ASCOM/IFRO
Publicada em 06/09/2021 às 17h01
Assim, o estudante Rafael Pissinati, um caso raro de antecipação individual na formatura da primeira turma de graduação no Curso de Engenharia de Controle e Automação do Campus Porto Velho Calama, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, definiu sua trajetória estudantil que se iniciou ainda em 2012, no Curso Técnico Integrado em Eletrotécnica. Agora, ele já está cursando o Mestrado da Universidade de Brasília (Unb) de forma remota, após ter sido aprovado na seleção, um ano antes mesmo da conclusão regular do curso de graduação.
Rafael Pissinati participou na tarde de quinta-feira, 2/9, da ‘Colação de Grau em Gabinete’ do Diretor-Geral do Campus Calama, Leonardo Pereira Leocádio, com a presença do professor Kariston Dias, Diretor de Ensino; do coordenador do Curso de Engenharia de Controle e Automação; professor José Diogo e dos professores, Arthur Vitório e Paulo Roberto.
O diretor de Ensino do Campus Calama, professor Kariston Dias, disse que “essa primeira diplomação estabelece o cumprimento de um importante passo que a instituição deu ao ofertar o curso de Engenharia de Controle e Automação. Ficamos muito felizes em contribuir na formação do Rafael, e duplamente felizes por cumprir esse marco tão importante para o nosso campus, por ser o primeiro aluno formado na referida Engenharia”, destacou o diretor. Ele ressalta o fato do discente ser egresso do curso técnico em eletrotécnica e que agora cumpre etapa do ensino superior no mesmo campus, “já com encaminhamentos para realização de um mestrado também na área, em uma universidade federal. Vemos na prática a verticalização do ensino ocorrer em nossa unidade e logicamente fica a sensação de um belo trabalho realizado no coletivo”, enfatiza, reforçando que espera que muitos outros alunos possam também realizar esse sonho, “contando com o empenho habitual de toda a comunidade acadêmica”.
Para o Diretor-Geral do Campus Calama, Leonardo Pereira Leocádio, “é motivo de orgulho estar formando nosso primeiro engenheiro do Campus Calama. Nossa satisfação é ainda maior por ser um aluno que veio do nosso ensino médio técnico e que já sai ingressando no mestrado de uma instituição de renome nacional como é a Unb. Óbvio que é uma vitória pessoal do Pissinati, mas é também uma vitória coletiva de todos nós servidores. É uma vitória do IFRO. É uma vitória do ensino público, gratuito e de qualidade”, reforça o diretor.
A trajetória estudantil e a história de vida de Rafael Pissinati são exemplos de como a Educação pode colaborar para transformar a vida das pessoas e, no caso de jovens que se esforçam para prosseguir nos estudos, mesmo aqueles que enfrentam dificuldades familiares, conseguem com o apoio de professores e do ensino, a segurança para superar os obstáculos que não são poucos. Assim, reforçando o respeito para com os familiares, amigos e de professores que participaram desse enfrentamento, Rafael nos conta um pouco como foi chegar até aqui, reverenciando o papel de cada um deles, principalmente em sua formação profissional, afirmando que, no caso de Rondônia, “esse curso é o futuro independente da região”.
Para a nova etapa de estudos, acompanhando o professor Arthur Vitório, que também cursa o Mestrado, o projeto é o de desenvolver um equipamento para tratamento de câncer hepático utilizando radiofrequência que, segundo ele, poderá vir a ser feito em parceria com o IFRO. “Hoje, formado e iniciando o mestrado, tenho uma grande satisfação pessoal em poder contar a eles que, independente das dificuldades, conseguimos. Conseguimos, no plural, porque sem eles não seria possível”.
Abaixo reproduzimos entrevista produzida pela Coordenação de Comunicação do Campus Porto Velho Calama, onde Rafael Pissinati relata sua jornada acadêmica, comentando sobre estágio, apoio da família, qualificação do corpo docente, dentre outros assuntos. Confira:
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: Você estudou o Ensino Médio também no IFRO?
Rafael: Sim, eu sou fruto do IFRO. Fiz o curso técnico em eletrotécnica integrado, entre 2012 e 2015, no período matutino. Ou seja, me formei na segunda turma do integrado.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: Como foi a graduação?
