Publicada em 28/12/2024 às 10h03
Porto Velho, RO – A postura do senador Marcos Rogério (PL-RO) frente ao governo federal revelou uma contradição latente em dezembro de 2024. Embora o congressista mantenha discurso contundente contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele figura como o quarto parlamentar que mais recebeu recursos de emendas parlamentares durante o mês, com um montante de R$ 29,8 milhões.
Os dados foram divulgados pelo portal UOL, que detalhou a destinação de R$ 8,1 bilhões em emendas pelo Executivo, especialmente em vésperas de votações estratégicas no Congresso Nacional.
Apesar de criticar publicamente o governo Lula, o senador utilizou suas redes sociais ao longo do mês para divulgar a aplicação de recursos em Rondônia, como se fossem exclusivamente fruto de sua atuação.
Marcos Rogério não gostou da matéria do UOL / Reprodução
Em uma das postagens, ele afirma: “O orçamento não é do governo, é do Brasil. Enquanto senador, não abro mão de garantir o que é de direito de Rondônia”. Contudo, a comunicação adotada pela assessoria do parlamentar contradiz esse princípio ao atribuir a ele próprio os méritos pelos investimentos.
Em publicação feita no dia 9 de dezembro, Marcos Rogério informou que garantiu R$ 48 milhões para a construção do Hospital Regional de Ji-Paraná. No dia 18 do mesmo mês, ele comemorou o fechamento de 2024 destacando o investimento de R$ 117,5 milhões no estado, sem mencionar que esses recursos são parte do orçamento da União.
Em outra postagem, datada de 20 de dezembro, o senador destacou a destinação de R$ 34 milhões para saúde, reafirmando a importância de investir na população rondoniense.
Autopromoção com o orçamento brasileiro é marca do mandato de Marcos Rogério / Reprodução-Facebook
A incoerência reside no fato de que, enquanto publicamente ataca a gestão federal, o senador se beneficia diretamente de um sistema que ele critica. Sua atuação como opositor da agenda de Lula é acompanhada por discursos que ignoram o papel do governo federal na liberação de emendas. A lógica de que "o orçamento é do Brasil" perde força quando a comunicação é usada para reforçar uma narrativa pessoal e de protagonismo.
Os valores recebidos por Marcos Rogério se inserem em um contexto de estratégia política. As liberações de dezembro representaram 18% do total destinado ao longo de 2024, que chegou a R$ 38,6 bilhões.
Segundo a própria lógica de Marcos Rogério, o investimento em Rondônia é do Brasil / Reprodução-Facebook
O governo federal priorizou aliados do Centrão e bolsonaristas para assegurar apoio em pautas como a reforma tributária e o pacote de ajuste fiscal. Ainda assim, o senador, que ganhou notoriedade nacional durante a CPI da Covid-19, parece hoje mais focado em afagar sua bolha política do que em promover um debate transparente.
Se o orçamento é do Brasil, conforme ele afirma, seria coerente que sua assessoria divulgasse os recursos com mensagens como: “Povo brasileiro destina R$ 30 milhões para a saúde de Rondônia”. Tal postura reforçaria o princípio de que as emendas são instrumentos da sociedade, não méritos pessoais ou resultado de embates partidários.
Aqui o discurso também não se alinha à prática / Reprodução-Facebook
A trajetória de Marcos Rogério é um exemplo do equilíbrio têmido entre discurso e prática. Resta saber se o eleitorado rondoniense, diante dessas contradições, continuará respaldando sua estratégia política ou demandará maior clareza na forma como o senador representa os interesses do estado em Brasília.