AFP
Publicada em 04/11/2021 às 10h08
O governo da China criticou o que chamou de "manipulação" no relatório do Pentágono que alerta para uma expansão mais acelerada que o esperado do arsenal nuclear do país asiático.
"O relatório publicado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, como relatórios similares anteriores, ignora os fatos e está cheio de preconceitos", afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.
Ele também acusou Washington de "manipulação" e de "inflar a tese da China como ameaça nuclear", ao mesmo tempo que apontou os Estados Unidos "como a maior fonte mundial de ameaça nuclear".
O documento do Pentágono publicado na quarta-feira afirma que a China desenvolve seu arsenal nuclear mais rápido que o previsto e que o país já pode lançar mísseis armados com ogivas nucleares a partir da terra, mar e ar.
O objetivo da China, segundo o relatório, é dispor de um arsenal em 2027 para "contra-atacar o exército americano na região do Indo-Pacífico" e forçar uma reintegração de Taiwan, que Pequim considera uma província.
De acordo com o documento, a China poderia ter 700 ogivas nucleares em 2027 e alcançar 1.000 em 2030, um arsenal duas vezes e meio acima do que o Pentágono previa há apenas um ano.
Mesmo assim, o arsenal chinês estaria longe de igualar os números dos Estados Unidos e Rússia, que possuem, em conjunto, mais de 90% das armas nucleares do mundo: 5.550 para Washington e 6.255 para Moscou, segundo os dados do Instituto Internacional de Estocolmo para a Pesquisa da Paz (Sipri).
Na edição anterior do relatório, de setembro de 2020, o Pentágono calculava que a China tinha cerca de 200 ogivas, mas que esperava dobrar o número até 2030.
- "Opções mais confiáveis" diante de Taiwan -
Para obter os números, os autores do relatório se baseiam em declarações de autoridades chinesas à imprensa estatal e em imagens via satélite que mostram a construção de um importante número de silos nucleares, informou uma fonte do Departamento de Defesa.
"Isto é muito preocupante para nós", declarou a fonte, ao destacar que a aceleração "representa dúvidas sobre as intenções".
Em outubro de 2020, o Partido Comunista Chinês estabeleceu o objetivo de modernizar a teoria, a organização, os funcionários, o armamento e os equipamentos de seu exército até 2027, afirma o relatório.
"Se conseguirem, estes objetivos dariam a Pequim opções militares mais confiáveis diante de Taiwan", ressalta o documento.
Questionado na quarta-feira durante uma conferência sobre o risco de um ataque a curto prazo contra Taiwan a partir da China, o comandante do Estado-Maior Conjunto americano, o general Mark Milley, considerou "improvável" nos próximos 24 meses.
Mas os Estados Unidos têm "absolutamente as capacidades" para defender esta ilha que fica a menos de 200 km das costas chinesas, completou. "Não há nenhuma dúvida".
Nas últimas semanas a tensão verbal aumentou entre as duas grandes potências sobre o destino do território com um governo democrático, mas considerado pela China como parte de seu território, que aspira uma "reunificação", inclusive pela força.
O presidente americano Joe Biden se comprometeu recentemente a defender Taiwan em caso de ataque chinês.
O relatório também questiona as intenções do exército chinês em relação à pesquisa biológica de substâncias com potencial uso médico e militar.
"Estudos conduzidos em instituições médicas militares na República Popular da China abordaram a identificação, teste e caracterização de várias famílias de toxinas potentes com aplicações de uso duplo", levantando preocupações sobre as diretrizes globais para armas biológicas e químicas.
Uma fonte do Pentágono explicou que estas atividades não estavam vinculadas à origem da pandemia de covid-19, que algumas teorias atribuem a um vazamento em um laboratório da cidade chinesa de Wuhan, onde o vírus foi detectado pela primeira vez em dezembro de 2019.
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