Rafael: Excelente. Após me formar no ensino médio, já no início de 2016, comecei a trabalhar em uma empresa de manutenção de equipamentos hospitalares como técnico de manutenção. Como em 2016, ainda não havia graduação na minha área no IFRO, resolvi utilizar minha nota do ENEM para tentar uma graduação em outro lugar. Foi então que iniciei os estudos de Engenharia Elétrica em uma faculdade particular. No ano de 2017, com a abertura do curso de Engenharia de Controle e Automação (ECA), resolvi tentar trocar de curso, porém o critério de seleção não me permitiu ingressar, já que minhas notas no IFRO não eram muito altas, principalmente por conta do alto nível do ensino da instituição. Ainda em 2017, mas dessa vez no mês de junho, fiquei sabendo do “edital de transferência” e me candidatei, dessa vez utilizando as notas obtidas na graduação que eu estava cursando. Foi então que consegui ingressar no curso de ECA. A graduação foi desafiadora. Eu já conhecia boa parte do corpo docente do campus, bem como o alto nível requerido por eles. Depois de iniciar, precisei me dedicar quase integralmente aos estudos, o que gerou a necessidade de conseguir um emprego que não fosse em período integral. Como não consegui negociar uma flexibilização de horário com a empresa em que estava trabalhando, precisei fazer um acordo e deixar o trabalho, o que ocorreu no início de 2018. Eu consegui aproveitar mais de 90% das disciplinas cursadas na graduação anterior, o que me permitiu ficar praticamente regular com a primeira turma do curso, o que veio a acontecer por volta do 5º período.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: Você já está trabalhando na área?
Rafael: Sim, trabalho com manutenção de equipamentos laboratoriais na minha empresa MEI, prestando serviços principalmente para a FIOCRUZ-RO. Chegando próximo à metade do curso, eu já desfrutava do uso dos laboratórios e das aulas práticas, o que associado ao alto nível de qualificação dos professores, só aumentava a consistência do aprendizado como um todo. A essa altura, eu recebi uma proposta, indicada por um dos professores, pra fazer um estágio remunerado em uma empresa que estava trabalhando na construção de um porto de combustíveis, o que foi uma experiência magnífica e pude colocar em prática diversos conceitos adquiridos até então. Fiquei lá por três meses, período total do estágio, e depois fui convidado a prestar serviços de manutenção na instituição que a antiga empresa que eu trabalhava prestava esses serviços, tendo em vista que o contrato deles havia acabado. Foi então que abri uma MEI, para prestar esses serviços. A partir de então, passei a realizar as manutenções nos equipamentos laboratoriais da FIOCRUZ – RO e aplicar grande parte dos conhecimentos que ia adquirindo com o passar dos semestres no curso. Por diversas vezes pude contar com o auxílio técnico de vários professores para tirar dúvidas e tomar decisões. Também busquei aproximar as duas instituições e promover visitas técnicas, o que iria acontecer no início de 2020, porém se tornou inviável devido à pandemia do Coronavírus. Ainda assim, houve algumas atividades em colaboração entre as duas instituições, das quais gostaria de destacar um trabalho que foi desenvolvido por mim na disciplina de “Projeto Integrador II” onde precisei elaborar um sistema automático de esterilização com lâmpadas U.V. a fim de reduzir o risco de contaminação dentro dos laboratórios onde se manipulam amostras do Coronavírus.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: Você foi o primeiro aluno a formar em Engenharia da Automação?
