G1
Publicada em 23/08/2021 às 15h58
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a Polícia Federal nesta segunda-feira (23) a tomar novos depoimentos de eventuais testemunhas no inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na autonomia da instituição para blindar aliados e familiares de investigações.
O inquérito foi aberto pelo STF em abril do ano passado, a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) e tem como base acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Segundo Moro, Bolsonaro tentou interferir em investigações da PF ao cobrar a troca do chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro e ao exonerar o então diretor-geral da corporação Maurício Valeixo, indicado por Moro. Bolsonaro nega ter tentado interferir na corporação.
Em ofício enviado ao STF na última sexta-feira (20), o delegado da Polícia Federal Felipe Alcântara Leal informou que os investigadores pretendem ouvir novas testemunhas no caso.
O documento apresentado pela PF não deixa expresso quem será ouvido. O delegado perguntou a Moraes, relator do inquérito, se a Procuradoria-Geral da República e a defesa do ex-juiz Sergio Moro farão questionamentos nesses novos depoimentos. Segundo o ministro, a PF não precisa notificar a PGR e a defesa de Moro para que façam perguntas.
"Diante do exposto, autorizo o Delegado de Polícia Federal a proceder às oitivas de eventuais testemunhas sem a necessidade de intimação nos termos antes determinados, inclusive dos advogados dos investigados", escreveu Moraes.
A TV Globo apurou que, com a decisão, a PF deve começar agora a intimar as testemunhas.
No mês passado, Moraes determinou à PF que retomasse as investigações do inquérito (vídeo abaixo), que estava suspenso, à espera de o Supremo definir o formato do depoimento de Bolsonaro (se por escrito ou presencial). O julgamento do STF sobre o tema está marcado para setembro.
Reunião ministerial
Sergio Moro tem afirmado que estão entre as provas de que Bolsonaro tentou interferir na PF mensagens trocadas pelos dois em um aplicativo e a reunião ministerial de 22 de abril de 2020.
Na ocasião, Bolsonaro disse: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."
Segundo Moro, ao mencionar a palavra "segurança", Bolsonaro se referia à Polícia Federal no Rio de Janeiro.
O presidente, por sua vez, sempre argumentou que se referia à sua segurança pessoal, exercida pelo Gabinete de Segurança Institucional. O Jornal Nacional, contudo, mostrou que os seguranças de Bolsonaro no Rio foram promovidos, o que coloca em xeque a versão do presidente.
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