
Publicada em 22/03/2025 às 08h57
Porto Velho, RO – Na entrevista concedida ao programa A Voz do Povo, apresentado por Arimar Souza de Sá na Rádio Caiari, o prefeito de Porto Velho, Léo Moraes (Podemos), traçou um panorama amplo e crítico sobre a situação da cidade, colocando em destaque ações já executadas nos primeiros meses de mandato e, principalmente, as dificuldades herdadas da administração anterior. Ao longo de uma conversa extensa, o gestor não poupou críticas e foi enfático em suas declações.
Um dos pontos mais endossados por Léo Moraes foi a situação financeira da Prefeitura. Segundo ele, ao assumir a gestão, encontrou um rombo de R$ 800 milhões. Disse ainda que as emendas parlamentares eram executadas de maneira seletiva, beneficiando apenas aliados políticos. “A gente não faz execução de emenda parlamentar de dinheiro público por panelinha. Não faz uma execução seletiva de quem é amiguinho e quem não é amiguinho”, afirmou.
Na área da mobilidade urbana, o prefeito anunciou o cancelamento de 114 mil multas de trânsito que, segundo ele, foram aplicadas de forma irregular. As multas estariam associadas a radares instalados sem ampla divulgação, sem sinalização adequada e sem aferição técnica. “Agora, cobrar de forma ilegal, aí não. Ninguém vai ficar ludibriando, enganando a população”, disse. Ele também criticou a configuração de velocidade em vias importantes da cidade, como a Raimundo Cantuária, que teria sido limitada a 30 km/h. “Aquilo é uma via rápida, meu Deus.”
A saúde pública foi outro tema central da entrevista. Moraes declarou que 70 mil pessoas estavam sem cobertura de atendimento diário, e que havia casos de espera de até dois mil dias por uma cirurgia ginecológica, como histerectomia. Denunciou que, nos últimos anos, o município esteve sem mamógrafo e com aparelhos de raio-x quebrados. “Mulheres que precisavam realizar os seus exames preventivos, o seu diagnóstico, até o seu tratamento, não tinham mamógrafo”, relatou. Ele ainda apontou que 13 unidades básicas de saúde estavam em “completa ruína” e que, segundo dados de órgãos de controle, Porto Velho tinha a pior saúde entre todas as capitais do país.
A educação também foi alvo de críticas. O prefeito disse que Porto Velho é a única capital do Brasil sem escolas em tempo integral e que o IDEB do município se manteve no mesmo nível entre 2019 e 2025. Apesar disso, afirmou que 700 profissionais foram contratados para atuar como cuidadores e mediadores, visando melhorar a inclusão de alunos com deficiência nas escolas. “É o começo. O mundo perfeito não existe, mas a gente precisa começar de algum lugar”, pontuou.
Outro tema abordado foi a situação do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores Municipais (IPAM), classificado por Moraes como uma “bomba-relógio”. Ele disse que a autarquia tem um rombo superior a R$ 100 milhões e oferece uma assistência médica precária, sem triagem inicial para atendimento básico, o que ele considera uma distorção que encarece ainda mais o serviço.
Em tom mais duro, Léo Moraes também falou sobre os furtos de cabos e equipamentos públicos. Ao comentar os prejuízos causados pelo vandalismo e pelo descarte irregular de lixo nas ruas da capital, disparou: “Se virem aí algum vagabundo, delinquente, furtando fiação, chame a gente, denuncie a Polícia Militar, leve em contato direto para a Prefeitura para a gente dar uma sarraivada de cacete para que o pessoal possa aprender e entender que Porto Velho tem ordem e agora tem gestão.”
O prefeito afirmou que a gestão anterior entregou o pátio de máquinas da Prefeitura com mais de 80% dos equipamentos quebrados e sem insumos básicos, como cascalho e massa asfáltica. Segundo ele, isso dificultou o início de ações de recuperação das vias públicas, especialmente durante o chamado inverno amazônico. Ele também mencionou a criação de frentes de trabalho para tapa-buracos durante a noite, com o objetivo de evitar transtornos ao trânsito e refazer vias de forma mais eficiente.
Durante a participação no programa, dezenas de ouvintes enviaram mensagens ou participaram ao vivo. Muitos elogiaram o ritmo acelerado de ações da nova gestão, mas também houve cobranças sobre problemas ainda não resolvidos, como ruas esburacadas, falta de médicos especialistas, alagamentos em bairros periféricos e demandas de infraestrutura em distritos e comunidades ribeirinhas.
Ao comentar a realidade do município, o prefeito afirmou que Porto Velho é uma cidade continental, com distritos localizados a até 18 horas de barco da sede urbana, e que apenas 4% dos R$ 2,9 bilhões do orçamento anual são livres para investimento, em razão de déficits acumulados e ineficiência arrecadatória.
Léo Moraes também destacou a retomada de equipamentos culturais, como o funcionamento gratuito do Museu da Estrada de Ferro e do bondinho Litorina, além da iluminação da ponte sobre o rio Madeira, que, segundo ele, ficou mais de oito anos às escuras. Disse ainda que medidas como a retirada da faixa exclusiva da Sete de Setembro revitalizaram o comércio na região central e que está em curso um plano de reorganização da cidade, incluindo ações de iluminação com energia solar, inclusão social e capacitação de servidores.
Ao final da entrevista, o prefeito se mostrou sensível às mensagens recebidas e reiterou que sua prioridade é “colocar ordem” na cidade. “A gente precisa fazer muito mais e muito melhor. Quando tem crítica construtiva, ela é fundamental. A destrutiva a gente isola e o resto a gente abastece. Faz o combustível virar metanol e a gente segue adiante.”
A entrevista expôs não só os desafios de sua administração, mas também o estilo de gestão adotado por Léo Moraes: direto, combativo e disposto a assumir o protagonismo do Executivo municipal. Num tom firme, ele reafirmou compromissos e prometeu uma transformação visível em Porto Velho — com ou sem aplausos.