G1
Publicada em 09/07/2021 às 14h46
O ministro da Defesa da Colômbia, Diego Molano, afirma que o país investiga informações da Interpol de que os colombianos presos no Haiti, por suspeita de terem participado do assassinato do presidente Jovenel Moise, são reservistas do Exército colombiano.
"Inicialmente, as informações indicam que são cidadãos colombianos, membros da reserva do Exército nacional", afirmou Molano, que ordenou que a Polícia Nacional e o Exército colaborem com as investigações.
Jorge Vargas, diretor-geral da Polícia Nacional colombiana, indicou que 6 suspeitos são ex-militares colombianos — 2 sargentos aposentados e 4 ex-soldados — e 2 deles morreram em confronto, segundo informações preliminares.
"Que a justiça do Haiti proceda com todo o rigor e contundência", afirmou a vice-presidente da Colômbia, Marta Lucía Ramírez. "Porque a Colômbia não pode de forma alguma chegar às manchetes da imprensa internacional pelo nome de criminosos e pistoleiros".
A polícia haitiana divulgou na quinta-feira (8) que ao menos 28 pessoas participaram do crime: 26 colombianos e dois americanos de origem haitiana.
O chefe do diretório nacional de inteligência da Colômbia e o diretor de inteligência da Polícia Nacional viajarão ao Haiti com a Interpol para ajudar nas investigações, anunciou o presidente colombiano, Ivan Duque, nesta sexta-feira (9).
"Oferecemos toda a ajuda possível para descobrir a verdade sobre os perpetradores materiais e intelectuais do assassinato", afirmou Duque após falar ao telefone com o primeiro-ministro interino do Haiti, Claude Joseph.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que os Estados Unidos vão enviar policiais federais do FBI e oficiais do DHS (Departamento de Segurança Interna) ao Haiti "o mais rápido possível".
Investigação do crime
Até o momento, 17 suspeitos foram detidos — 15 colombianos e 2 americanos —, 3 morreram em confronto e 8 estão foragidos. Parte do grupo chegou a invadir a embaixada de Taiwan ao tentar fugir.
O diretor-geral da Polícia Nacional haitiana, Leon Charles, exibiu os detidos em uma entrevista coletiva, além de passaportes colombianos, metralhadoras, machetes, walkie-talkies e materiais como alicates e martelos, que foram apreendidos.
"Estrangeiros vieram ao nosso país para matar o presidente", afirmou Charles, que prometeu intensificar a busca "para capturar os outros oito mercenários".
Jovenel Moise foi assassinados a tiros em sua casa na madrugada de quarta-feira (7). A primeira-dama, Martine Moise, foi baleada e hospitalizada.
Gravemente ferida, ela foi transferida para Miami, nos Estados Unidos. Os três filhos do casal, Jomarlie, Jovenel Jr. e Joverlein, estão em um "local seguro", segundo as autoridades.
Moise levou 12 tiros e foi encontrado deitado de costas, coberto de sangue. O escritório e o quarto do presidente foram saqueados. Ainda não se sabe quem foi o mandante nem o motivação do crime.
O Ministério Público de Porto Príncipe ordenou que os responsáveis pela segurança de Moise sejam chamados para depor.
"Se há responsáveis pela segurança do presidente, onde estavam? O que foi feito para evitar este assassinato do presidente?", indagou Me Bed-Ford Claude, comissário do governo de Porto Príncipe e encarregado de iniciar os procedimentos judiciais.
Um vídeo divulgado após o crime mostra homens fortemente armados nas ruas, vestidos de preto, fingindo ser agentes de combate às drogas dos Estados Unidos. Eles gritavam: "Operações da DEA [departamento anti-drogas americano], todos fiquem abaixados".
Segundo a Reuters, parte dos suspeitos colombianos entrou no Haiti pela República Dominicana há mais de um mês. Eles pegaram um voo da Avianca em 4 de junho para Punta Cana, na República Dominicana, que divide a ilha de Hispaniola com o Haiti. Dois dias depois, eles cruzaram a fronteira.
Invasão à embaixada de Taiwan
O governo de Taiwan revelou nesta sexta-feira (9) que 11 suspeitos de participar do crime invadiram o perímetro de sua embaixada em Porto Príncipe, que fica próxima à residência presidencial haitiana, antes de serem detidos pela polícia na quarta-feira (7).
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, Joanne Ou, disse que o local foi fechado "por razões de segurança" após o assassinato e a segurança da embaixada descobriu que um grupo de homens armados havia entrado no pátio.
"A pedido do governo haitiano — e para ajudar na detenção dos suspeitos —, a embaixada deu permissão à polícia haitiana para entrar no perímetro da embaixada", afirmou a porta-voz.
O Haiti é um dos 15 países do mundo que concedem reconhecimento diplomático a Taiwan, não à República Popular da China. A China considera Taiwan parte de seu território, embora a ilha tenha autonomia política e administrativa desde 1949.
Jovenel Moise
País mais pobre das Américas, o Haiti vive uma grave crise política, econômica e social, com aumento da violência e da pobreza e um governo incapaz de combater a pandemia.
Jovenel Moise tinha dissolvido o Parlamento, governava por decreto há mais de um ano, após o país não conseguir realizar eleições legislativas, e queria promover uma polêmica reforma constitucional.
Desde que assumiu o cargo, em 2017, ele enfrentou protestos em massa contra seu governo —primeiro por alegações de corrupção e por sua gestão da economia, depois por seu crescente controle do poder.
Em fevereiro, autoridades do país disseram ter frustrado uma "tentativa de golpe" de Estado contra o presidente, que também seria alvo de um atentado malsucedido.
Na quinta, o primeiro-ministro interino do Haiti, Claude Joseph, assumiu provisoriamente o comando do país. Foi o político quem anunciou o assassinato do presidente.
Horas após o crime, Joseph decretou estado de sítio por 15 dias, sob a justificativa de reforçar o poder do Executivo e investigar a morte de Moise e os objetivos do assassinato.
Pobreza extrema
O Haiti é a nação mais pobre das Américas e tem um longo histórico de ditaduras e golpes de Estado. Nos últimos meses, enfrentava uma crescente crise política e humanitária, com escassez de alimentos e violência nas ruas.
O PIB per capita do país é de US$ 1,6 mil por ano (cerca de R$ 8,5 mil), e cerca de 60% da população vive com menos de US$ 2 por dia (pouco mais de R$ 10).
O Haiti tem 11,3 milhões de habitantes, faz fronteira com a República Dominicana na ilha Hispaniola, no Caribe, e tem um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo: 0,51.
Colonizado em 1492, após a chegada de Cristóvão Colombo à América, o Haiti foi o primeiro país do continente a conquistar a sua independência e a primeira república a ser liderada por negros, quando derrubou o domínio francês no começo do século XIX.
O país já foi invadido e sofreu intervenção dos EUA no século XX e tem um longo histórico de ditadores, como François "Papa Doc" Duvalier e seu filho, Jean-Claude "Baby Doc". A primeira eleição livre do país ocorreu em 1990, mas Jean-Bertrand Aristide foi deposto por um golpe no ano seguinte.
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