
Publicada em 04/03/2025 às 09h50
O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” do cineasta Walter Salles ganhou o Oscar de melhor filme internacional na edição de 2025. Mas quem de fato faturou com a propaganda e a disseminação das ideias contidas na obra cinematográfica foi o presidente Lula e o PT, Partido dos Trabalhadores. A obra do cineasta brasileiro estrelada por Fernanda Torres no papel principal e por Selton Mello no papel de Rubens Paiva teve três indicações para a estatueta dourada e mostra a crueldade que a ditadura militar do Brasil fazia com os seus oposicionistas. Entre os anos de 1964 e 1985 nosso país viveu dias de chumbo. A infame e assassina ditadura militar que se instalou no Brasil entre os anos de 1964 e 1985 cassou mandatos, perseguiu, torturou, exilou e assassinou vários cidadãos que ousaram lhe fazer oposição. Salles mostrou ao mundo a crueldade, que ficou impune.
Mesmo fazendo atualmente no Brasil um governo “meia-boca”, Lula e o PT faturaram alto com o filme. Isso porque a esquerda brasileira sempre denunciou as perseguições que aquele governo ditatorial impôs a todos os que lhe faziam oposição. Lula é oriundo dos sindicatos do ABC paulista e foi lá que fundou, no início da década de 1980, o PT, partido que já acumulou quase cinco mandatos só na Presidência da República. Uma ironia que o Oscar, uma instituição dos EUA, tenha propagado, mais de meio século depois, os horrores e o terror praticados por um governo de terceiro mundo que eles, os norte-americanos, apoiavam. Mais do que isso: Walter Salles é um exímio cineasta oriundo da elite rica que sempre teve acesso a quase toda a riqueza do país. É um dos herdeiros do Banco Itaú/Unibanco, um dos maiores conglomerados financeiros daqui.
Uma piada que corre solta nas redes sociais diz que “metade dos brasileiros deve a Walter Salles o primeiro Oscar ganho pelo cinema brasileiro. Já a outra metade deve a Walter Salles por causa do Itaú/Unibanco”. O filme é sensacional e merece ser visto tanto por esquerdistas como por direitistas e reacionários, pois “quem conhece a História jamais vai repeti-la”. O então deputado federal Rubens Paiva, já cassado na época pela tosca e sórdida ditadura militar, foi convidado a prestar depoimento no temido DOI-CODI do Rio de Janeiro. Torturado e morto barbaramente nas dependências daquele maldito órgão, o jovem deputado nunca mais voltou para o seio de sua família. Somente 25 anos depois, o Estado deu um atestado de óbito mostrando a realidade. A película mostra a saga histórica de sua brava esposa, Eunice Paiva, para criar todos os cinco filhos do casal.
Um desses filhos é o escritor Marcelo Rubens Paiva, que escreveu o livro “Ainda Estou Aqui” e que deu origem a esse filme ganhador do Oscar. Walter Salles dedicou a estatueta à garra e à tenacidade de Eunice Paiva e também as duas outras mulheres que a representaram no filme: Fernanda Torres e sua mãe Fernanda Montenegro. Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro e os bolsonaristas estavam, claro, torcendo contra a indicação desse Oscar. Mas quebraram a cara. Aliás, a obra pode acelerar os processos que ainda tramitam na Justiça do Brasil para punir exemplarmente os assassinos de Rubens Paiva. Esse filme só se equipara à fita argentina “A História Oficial” de 1986, que ganhou um Oscar e mostra em detalhes a guerra suja que nossos hermanos também fizeram contra o seu povo. Raúl Alfonsín faturou alto, assim como Lula e o PT. A arte, o cinema e o Oscar têm que incomodar mesmo os fascistas. Ditadura por aqui nunca mais!
*Foi Professor em Porto Velho.