? Conquistamos a liberdade há pouco tempo e a muito custo. Devemos ter nojo de qualquer ditadura. E ódio!
*Foi Professor em Porto Velho.