Publicada em 06/01/2025 às 08h10
Desde a longínqua década de 1970, com o chamado “milagre econômico”, que o Brasil figura entre as dez maiores economias do mundo. Sendo que na primeira década deste século, ainda no primeiro governo Lula, nosso país chegou a figurar na sexta posição ultrapassando tradicionais potências econômicas como o Reino Unido, a Itália e o Canadá. Portanto, a mais de meio século temos um PIB de fazer inveja a inúmeras outras nações espalhadas pelo planeta Terra. Nossa produção de alimentos também é bastante envaidecedora. Só na safra de 2024/2025 vamos produzir nada mais nada menos do que 322 milhões de toneladas só de grãos. Isso sem falar em carnes, em que somos o maior produtor mundial de proteína animal, de frutas, verduras, legumes e pescado. Há bastante tempo que o país figura entre os três maiores produtores mundiais de alimentos.
Só que estes números excessivamente vangloriados param por aí. Esse gigantesco PIB está nas mãos de quem? Por que com tanta riqueza, o Brasil apresenta uma das sociedades mais pobres, violentas e embrutecidas do planeta? Se temos um PIB de Primeiro Mundo, por que não temos serviços públicos desenvolvidos? Produz-se neste nosso solo quase cinco vezes mais alimentos do que todo o conjunto de sua população necessita para viver. Assim, em contrapartida, temos ainda muitos milhões de pessoas famintas espalhadas pelos 5.570 municípios do país. São levas e mais levas de brasileiros pobres e miseráveis iguais aos de países como Sudão do Sul, Burundi e República Centro-Africana na África. O oitavo PIB de hoje sempre esteve nas mãos de uma elite branca e poderosa. É a síndrome da Casa Grande & Senzala tão bem explicada por Gilberto Freyre.
No Brasil, os pobres praticamente não participam da política e nem da vida financeira do país. A elite endinheirada simplesmente continuou com a escravidão. Por isso explora sem dó nem piedade quem está financeiramente abaixo dela. Aqui se tem uma das maiores concentrações de renda do planeta. Apesar de ser um dos países mais ricos do mundo, grande parte do povo brasileiro figura como maltrapilhos, desdentados, miseráveis e sem acesso à saúde e à educação de qualidade. A exploração começa com o valor que se paga de salário mínimo. No Brasil equivale a 240 euros, já em Portugal, por exemplo, são 820 euros. A política no Brasil sempre foi capitaneada pela elite, que coloca no poder só os ricos e poderosos. Pobre no Brasil é praticamente só eleitor e dificilmente chegará ao poder. E se chegar algum dia, pensará como rico ou como um pobre de direita.
No Brasil se inventou há pouco tempo, na política, uma lorota absurda: “o Brasil está dividido entre direita e esquerda”. De um lado Lula, o PT e as esquerdas. Do outro lado está Bolsonaro, a extrema-direita e de um modo geral todos os conservadores. Mentira! Conversa para boi dormir! Pura enganação! Inventaram isso só para esconder qual é a verdadeira divisão que sempre maculou este país: os poucos ricos contra multidões de pobres e miseráveis. É a velha Casa Grande & Senzala. O rico PIB do Brasil sempre esteve nas mãos dos poderosos, que geralmente usaram e ainda usam os pobres como seus escravos para alavancar suas riquezas. Neste país injusto e “que não é sério”, pobre quase sempre não vira militar, não vira magistrado e nem participa da política. Só se for como eleitor. E em troca nada recebe. Tem os piores serviços públicos e se contenta com esmolas como bolsa-família e outros. E quem contribui para isso? Quase todos nós...
*Foi Professor em Porto Velho.