Publicada em 06/02/2025 às 15h38
Alvo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a Faixa de Gaxa pode estar cheia de reservas de petróleo e gás, assim como outros países do Oriente Médio.
Um levantamento de 2019 da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) afirma que o território palestino ocupado (que corresponde à parte da Cisjordânia e à costa mediterrânea da Faixa de Gaza) está acima de reservatórios com quantidades significativas de combustíveis.
Os cálculos da UNCTAD são de que as reservas de petróleo gerariam cerca de US$ 71 bilhões à região, se fossem exploradas. O montante proveniente das reservas de gás natural é ainda maior: US$ 453 bilhões, totalizando US$ 524 bilhões não aproveitados.
A pesquisa conclui que, se essas reservas fossem exploradas pela região palestina, os valores seriam capazes de "promover a paz e a cooperação entre antigos beligerantes".
Especialistas ouvidos pelo g1, porém, acreditam que a relevância das reservas de petróleo em Gaza para o mundo ainda não é tão expressiva e as motivações de Trump são mais geopolíticas que financeiras.
Helder Queiroz, professor da UFRJ, considera que as reservas de petróleo em Gaza são "irrelevantes" e que o interesse de Trump na região é o "objetivo de expansão dos espaços de poder dos EUA".
Trump chamou a atenção do mundo inteiro nos últimos dias ao sugerir que o país deve assumir o controle e se tornar "dono" da Faixa de Gaza — região devastada por ações militares de Israel, que está em confronto com o grupo terrorista Hamas.
A declaração de Trump foi feita na noite desta terça-feira (4), ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e foi mal recebida por países árabes, europeus e até por aliados políticos dos EUA.
Mesmo com as reações negativas, Trump voltou a defender a ideia de que Israel deve "entregar Gaza aos EUA" para que o país possa construir "um dos empreendimentos mais espetaculares da Terra" nesta quinta-feira (6).
Uma das hipóteses ventiladas é de que Trump gostaria de transformar a região em um resort de praia internacional sob o controle dos EUA, uma ideia lançada por seu genro Jared Kushner há um ano. Mas há quem aponte as reservas de petróleo e gás como motivação oculta.
Segundo o estudo da UNCTAD, o estoque de petróleo na região palestina é estimado em 1,7 bilhões de barris. Elas não são tão expressivas quando comparadas, por exemplo, com a Venezuela, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo e tem estimativas que passam dos 300 bilhões de barris.
Já as reservas de gás natural são mais expressivas, de acordo com João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia.
A UNCTAD estima que esses reservatórios contenham 3,46 trilhões de m³. A Rússia, que possui as maiores reservas de gás natural do mundo, tem 47,2 trilhões de m³, de acordo com um relatório da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
O Oriente Médio responde por 39,8% do total de reservas de gás conhecidas, por isso há a expectativa de que a Faixa de Gaza também possua um volume importante desses recursos. No entanto, Marques destaca que os números são apenas estimativas e ainda não foi possível comprovar o potencial da região.
Para o pesquisador, as possíveis reservas energéticas da Faixa de Gaza podem estar no radar de Trump, "mas não parecem ser o objetivo principal quando ele fala sobre assumir a região".
"É muito mais uma das grandes demonstrações de agressividade do Trump, como recentemente ele fez com Panamá, com a Groenlândia e com as taxas de importação, como uma estratégia de negociação, usando o peso econômico e político dos EUA para conseguir vantagens para o país", conclui o fundador do Instituto Global Attitude Rodrigo Reis.