Publicada em 19/11/2024 às 16h23
Porto Velho, RO – Os últimos acontecimentos no Brasil revelam um cenário alarmante: a escalada de atos violentos motivados por questões políticas e ideológicas. Os episódios registrados em Brasília na última semana, como o atentado suicida em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), e a descoberta de um plano envolvendo militares para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes são exemplos do radicalismo que ameaça a estabilidade democrática. Rondônia, como reflexo desse contexto, tem seu próprio histórico de episódios de violência alimentados pela polarização política, destacando a urgente necessidade de as lideranças locais assumirem uma postura ativa na promoção da conciliação e da paz social.
Na quarta-feira, 13 de novembro de 2024, Francisco Wanderley Luiz detonou explosivos no entorno da Praça dos Três Poderes, em Brasília, morrendo em frente ao STF. O atentado, que incluiu a explosão de um veículo carregado com fogos de artifício e tijolos, gerou um clima de insegurança no coração político do país. Segundo informações da Polícia Civil e do Boletim de Ocorrência, Francisco já havia compartilhado mensagens anunciando sua intenção de realizar o ato, mostrando que sua motivação era premeditada e carregada de conotações ideológicas. O episódio demonstrou a profundidade do descontentamento radicalizado presente em alguns setores da sociedade brasileira.
Poucos dias depois, outra revelação chocante veio à tona: a Polícia Federal divulgou detalhes de um plano envolvendo militares e um agente da PF para assassinar o presidente Lula, Alckmin e Moraes em 2022. A operação visava “neutralizar” lideranças democráticas como parte de um golpe de Estado planejado para 15 de dezembro daquele ano. Mensagens trocadas entre os conspiradores indicam que eles consideravam métodos como envenenamento e explosões para atingir seus objetivos, demonstrando o nível de comprometimento com ações extremas.
Embora os casos ocorram em Brasília, Rondônia tem enfrentado o impacto direto dessa onda de polarização e radicalização. Em novembro de 2022, após o segundo turno das eleições presidenciais, o estado foi palco de uma série de episódios violentos. Em Porto Velho, a sede do portal de notícias Rondônia Ao Vivo foi alvo de 19 disparos, em um ataque motivado por matérias que criticavam manifestações antidemocráticas. As investigações da Polícia Federal apontaram que os responsáveis tinham motivações políticas, insatisfeitos com a postura do jornal em relação ao fechamento de rodovias e aglomerações em frente a quartéis do Exército.
O ataque ao jornal não foi o único episódio de violência registrado no estado. No município de Colorado d’Oeste, manifestantes insatisfeitos com o resultado das eleições formaram associações criminosas que bloquearam rodovias, intimidaram comerciantes e impuseram suas vontades por meio de ameaças e coerção. Os relatos documentados pelo Ministério Público de Rondônia (MP/RO) e julgados pela Justiça descrevem uma série de crimes, desde a retenção de caminhões carregados com bens essenciais até ameaças diretas a moradores e comerciantes que não concordavam com as manifestações.
Os bloqueios na BR-435, organizados por lideranças locais, geraram prejuízos significativos para a população. Caminhões com combustíveis, alimentos e outros produtos essenciais foram impedidos de circular, criando uma crise de abastecimento em Colorado d’Oeste e municípios vizinhos. Os manifestantes chegaram a impor cotas para a distribuição de combustível e a regular o acesso a outros produtos, ações que ultrapassaram o direito de protesto e configuraram práticas criminosas. Em sentença publicada no Diário Oficial de Justiça de Rondônia, a juíza Miria do Nascimento de Souza destacou a clara intenção dos réus de desestabilizar a ordem democrática e apontou que as ações transcenderam qualquer justificativa legítima de manifestação.
A classe política de Rondônia, no entanto, permanece em grande parte omissa ou, em alguns casos, conivente com esses atos de radicalização. Muitos líderes locais evitam condenar veementemente episódios de violência e discursos antidemocráticos, contribuindo para a perpetuação das bolhas ideológicas que alimentam o ódio. Essa postura não apenas enfraquece o tecido social, mas também incentiva novos atos de radicalismo, como os vistos no estado e no país.
O papel da política deveria ser o de desarmar essas bolhas, promovendo o diálogo e a união. Rondônia, por exemplo, é um estado marcado pela diversidade cultural e econômica, com demandas que vão além das disputas ideológicas. No entanto, as lideranças locais têm falhado em priorizar essas questões, muitas vezes colocando suas agendas políticas acima do interesse coletivo. Em um cenário onde ataques a tiros contra jornalistas, bloqueios de rodovias e atentados suicidas se tornam parte do cotidiano, a omissão de líderes políticos é um agravante que não pode ser ignorado.
Os episódios recentes mostram que a violência política não é mais uma questão restrita às grandes capitais ou ao governo federal. Ela se manifesta em estados como Rondônia, em cidades pequenas e em comunidades onde o discurso de ódio encontra eco. A ausência de uma resposta firme por parte da classe política local não apenas legitima esses atos, mas também os torna mais frequentes.
É fundamental que Rondônia repense seu papel neste cenário. A radicalização política que leva ao terror social não será resolvida apenas com ações do Judiciário ou das forças de segurança. É preciso que as lideranças locais se posicionem de maneira inequívoca contra qualquer forma de violência e trabalhem ativamente para promover a reconciliação. Políticos que continuam alimentando bolhas ideológicas, mesmo que indiretamente, devem ser responsabilizados por suas ações e omissões.
A sociedade rondoniense merece mais do que discursos polarizadores. Merece lideranças que entendam que a democracia não é um campo de batalha, mas um espaço de construção coletiva. Rondônia precisa de pacificação, e isso começa com um compromisso real de seus representantes com a união e o diálogo. O estado ainda tem a chance de se tornar um exemplo de como superar a polarização e construir uma sociedade mais justa e harmoniosa. Mas essa mudança só será possível se os políticos locais assumirem a responsabilidade que lhes cabe.