France Presse
Publicada em 22/09/2021 às 15h24
Emmanuel Macron e Joe Biden se falaram por telefone nesta quarta-feira (22) e disseram que "consultas abertas entre aliados" teriam "evitado" a crise dos submarinos australianos, de acordo com um comunicado conjunto do Palácio do Eliseu e da Casa Branca.
"O presidente Biden expressou seu compromisso permanente com esta questão", diz o comunicado, acrescentando que os dois líderes, que se encontrarão "na Europa no final de outubro", decidiram "lançar um processo de consultas aprofundadas destinado a estabelecer as condições para garantir a confiança".
Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram na última quarta-feira (15) uma associação estratégica para fazer frente à China, chamada Aukus, que inclui o fornecimento de submarinos nucleares americanos ao governo australiano, o que deixou os franceses fora do jogo.
A França ficou furiosa com a decisão da Austrália de se retirar de um acordo de US$ 50 bilhões de compra de submarinos franceses em favor dos submarinos americanos.
Paris convocou, na sexta-feira, seus embaixadores nos Estados Unidos e Austrália para consultas, acusando este último país de "mentir" sobre a ruptura do contrato, uma decisão sem precedentes entre aliados.
'Profundas e graves reservas'
Antes, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, rejeitou as acusações francesas de ter mentido sobre esse contrato de compra de submarinos.
"Acredito que tinham todas as razões para saber que tínhamos profundas e graves reservas sobre o fato de as capacidades do submarino de classe Attack não responderem aos nossos interesses estratégicos e deixamos muito claro que tomaríamos uma decisão em função de nosso interesse estratégico nacional", declarou Morrison em coletiva de imprensa em Sydney.
Morrison disse que entendia a "decepção" do governo francês, mas afirmou que encontrou problemas com o acordo "há alguns meses", assim como outros ministros do governo australiano.
Para o líder, teria sido uma "negligência" seguir adiante com o contrato, apesar de os serviços de inteligência e de defesa da Austrália terem sugerido a ele que estaria indo contra os interesses estratégicos do país.
"Não me arrependo da decisão de colocar o interesse nacional da Austrália em primeiro lugar. Nunca me arrependerei", afirmou.
O ministro australiano da Defesa, Peter Dutton, disse neste domingo que seu governo foi "franco, aberto e honesto" com a França sobre suas preocupações com o acordo, que estava acima do orçamento e com anos de atraso.
Por sua vez, a nova ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, defendeu a posição de Londres no acordo de defesa com os Estados Unidos e a Austrália.
Este acordo mostra o preparo do Reino Unido em "demonstrar firmeza na defesa de nossos interesses" e "nosso compromisso com a segurança e a estabilidade da região indo-pacífica", escreveu Truss no Telegraph.
'Quinta roda do carro'
Paris considerou inútil convocar sua embaixadora em Londres para consultas e ironizou, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, sobre o "oportunismo permanente" do Reino Unido, classificando este país como "quinta roda do carro".
Em seu artigo, a ministra britânica não faz referência às tensões com a França, mas destaca o slogan "Global Britain" sobre o lugar do Reino Unido pós-Brexit no mundo, que tanto defende o primeiro-ministro Boris Johnson.
No sábado à noite, em declarações à televisão France 2, Jean-Yves Le Drian afirmou que o caso dos submarinos desencadeou uma "crise grave".
"Houve mentira (...), uma ambiguidade (...), uma grande quebra de confiança" e um "desprezo" por parte dos aliados da França, afirmou o ministro francês.
Le Drian também estimou que esta crise vai influenciar na definição do novo conceito estratégico da Otan, sem mencionar, porém, uma saída da Aliança Atlântica.
"A Otan iniciou uma reflexão, a pedido do presidente da República, sobre seus fundamentos. Haverá, na próxima cúpula da Otan em Madri, a conclusão do novo conceito estratégico. Obviamente, o que acaba de acontecer terá influência nesta definição", disse Le Drian.
Na quinta-feira, Le Drian chamou o acordo de "uma facada nas costas" dada pelo governo de Joe Biden, e comparou o atual presidente dos EUA a seu antecessor, Donald Trump.
Por outro lado, o almirante Rob Bauer, presidente do comitê militar da Otan, afirmou que essa disputa não terá impacto na "cooperação militar" da aliança.
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