Publicada em 22/01/2025 às 11h24
Porto Velho, RO – No âmbito político brasileiro, a polêmica raramente toma férias. Desta vez, o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO) chamou a atenção com declarações controversas em um grupo de WhatsApp, onde defendeu abertamente a imposição de sanções ao Brasil pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, enquanto ameaçava judicialmente aqueles que criticassem sua ida aos Estados Unidos. Chrisóstomo afirmou ter viajado a Washington para prestigiar, com recursos próprios, a posse do republicano.
As mensagens enviadas no grupo trouxeram à tona um conjunto de inconsistências que, além de contradizerem a retórica de liberdade de expressão frequentemente exaltada pelo parlamentar, expuseram uma narrativa ideológica enviesada. “Quero deixar claro aqui, novamente, nesse grupo e farei com outros. Declaro que vim na posse de Trump, embora tenha sido convidado oficialmente para o evento, VIM PRA POSSE EM WASHINGTON COM MEUS RECURSOS PRÓPRIOS. Por dever de justiça, alguns estão mentindo pro povo e sendo muito irresponsáveis. Tomarei medidas judicias contra pessoas irresponsáveis”, escreveu o deputado.
A postura de Chrisóstomo contrasta com seu histórico. Em ocasiões anteriores, o parlamentar se autoproclamou defensor da liberdade de expressão, chegando a celebrar a decisão da Meta, de Mark Zuckerberg, de abolir a checagem de fatos no Facebook, Instagram e WhatsApp. Contudo, sua tentativa de censura prévia contra o jornal eletrônico Rondônia Dinâmica — caso em que restou derrotado judicialmente — e as recentes ameaças jurídicas contra críticos, colocam em cheque sua real compreensão do conceito de liberdade de expressão.
ENTENDA
Chrisóstomo ameaça usar medidas judiciais contra quem divulgar informações “irresponsáveis” sobre sua viagem aos EUA
E AINDA
Coronel ‘‘defensor’’ da liberdade de expressão perdeu processo após tentar censurar o Rondônia Dinâmica; deputado invocou Diretos Humanos contra o site
A incoerência no discurso sobre sanções
Uma das mensagens de Chrisóstomo no grupo chama ainda mais atenção: “Trump vai partir pra cima do Brasil com sanções”. A declaração, feita com um tom que sugere entusiasmo, reflete uma perspectiva preocupante para alguém que se apresenta como defensor do patriotismo.
Chrisóstomo, que frequentemente utiliza o verde e amarelo como símbolo de sua retórica nacionalista, parece esquecer que as sanções internacionais, em qualquer contexto, impactam diretamente a população de um país, comprometendo setores econômicos essenciais e deteriorando a vida de cidadãos comuns. Ao exaltar as sanções propostas por Trump, o parlamentar não apenas contradiz seus discursos patrióticos, mas também reforça a divisão ideológica, onde adversários políticos são tratados como inimigos a serem derrotados, mesmo que isso custe o bem-estar do Brasil como um todo.
O peso da bolha ideológica
O comportamento do deputado é indicativo de uma estratégia que busca agradar um eleitorado polarizado. Na ótica de Chrisóstomo e de muitos de seus apoiadores, a administração de Lula é vista como o único alvo de críticas, e qualquer medida que prejudique o governo petista é automaticamente validada, mesmo que, na prática, represente um dano generalizado ao país.
É importante lembrar que Chrisóstomo não representa apenas os que compartilham de sua ideologia, mas também uma parte significativa da população que sofre com as consequências de medidas políticas e econômicas. Ao assumir uma postura de “cheerleader” de Trump, o parlamentar reduz o Brasil a um campo de batalha ideológico, ignorando as complexidades e os desafios que a população enfrenta.
Sanha jurídica e censura prévia
Outro ponto que merece atenção é o ímpeto de Chrisóstomo em acionar a Justiça contra seus críticos. A liberdade de expressão, que ele tanto defende ao atacar iniciativas de checagem de fatos, parece ter limites quando aplicada aos que o questionam. Esse comportamento paradoxal levanta questões sérias sobre a consistência de suas convicções.
É evidente que o debate público precisa de responsabilidade e não deve ser pautado por desinformações. No entanto, judicializar críticas é um caminho perigoso, especialmente quando vem de um parlamentar que deveria zelar pela liberdade de expressão como um pilar da democracia. O caso da censura prévia contra Rondônia Dinâmica é um exemplo claro de como a tentativa de silenciamento pode ser contraproducente e prejudicial para a própria imagem pública.
Brasil acima de tudo?
É fundamental que Chrisóstomo, e outros que compartilham de sua visão, reflitam sobre as implicações de suas ações e discursos. O patriotismo não pode ser usado como bandeira enquanto se aplaudem sanções ao próprio país.
O Brasil, com sua diversidade e riqueza cultural, merece mais do que ser reduzido a um palco de disputa ideológica. Ser patriota é lutar pelo bem-estar de todos os cidadãos, independentemente de suas crenças políticas. Nesse sentido, a postura de Chrisóstomo deveria ser reavaliada, não apenas por seus críticos, mas também por seus apoiadores. Afinal, o Brasil é maior do que qualquer figura política, seja ela nacional ou estrangeira.
É fundamental que Chrisóstomo, e outros que compartilham de sua visão, reflitam sobre as implicações de suas ações e discursos. O patriotismo não pode ser usado como bandeira enquanto se aplaudem sanções ao próprio país.
O Brasil, com sua diversidade e riqueza cultural, merece mais do que ser reduzido a um palco de disputa ideológica. Ser patriota é lutar pelo bem-estar de todos os cidadãos, independentemente de suas crenças políticas. Nesse sentido, a postura de Chrisóstomo deveria ser reavaliada, não apenas por seus críticos, mas também por seus apoiadores. Afinal, o Brasil é maior do que qualquer figura política, seja ela nacional ou estrangeira.
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