RFI
Publicada em 01/09/2021 às 15h13
Os desastres climáticos quintuplicaram nos últimos 50 anos e provocaram danos importantes, e mataram mais de dois milhões de pessoas, informou a ONU em um relatório divulgado nesta quarta-feira (1). Regiões mais pobres continuam sofrendo mais com as consequências do clima extremo.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU estudou a frequência, a mortalidade e as perdas econômicas provocadas por desastres naturais vinculados a fenômenos extremos, como secas e inundações, entre 1970 e 2019.
Mais de 11.000 desastres atribuídos aos fenômenos extremos foram registrados no mundo desde 1970. Os cálculos apontam que provocaram mais de dois milhões de mortes e danos materiais que superam 3,64 trilhões de dólares.
"O número de fenômenos extremos está aumentando. Devido à mudança climática, estes serão mais frequentes e severos em muitas partes do mundo", afirmou em um comunicado o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
O furacão Ida, que afetou a Louisiana e o Mississippi, é um exemplo claro disso, e pode ser o desastre climático mais caro da história.
O furacão provocou quatro mortes, de acordo com um balanço provisório das autoridades americanas, mas danificou seriamente a rede elétrica. "Muitas vezes, o impacto econômico só é sentido após o evento e é isso que deve acontecer, porque vimos grandes danos à rede elétrica em Louisiana. É possível que o custo econômico seja maior do que o causado pelo furacão Katrina", declarou Taalas.
Em coletiva de imprensa, ele observou que as avaliações de impacto ainda estão em andamento. "Não sabemos quanto vai custar no final", isso vai depender do restabelecimento da energia elétrica, explicou, acrescentando que dentro de um mês haverá uma estimativa do custo final.
O furacão Katrina atingiu Nova Orleans em setembro de 2005, provocando oficialmente 1.800 mortes e um custo econômico de US$ 163,6 bilhões. Até o momento, essa é a catástrofe climática mais cara da história.
Diferenças entre países
De acordo com a OMM é possível afirmar que, em média, aconteceu um desastre vinculado ao clima a cada dia nos últimos 50 anos, o que provocou diariamente a morte de 115 pessoas e perdas materiais de US$ 202 milhões.
A organização explica que mais de 91% das mortes aconteceram em países em desenvolvimento. As secas foram responsáveis pelas perdas humanas mais graves durante o período, com quase 650.000 vítimas fatais, enquanto as tempestades causaram 577.000 mortes, segundo o relatório.
Ao mesmo tempo, o documento afirma que, apesar do aumento dos fenômenos climáticos extremos, o número de mortes registrou queda considerável. O balanço passou de mais de 50.000 mortes por ano na década de 1970 a menos de 20.000 a partir de 2010, indicou a OMM.
Isto significa que, enquanto as décadas de 1970 e 1980 registraram a média de 170 mortes diárias vinculadas a fenômenos climáticos, o número caiu para 90 na década de 1990 e para 40 na década de 2010.
Taalas destacou que os avanços nos sistemas de alerta e gestão permitiram reduzir as mortes. "Simplesmente estamos melhor preparados que nunca para salvar vidas", disse.
Importância dos sistemas de alerta
Mami Mizutori, do programa de redução de riscos de desastres da ONU, destacou que o mundo em que vivemos "demonstra a necessidade de investir mais na redução e prevenção do risco de desastres".
Segundo ela, o furacão Ida ilustra perfeitamente o que as autoridades devem fazer, já que "as perdas econômicas serão altas, mas o número de mortos é muito, muito baixo".
"O que fez a diferença desta vez é que a cidade (de Nova Orleans) desenvolveu um novo sistema de redução de risco de furacões e tempestades e investiu US $ 14,5 bilhões em sistemas de proteção contra enchentes e diques", insistiu.
Mais pessoas expostas
Ao mesmo tempo, a OMM advertiu que ainda resta muito por fazer porque apenas metade dos 193 países membros da organização tem sistemas de alerta. Também alertou para a necessidade de melhorar as redes de observação meteorológica em países da África, em certas áreas da América Latina e nas ilhas do Pacífico e Caribe.
Mizutori advertiu que "o número de pessoas expostas a riscos aumenta devido ao crescimento da população em áreas que podem sofrer catástrofes de uma intensidade e frequência crescentes".
Embora os sistemas de alerta precoce salvem vidas, não protegem das perdas econômicas provocadas pelos desastres.
Sete dos 10 desastres mais caros dos últimos 50 anos aconteceram depois de 2005, três deles em 2017: os furacões Harvey, com danos de quase US$ 97 bilhões, Maria (US$ 70 bilhões) e Irma (quase US$ 60 bilhões).
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