Publicada em 25/01/2025 às 10h04
Porto Velho, RO – A sucessão política em Rondônia tem sido marcada por um fenômeno intrigante: desde que a reeleição foi permitida no Brasil em 1997, nenhum governador conseguiu emplacar seu sucessor direto. O primeiro exemplo claro desse fenômeno foi José Bianco, que, após assumir o governo em 1999, não conseguiu se reeleger, principalmente devido à sua decisão de demitir um grande contingente de funcionários públicos. Ivo Cassol, seu sucessor, reverteu o quadro ao recontratar esses trabalhadores e construiu uma imagem de gestor focado em obras viárias. Contudo, ao deixar o governo em 2010 para disputar o Senado, entregou o comando a João Cahúlla, que, mesmo com o apoio do padrinho político, não resistiu à ascensão de Confúcio Moura.
Confúcio, então prefeito de Ariquemes, venceu Cahúlla em ambos os turnos das eleições de 2010. Durante dois mandatos consecutivos, consolidou seu espaço, mas repetiu o movimento de Cassol ao deixar o governo para disputar o Senado em 2018. O vice-governador à época, Daniel Pereira (PSB), assumiu a gestão, mas não conseguiu sequer chegar ao segundo turno. Em seu lugar, a disputa ficou entre o Coronel Marcos Rocha, então no PSL e candidato de Jair Bolsonaro, e Expedito Júnior, ex-senador do PSDB. Rocha virou o jogo no segundo turno e tornou-se governador.
Agora, reeleito em 2022, Marcos Rocha tem a oportunidade de romper esse ciclo histórico. A pouco mais de um ano das eleições de 2026, especula-se sobre seu sucessor. Um dos nomes mais cotados é o de Sérgio Gonçalves, vice-governador e correligionário no União Brasil. Além de ser irmão de Júnior Gonçalves, chefe da Casa Civil, Sérgio já demonstrou protagonismo em momentos de crise, como nas tensões ocorridas no Orgulho do Madeira, atuando diretamente para acalmar os ânimos.
Historicamente, o apoio do governador é crucial, mas insuficiente para garantir a vitória. Confúcio Moura e Ivo Cassol, apesar de suas gestões bem avaliadas, não conseguiram transferir integralmente seu capital político. Para Rocha, esse desafio também passa por reforçar a imagem de sua administração, que já apresenta resultados relevantes. A atuação da Secretaria de Segurança, liderada por Felipe Bernardo Vital, tem sido competente no enfrentamento às facções criminosas, aumentando a percepção de segurança no estado.
Paralelamente, uma eventual candidatura de Rocha ao Senado também está em discussão. O histórico de gestão e as conquistas ao longo de oito anos de mandato podem fortalecer não apenas sua própria postulação, mas também a de seu sucessor. A união entre realizações concretas e apoio declarado será determinante para escrever um novo capítulo na política rondoniense.
A Emenda Constitucional nº 16, sancionada em 4 de junho de 1997, durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, mudou o panorama eleitoral brasileiro ao permitir a reeleição para cargos do Executivo. Essa medida foi crucial para possibilitar a continuidade administrativa em nível federal e estadual, mas, em Rondônia, os resultados práticos dessa reforma mostram-se limitados pela dificuldade em assegurar a sucessão política. Desde que FHC inaugurou a era das reeleições ao vencer em 1998, o estado enfrenta o paradoxo de governadores que são reeleitos, mas falham em transferir seu poder para aliados.
Ao que tudo indica, Rocha tem em mãos a chance de fazer história, mas o caminho é cheio de armadilhas. Alianças mal costuradas ou apostas em nomes sem densidade política podem perpetuar o ciclo de derrotas. Contudo, com planejamento estratégico e fidelidade ao eleitorado, a quebra do tabu está ao alcance do atual mandatário do Palácio Rio Madeira.
Mais do que romper com o histórico de insucessos, Rocha possui um leque de possibilidades que, bem articuladas, podem ampliar sua influência política e consolidar um legado. Seja apostando em nomes de confiança como Sérgio Gonçalves ou estabelecendo alianças que agreguem forças políticas e sociais, o governador pode transformar o desafio em oportunidade.
Caso opte por uma candidatura ao Senado, sua experiência administrativa e resultados concretos podem garantir não apenas uma vitória pessoal, mas também reforçar a trajetória do grupo político que representa.
O sucesso de Rocha dependerá de sua capacidade de unir resultados, articulações políticas e um discurso que dialogue diretamente com as demandas do povo rondoniense, criando assim um futuro promissor para si e para o estado.