Rafael: Sim, graças à minha aprovação no programa de mestrado da UnB. Enquanto eu estava de férias entre o 8º e o 9º período, recebi a indicação de um professor para participar do processo seletivo de alunos de mestrado da UnB, o qual fiz despretensiosamente, tendo em vista que ainda me faltava praticamente um ano para concluir a graduação. Felizmente, fui aprovado no processo e fui informado da possibilidade de pedir a antecipação da formatura, tendo como justificativa a aprovação no programa de Pós-Graduação Stricto Sensu. Para cumprir todas as exigências, precisei preparar e apresentar o TCC dentro de 15 dias, pois ter apresentado o TCC era um dos requisitos e era o único que me faltava. Cumprindo todas as exigências, iniciei o processo de antecipação de formatura e realizei a avaliação nas 12 disciplinas que faltavam. Após ser aprovado e o processo ser finalizado, enfim pude colar grau e efetivar minha matrícula no mestrado. Eu já iniciei os estudos do mestrado. Por conta da pandemia, as aulas ficarão remotas até o fim desse semestre. A partir do ano que vem, terei que me programar para ir até Brasília para fazer as aulas. O projeto talvez seja realizado em parceria com o IFRO, tendo em vista que o professor Arthur está fazendo o mestrado no mesmo projeto. A única certeza que tenho é que terei que passar seis meses, no mínimo, lá. O projeto que estamos desenvolvendo é um equipamento para tratamento de câncer hepático utilizando radiofrequência.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: Fale um pouco de sua família.
Rafael: Eu tenho duas irmãs mais novas, que hoje têm 14 e 9 anos. Eu me casei aos 18 anos, quando ainda estava no 4º ano do ensino médio. Durante a transição entre a faculdade particular e o IFRO, meu pai veio a falecer, o que se tornou um grande problema. Como ele era o único provedor da família, tive que voltar a morar com minha mãe e minhas irmãs, que tinham 10 e 5 anos. Foi realmente complicado manter a cabeça no lugar, estando prestes a ficar desempregado e tendo uma família muito maior para sustentar, mas no fim, graças a Deus e a minha querida esposa, foi possível vencer essa etapa. Dentro de alguns meses, minha mãe fez um curso de confeitaria e conseguiu um emprego numa confeitaria na cidade, onde trabalha até hoje. Minha esposa é analista financeira em uma distribuidora de rações na cidade. Vale ressaltar também a grande importância de minha tia Raimunda (irmã de meu pai) e seu marido, meu tio Edson, que desde sempre me tratam como um filho e sempre me motivaram a estudar. Nessa crise, nos ajudaram como puderam e diversas vezes até financeiramente. Quando resolvi trocar Engenharia Elétrica (um curso que já tem uma fama) por ECA, precisei convencê-los de que era uma boa ideia e mostrar que esse curso é o futuro, independente da região. Hoje, formado e iniciando o mestrado, tenho uma grande satisfação pessoal em poder contar a eles que, independente das dificuldades, conseguimos. Conseguimos, no plural, porque sem eles não seria possível.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: Como foi a experiência do IFRO para você?
Rafael: Sensacional. Tenho o IFRO como minha segunda casa.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: O que você pode falar sobre a atenção dos professores?
Rafael: Foram imprescindíveis para minha formação. Sempre disponíveis e prontos a ensinar e ajudar. Por falar na pandemia, com o início das aulas remotas, foi necessária uma readaptação na maneira de estudar, a qual só foi possível com muita força de vontade e com o apoio dos professores e demais colegas de classe. Formamos equipes de estudos remotos e pudemos contar com os professores, dentro e fora do horário comercial, para sanar dúvidas e auxiliar no desenvolvimento das atividades. Além disso, respeitando todas as medidas de distanciamento social, continuei participando de projetos de pesquisa no laboratório, dos quais um deles me rendeu meu tema de TCC.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: Como foi a experiência em estudar numa escola pública?
Rafael: Como tive a oportunidade de estudar em uma faculdade particular e no IFRO, além de manter contato com os amigos que lá fiz, posso comparar e concluir que o nível de ensino do IFRO é bem mais elevado, porém não de uma maneira que impeça o desenvolvimento do aluno, muito pelo contrário, já que os professores nos fornecem todas as ferramentas para desenvolver essas habilidades.
Coordenação de Comunicação - Campus Calama: O que mais você gostaria de destacar?
Rafael: A qualificação dos professores é, sem sombra de dúvida, um grande diferencial da instituição, o que associado aos laboratórios, motiva os alunos a crescer. Vale também ressaltar as diversas técnicas desenvolvidas para manter o nível do ensino, mesmo com as restrições geradas pela pandemia, onde os alunos conseguiam, em diversas disciplinas, levar o laboratório para casa. Os programas de apoio na pandemia, com toda certeza, foram significativamente importantes para auxiliar os menos favorecidos.
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