Publicada em 06/08/2025 às 10h45
Porto Velho, RO – A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Porto Velho, marcada para a próxima sexta-feira, 8 de agosto, é um movimento de alto valor simbólico e estratégico. Trata-se da primeira passagem do líder petista por Rondônia neste terceiro mandato — um estado onde a esquerda encontra, há anos, terreno árido. A presença de Lula é carregada de anúncios importantes: ponte binacional com a Bolívia, expansão do programa Luz para Todos, investimentos em educação, saúde e regularização fundiária. É, na prática, a tentativa de usar obras e políticas públicas como antídoto à rejeição histórica que o petismo enfrenta na região.
Mas será suficiente?
A verdade é que Rondônia ainda resiste — e resiste com força. O bolsonarismo segue hegemônico no estado, onde o PT mal consegue respirar fora dos guetos sindicais e universitários. A única parlamentar da sigla na Assembleia Legislativa, Cláudia de Jesus, tem atuação discreta e baixo alcance popular. E, nas ruas, é visível o antagonismo que parte expressiva da população nutre contra Lula e tudo que ele representa.
Uma prova concreta dessa resistência institucional veio nesta semana, justamente às vésperas da chegada do presidente. A Assembleia Legislativa de Rondônia aprovou um voto de repúdio ao presidente Lula, por iniciativa do deputado estadual Delegado Camargo. No requerimento, o parlamentar criticou cortes orçamentários na saúde e educação, denunciou supostas fraudes no INSS e chegou a afirmar que o governo Lula “é guiado pela ideologia socialista” e “coloca em risco a imagem do Brasil no cenário internacional”. Para Camargo, a aprovação do voto é um “recado claro de que Rondônia não compactua com medidas e declarações que prejudiquem o país”.
Mesmo com a recente crise deflagrada pelo “tarifaço” imposto por Donald Trump — medida que penaliza diretamente os estados exportadores do agronegócio, como Rondônia — a narrativa dominante entre bolsonaristas locais tenta deslocar a culpa para o próprio governo federal. Enquanto isso, aliados de Lula apostam que o episódio expôs o erro estratégico do alinhamento cego com a extrema-direita internacional, abrindo espaço para reconstruir pontes com setores mais pragmáticos do eleitorado.
A vinda de Lula também carrega um subtexto eleitoral. O presidente é candidato à reeleição em 2026, e sabe que precisa melhorar sua performance em regiões hostis se quiser vencer sem sobressaltos. Rondônia, nesse cenário, não está no centro da estratégia, mas pode representar um termômetro importante: se conseguir reverter parte da rejeição aqui, isso poderá se repetir em outros estados da Amazônia Legal.
Ainda assim, o desafio é imenso. A força bolsonarista no estado continua sendo alimentada por redes sociais, igrejas evangélicas e uma elite política que se equilibra entre o discurso antipetista e a dependência dos repasses federais. A simples presença de Lula, mesmo ladeado por ministros e com discursos afinados, não será capaz de desmontar essa estrutura — ao menos não sem uma base política local forte, articulada e coerente.
Nesse aspecto, nomes como o senador Confúcio Moura (MDB) ganham destaque. Aliado de Lula e respeitado localmente, Confúcio pode ser uma ponte entre o governo federal e um eleitorado mais conservador, que se mostra insatisfeito com os extremos. Mas ainda é pouco. Se quiser fincar bandeira em Rondônia, o PT terá que sair da zona de conforto dos eventos fechados, ir às ruas, disputar corações e mentes com trabalho de base e propostas claras.
Lula vem com a esperança de plantar algo. Mas Rondônia, por enquanto, continua um terreno infértil para a esquerda. Só o tempo — e os resultados concretos — dirão se a semente germinará.



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