Publicada em 26/04/2025 às 09h07
Porto Velho, RO – Conhecido ao longo de sua trajetória pública pelo temperamento sereno, voz baixa e pela habilidade de transitar entre espectros ideológicos sem se envolver em embates, o senador Confúcio Moura (MDB-RO) deu sinais claros de que essa postura camaleônica pode estar ficando para trás. A poucos meses do início do período eleitoral de 2026, o ex-governador de Rondônia intensificou seu discurso, agora abertamente entusiástico em defesa do governo Lula, numa guinada que chama a atenção de modo geral.
Ao longo dos anos, seja como prefeito de Ariquemes, governador de Rondônia ou senador da República, Confúcio cultivou a imagem de político conciliador, fugindo de confrontos e evitando tomar posições que pudessem desagradar setores variados do eleitorado. No início da gestão Lula III, por exemplo, manteve distância cautelosa: sequer fazia referências diretas ao presidente petista, muito menos emitia elogios.
Entretanto, a recente participação do senador na entrega de 304 unidades habitacionais do Residencial Porto Fino, em Porto Velho, marcou um ponto de inflexão, embora, aos poucos, já tenha declarado seu lado de foram escancarada. Ao lado do ministro das Cidades, Jader Filho, e do prefeito da capital, Léo Moraes (Podemos), Confúcio surpreendeu ao rasgar elogios ao governo federal. “É muita coisa. Vocês precisam saber a verdade. Precisam saber realmente o que está sendo feito em investimento em Rondônia. Valumes de recursos como nunca houve antes”, declarou.
A mudança de comportamento é ainda mais evidente quando, no mesmo discurso, Confúcio exaltou Lula pela atenção dispensada ao estado. “Porque realmente ele não tem virado as costas para o povo rondoniense. Ainda bem que o presidente não guarda mágoas”, afirmou. Para o parlamentar, a postura de Lula representa um “governo popular, voltado para resolver as necessidades essenciais da população”.
A transformação de Confúcio Moura, de moderado silencioso a defensor vibrante, também se manifesta em outros registros recentes. Em seu blog pessoal, o senador compartilhou episódios de campanhas passadas, revelando bastidores antes omitidos, como o caso de agressão a um suposto fotógrafo-amador durante sua primeira disputa ao governo de Rondônia. No relato, Moura descreveu com certo tom de naturalidade a cena em que aliados agrediram e destruíram a máquina do homem que registrava um café da manhã organizado por sua equipe. “Deu um apuro daqueles. O cara desconversou, gaguejou, levou uns tapas e teve a máquina apreendida e quebrada”, escreveu, sem apresentar reprovação explícita à violência.
Esse movimento de exposição de episódios mais ásperos, aliado ao novo vigor discursivo, reforça que a candura atribuída ao político ao longo dos anos cedeu espaço a uma faceta mais combativa, especialmente agora, em clima pré-eleitoral.
A trajetória de Moura, até aqui, foi marcada pela invencibilidade nas urnas: eleito deputado federal em 1994, reeleito em 1998 e 2002; prefeito de Ariquemes em 2004 e 2008; governador de Rondônia em 2010 e reconduzido em 2014; eleito senador em 2018. Seu mandato na Câmara Alta vai até 2026. Assim, seu futuro político se apresenta em três caminhos: disputar novamente o governo estadual, buscar a reeleição ao Senado ou encerrar a carreira pública.
Embora ainda não tenha oficializado seus planos, a postura atual afasta qualquer percepção de aposentadoria política. E, se antes Confúcio Moura era visto como um ator centrista em um estado majoritariamente conservador, agora terá de enfrentar um novo desafio: sustentar seu vínculo aberto com a esquerda sem perder o capital eleitoral historicamente construído.
Seus adversários, portanto, não podem considerá-lo carta fora do baralho. Ainda que progressista assumido, Rondônia nunca o tratou como político de esquerda. A grande incógnita é se, em tempos de polarização explícita, o eleitorado manterá essa distinção — ou se, desta vez, a defesa enfática de Lula terá custo nas urnas.


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