Montezuma Cruz/Secom
Publicada em 10/06/2021 às 12h30
Vida, carreira militar e política do ex-governador de Rondônia, Jorge Teixeira de Oliveira, são marcadas pela ousadia desse gaúcho, cujo centenário de nascimento ocorreu dia 1º de junho. Militar formado pela Academia das Agulhas Negras e criador do Centro de Instruções de Guerra na Selva em Manaus, entrou para a política lá mesmo na capital amazonense, onde exerceu o cargo de prefeito nomeado, e depois, também nomeado, governador de Rondônia. Lá e cá, construiu obras monumentais e procurou levar o Governo às populações do interior, constituídas por levas de colonos procedentes de estados das regiões sul e sudeste do Brasil.
Se a Marcha para o Oeste preconizada pelo ex-presidente Getúlio Vargas, em 1945, ocorreu vagarosamente, visando a ocupação de futuras novas fronteiras agrícolas no País, na administração de Teixeirão (como ficou conhecido em Manaus/AM) isso se deu rapidamente. Ao iniciar seu Governo, ele constatava que famílias inteiras desembarcavam de longas viagens de ônibus e sobre caminhões paus-de-arara, que imitavam aqueles dos anos 1950 que levavam nordestinos para trabalhar em obras nas capitais de São Paulo e Rio Janeiro.
Nascido em General Câmara (RS) em 1º de junho de 1921 e falecido em 28 de janeiro de 1987, no Rio de Janeiro, onde seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista, Teixeirão já está em vários livros de história, e agora também faz parte de uma revista que será lançada no dia 15 de junho, pelo professor e mestre em história Célio Leandro da Silva, 46 anos. “Ele foi brilhante e honrado em todas as patentes, de soldado a coronel”, elogia Silva.
Entre outros historiadores e pesquisadores da história do extinto Território Federal de Rondônia, no centenário do ex-governador (último do Território e primeiro do novo Estado), o professor Célio também lembra o desembarque de Teixeirão no antigo Aeroporto Belmont e a reação política local, pelo fato de trazer praticamente nomeados seus principais secretários de Governo.
“Teixeirão foi criticado por chegar a Porto Velho trazendo seu staff praticamente todo de Manaus, mas foram pessoas em quem ele confiava, e nesse período também o Chiquilito se tornou secretário de Administração”, comenta Célio Leandro, referindo-se a Francisco Chiquilito Erse.
A carreira militar de Teixeirão foi brilhante. Ele tornou-se aspirante do Exército em dezembro de 1947, sendo promovido a segundo-tenente em junho do ano seguinte. Depois, chegou a primeiro-tenente em junho de 1950, capitão em dezembro de 1952, major em agosto de 1960 e tenente-coronel em dezembro de 1966, segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O professor Silva também consultou o ex-coordenador do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no período territorial, engenheiro agrônomo, ex-prefeito, ex-deputado federal e ex-vice-governador, Assis Canuto; o repórter fotográfico e ex-assessor, Rosinaldo Machado (que chegou a Rondônia com o ex-governador); o economista, Ruy Teixeira (filho de Teixeirão e dona Aida Fibiger Teixeira); o jornalista, Lúcio Albuquerque; a historiadora, Yêdda Borzacov; o historiador, Alex Palitot, entre outros.
“Entre as obras do ex-governador mais conhecidas pela população, temos a Hidrelétrica de Samuel [a primeira], no Rio Jamari, e o Hospital de Base Dr. Ary Tupinambá Pena Pinheiro, no bairro Industrial, em Porto Velho”.
Foi Teixeirão quem também construiu o porto do rio Madeira; criou o Banco do Estado de Rondônia (Beron) e a Companhia de Mineração de Rondônia (CMR); e reinaugurou (entre as estações de Porto Velho e Santo Antônio do Rio Madeira) um trecho de sete quilômetros da extinta Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, com finalidades turísticas. Nos fins de semana, crianças e adultos faziam festas familiares no passeio à beira do rio.
Por um período, para tratamento médico, Teixeirão designou como governadora interina a sua secretária de planejamento, Janilene Melo, primeira e única mulher a assumir o Governo. Ela ficou 42 dias no cargo.
Antes de chegar a Rondônia para elevar o Território a Estado, Teixeirão foi nomeado prefeito de Manaus em 1974, cargo em que permaneceu de janeiro de 1975 até março de 1979. Antes, porém, em 1966, ele criou o Centro de Instrução em Guerra na Selva (CIGS), do Exército Brasileiro, e dirigiu em 1971 o Colégio Militar, na capital amazonense.
