Publicada em 23/01/2025 às 11h30
Orgulho do Madeira é um bairro localizado na zona Leste de Porto Velho. É considerado hoje por muita gente como um dos bairros mais violentos da cidade. Habitado em sua maioria por pessoas pobres, trabalhadoras, humildes e honestas, o lugar ultimamente passou a ser um reduto de traficantes de drogas e de bandidos de altíssima periculosidade vinculados ao crime organizado. O conjunto habitacional foi inaugurado em 2015 pelo governo do Estado e abriga aproximadamente umas 15 mil pessoas em apartamentos destinados, de início, a famílias de baixa renda. Praticamente sem assistência das autoridades estaduais e municipais, o bairro virou manchete nacional quando criminosos de várias facções ali instalados enfrentaram tropas da Polícia Militar como também a Força Nacional convocada para deter incêndios a ônibus e outros delitos.
O conjunto habitacional de Rondônia é a síntese do que acontece em todo o país: o Poder Público joga famílias pobres e miseráveis em instalações precárias, geralmente nas periferias distantes nas cidades, e depois as abandona à própria sorte. O vácuo social logo é preenchido pelo crime organizado, que encontra ali o caminho ideal para crescer e depois ameaçar o próprio Estado com ações criminosas. No Orgulho do Madeira não tem escolas de boa qualidade, não há creches em quantidade ideal, falta hospital público, não tem maternidade, não existe mobilidade urbana e, assim como a cidade que o abriga, também não tem água tratada nem saneamento básico. O Estado basicamente só chega lá atirando e matando, por intermédio da Polícia Militar. Mas tem uns doze mil eleitores, que a cada dois anos contribuem com o voto para alimentar seu próprio estado de miséria.
Por isso, o governador Marcos Rocha, o prefeito Léo Moraes, a Câmara de Vereadores da cidade, a Assembleia Legislativa do Estado, bem como outras instituições vinculadas ao Poder Judiciário e aos Ministérios Públicos deveriam enfrentar o crime organizado com inteligência, com astúcia e não só à bala: retomar o espaço perdido com muito trabalho, consciência, ajuda aos mais carentes e principalmente boa assistência social nessas localidades periféricas já dominadas pela contravenção. E não somente no Orgulho do Madeira, mas também em vários outros bairros carentes e abandonados de Porto Velho como o Nacional, o Morar Melhor, o São Sebastião, o Mariana, o Esperança da Comunidade, o Socialista, etc. O Estado e o Poder Público não podem deixar o crime organizado prosperar no meio de tanta gente boa e honesta. Essa omissão é uma violência.
E se nada for feito, de pouco adiantará qualquer ação repressiva neste momento. Em pouco tempo, o crime voltará a reinar na lacuna deixada pelo próprio Estado e pela negligência das autoridades. E foi sempre assim! Por isso que o Rio de Janeiro, e também muitas outras cidades brasileiras, vivem nessa situação de violência extrema. No Brasil infelizmente deixaram há tempos o narco-estado, as drogas e a bandidagem crescerem e se enraizarem impunemente no meio social. As autoridades constituídas têm que salvar Rondônia, Porto Velho e também o bairro Orgulho do Madeira, de quem se deve ter orgulho. Afinal, eles receberam tantos votos durante as eleições para quê? O Estado legalmente constituído e suas autoridades deviam só dar tiros de benfeitorias e de boas realizações para aquele povo sofrido. Abandoná-lo à própria sorte é entregar o seu destino ao tráfico e à bandidagem. Realidade: o Orgulho do Madeira não é só um caso de polícia.
*Foi Professor em Porto Velho.