Publicada em 19/09/2025 às 10h04
O governo argentino realizou nesta quinta-feira (18) uma nova intervenção no câmbio para conter a alta do dólar frente ao peso, com a venda de US$ 379 milhões em reservas pelo Banco Central.
Somados aos US$ 53 milhões negociados na véspera, o total de reservas vendidas pelo BC alcançou US$ 432 milhões em dois dias. A pressão sobre o peso cresceu à medida que investidores correram para dolarizar suas carteiras, diante da crise do governo de Javier Milei. (leia mais abaixo)
Desde a adoção do regime flutuante, em abril, o BC não realizava intervenção no câmbio. O movimento derrubou os ativos de risco da Argentina nesta quinta: o índice acionário S&P Merval fechou em queda de 4,93%, enquanto os títulos soberanos recuaram, em média, 3,8%.
A turbulência no mercado também levou o índice de risco do país — indicador da confiança dos investidores — a superar 1.400 pontos-base durante o pregão, atingindo o nível mais alto em um ano.
No início do mês, o governo argentino já havia anunciado que faria intervenções no câmbio. A medida ocorre em meio à queda expressiva do peso frente ao dólar desde a adoção do regime flutuante. Segundo o governo, o Tesouro Nacional passará a atuar diretamente na compra e venda de dólares para garantir que haja oferta suficiente e evitar movimentos bruscos de desvalorização.
A forte intervenção do BC manteve a taxa de câmbio oficial no mercado interbancário estável em 1.474,5 pesos por dólar. Nesta quinta-feira, a autoridade monetária passou a divulgar os limites de sua banda diária de negociação, estabelecendo 1.474,83 para vendas e 948,76 para compras.
O teto da banda cambial, mecanismo criado para limitar a valorização do dólar no mercado argentino, é corrigido diariamente com um acréscimo de 1% ao mês desde o fim das restrições cambiais promovidas pelo governo. Ontem, esse limite foi estabelecido em 1.474,40 pesos.
Pelo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), sempre que a cotação no atacado ultrapassa esse valor, o Banco Central está autorizado a intervir com venda de reservas para conter a alta.
A decisão de Milei de voltar a intervir no câmbio surpreendeu o mercado por vir de um governo de agenda ultraliberal. Em abril, por exemplo, o próprio governo havia comemorado o fim do “cepo” — sistema que restringia a compra de dólares pelos argentinos para tentar controlar o valor do peso.
Por que o governo Milei voltou a intervir no câmbio?
1. Queda do peso argentino e risco de inflação
Embora tenha conseguido reduzir a inflação que ultrapassava 200% ao ano, por meio de um plano severo de cortes nos gastos públicos, o governo Milei ainda não conseguiu gerar plena confiança na economia nem atrair um bom volume de investimentos estrangeiros.
O presidente ainda enfrenta dificuldades para acumular reservas em dólar, essenciais para garantir o pagamento das dívidas argentinas e reduzir a vulnerabilidade do peso. Em última instância, essas reservas facilitariam até a prometida transição para a dolarização da economia.
Na tentativa de recuperar a confiança dos investidores, Milei tem dado passos calculados.
Quando extinguiu o “cepo”, em abril, o câmbio passou a flutuar de forma mais livre. Por um lado, a medida agradou ao mercado por seu viés liberal. Por outro, enfraqueceu ainda mais o peso, já que a demanda por dólares é maior.



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