Publicada em 18/01/2025 às 10h46
Desde o início do ano, o tráfego da única ligação terrestre de Manaus com os demais estados do país está limitado. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) publicou, no dia 8 deste mês, uma portaria que estabelece restrições a veículos de carga na BR-319 (Manaus a Porto Velho), com cerca de 900 km, limitando o trânsito de veículos acima de 45 toneladas até o próximo mês de junho.
Segundo a direção do DNIT, a medida visa preservar o trecho, cujo trânsito fica comprometido durante o período do Inverno Amazônico (chuvas diárias durante meses), que termina no próximo mês de maio. O trecho com limitação de tráfego vai desde o início da travessia do Rio Amazonas, no Careiro (km 1), até o entroncamento com a BR-230, próximo a Humaitá (km 679,3).
O teor do documento do DNIT determina que veículos de carga com PBTC (Peso Bruto Total Combinado) acima de 45 toneladas estão proibidos de circular no trecho, que se encontra em péssimas condições de tráfego, mesmo para veículos traçados. A importante BR, construída na década de 1970, não recebe manutenção adequada. O asfalto desapareceu em boa parte do trecho, incluindo o chamado “Meião”. Viajar por ela é uma aventura, independentemente de ser no Verão Amazônico (meses praticamente sem chuvas) ou no Inverno.
As autoridades governamentais não conseguem entender – ou fingem não entender – a precária situação da região, que depende da rodovia em condições de tráfego permanente, inclusive durante as chuvas. Isso porque boa parte do abastecimento de alimentos de Manaus, cidade com mais de 2 milhões de habitantes, é feito por meio da BR-319.
Outro problema que ficou mais evidente em 2024 ocorreu durante o longo período de estiagem, que secou vários rios, inclusive o mais importante deles, o Madeira, que liga Porto Velho a Manaus. Com o prolongado período de chuvas nas cabeceiras (a nascente do Madeira é o Rio Beni, nos Andes), a navegação foi suspensa à noite durante meses e, durante o dia, limitada a embarcações com cargas mínimas.
O tempo médio de navegação de Manaus a Porto Velho em condições normais pelo Rio Madeira é de 6 a 8 dias, e de Porto Velho a Manaus, de 5 a 6 dias. Durante a seca prolongada, o tempo mais que dobrou, além de limitar o transporte a cargas mínimas.
Isso causou problemas não apenas no abastecimento de alimentos para Manaus, que ficou dependente apenas do transporte aéreo, mas também na BR-319, cujas restrições se devem à precariedade de boa parte da via. O maior impacto foi no transporte de combustíveis (gasolina e diesel), que chegam a Rondônia e Acre via Rio Madeira oriundos da refinaria de Manaus. Somente o etanol vem do Mato Grosso.
A população ribeirinha, cerca de 15 mil pessoas, ficou sem água potável porque os poços secaram, além da falta de alimentos devido à navegabilidade comprometida. Foram momentos difíceis. A BR-319, essencial para os ribeirinhos, nunca apresenta boas condições de tráfego, nem mesmo no verão, devido à falta de preservação e manutenção. Além disso, sofre pressões permanentes de ONGs para que seja fechada, motivadas não pela proteção da Floresta Amazônica, mas sim pelos recursos minerais abundantes na região, como ouro, cassiterita, diamante e lítio.
A situação da BR-319 deve – e precisa – ser revista pelas autoridades. É necessário responsabilidade e comprometimento com as reais necessidades da população que vive na região, inclusive dos povos indígenas, frequentemente usados como escudo por “ecologistas”.
Há tempos, o senador Confúcio Moura (MDB-RO), em um momento de grande lucidez político-ecológica, sugeriu que o trecho da BR-319 entre Manaus e Porto Velho fosse transformado em uma Estrada-Parque, com a rodovia restaurada, preservada, fiscalizada e com tráfego pesado permitido apenas de segunda a sexta-feira. Aos sábados, domingos e feriados, seria aberta apenas para o turismo.
Em 2024, o maior problema foi a seca prolongada, que comprometeu não apenas a economia regional, mas também a vida da população. Este ano, prevê-se que enfrentaremos enchentes, um problema tão grave quanto a longa estiagem do ano anterior.
Os “ecologistas” das selvas de pedra, que vivem confortavelmente em gabinetes refrigerados nas grandes cidades, não estão preocupados com a vida dos povos indígenas, da população ribeirinha e muito menos com as cidades da Amazônia. O interesse é manter seu estilo de vida, enquanto elegem políticos que tratam a região como mero objeto de estimação de organizações internacionais.
É o Brazil...