Para criar o CIGS, Teixeirão fez cursos na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, na Escola de Comando e Estado-Maior e na Escola de Educação Física, e se especializou em guerra na selva na Escola das Américas, nos Estados Unidos da América (EUA). O CIGS esteve sob o comando dele até 1971, período sob o Governo do presidente, general Emílio Garrastazu Médici, no sul do Estado do Amazonas. “Ao deixar a direção do Colégio Militar de Manaus, em 1973, ele passou para a reserva, com a patente de coronel do Exército”, lembra o professor Silva.
NA HISTÓRIA AMAZONENSE
Caminhando pelos painéis de fotos do Mausoléu, Silva aponta algumas, nas quais o então prefeito de Manaus inaugura a ponte do bairro Educandos, com a presença do então governador Enoch Reis.
Teixeirão, desta vez nomeado pelo presidente general Ernesto Geisel, assumiu a gestão municipal em Manaus no período de 1974 a 1979. Construiu avenidas, fez o zoológico, inaugurou pontes e escolas. Deixou seu nome na história amazonense. No cargo de prefeito, ele inovou a política, tornando-se conhecido por rasgar cartões de visita de políticos que lhe pediam empregos. “Não se deve misturar uma coisa com a outra”, ele justificava.
Lembra o professor Silva, que ao terminar o mandato, em 1979, Teixeirão, por indicação do coronel e ministro Mário David Andreazza, foi nomeado pelo presidente João Figueiredo (1979-1985) para o Governo do Território Federal de Rondônia, pela legenda do Partido Democrático Social (PDS). “Figueiredo confiou-lhe o Governo do extinto Território, mas estabeleceu a missão de elevar Rondônia à condição de Estado, e assim ele veio para cá, avançando em obras rodoviárias e abrindo novos municípios”, assinala o professor.
Entre as ousadias do ex-governador, o professor menciona sua “luta pelo convencimento para a pavimentação da rodovia BR-364”, que na sequência da original, BR-29, era só barro e poeira, conforme o período do ano.
“Com o ombro amigo do ministro Andreazza, ele pediu em 1979, ao fotógrafo Machado, que viajasse de Vilhena a Porto Velho (702 quilômetros) e fizesse um álbum de fotos mostrando a situação precária do tráfego de veículos; em seguida foi ao gabinete do presidente João Figueiredo e obteve autorização para o asfaltamento”, conta.
VÔLEI E BASQUETE
Descreve também na revista o Teixeirão desportista, aquele que apoiava sobremaneira competições de basquetebol e voleibol. “Às sextas-feiras ele organizava jogos entre times da capital e do interior”.
O ex-governador construiu o Ginásio de Esportes Cláudio Coutinho, no bairro Caiari, em Porto Velho. Historicamente, em sua quadra aconteceu a solenidade de promulgação da primeira Constituição Estadual, em 6 de agosto de 1983, e o lugar foi escolhido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para apurações eleitorais.
Teixeirão foi apoiado diretamente pela esposa, dona Aida Teixeira, na criação de escolas na capital e no interior do Estado, e da célebre alteração do projeto do presídio regional de Ji-Paraná, que deixou de sê-lo para dar lugar a um hospital.
UM ADEUS FORA DO SCRIPT
Teixeirão apoiava o então ministro Mário Andreazza no colégio eleitoral em 1985, que decidiria pela vitória de Tancredo Neves contra Paulo Maluf para a presidência da República. Andreazza fora descartado, junto com outros candidatos.
A despedida do ex-governador não ocorreu da maneira como se esperava. Para muitos foi ingratidão em alto grau, já que Teixeirão cumprira a promessa feita ao desembarcar em Porto Velho.
É forte o legado deixado pelo ex- governador e pode ser visto em todo Estado. Teixerão foi responsável pela criação de vários municípios em junho de 1981: Colorado do Oeste, Espigão D’Oeste, Presidente Médici, Ouro Preto do Oeste, Jaru e Costa Marques.
A importância do trabalho e o carisma de Teixeirão se perpetua com a imortalização de seu nome. O município rondoniense, Governador Jorge Teixeira; inspirou outro, Teixeirópolis; avenida principal da capital e o Aeroporto Internacional de Porto Velho, levam o nome. Um militar que trouxe um novo tempo, tornando Rondônia a “23ª estrela no azul da União”, como ele se orgulhava em dizer.
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