AFP
Publicada em 24/11/2021 às 15h33
O plano Reconstruir Melhor do presidente Joe Biden poderia representar um presente de Natal para milhões de famílias latinas nos Estados Unidos, mas, para outras tantas, de imigrantes irregulares, pode ser apenas uma miragem se o Senado rechaçar a parte migratória.
Segundo o censo de 2020, nos Estados Unidos vivem 62,1 milhões de hispânicos e, para muitos deles, o Reconstruir Melhor ('Build Back Better', em inglês), um gigantesco plano de investimento de 1,8 trilhão de dólares, é uma dádiva.
O plano inclui reformas educativas, sanitárias, ecológicas, de atenção à infância e também uma seção sobre imigração que pode favorecer milhões de pessoas em situação irregular. O projeto foi aprovado na sexta-feira (19) pela Câmara dos Representantes, mas sua tramitação no Senado - onde espera-se que seja submetido à votação em dezembro ou janeiro - não deverá ser simples.
Segundo a Casa Branca, o objetivo do Reconstruir Melhor é gerar emprego, reduzir custos, melhorar a competitividade e ajudar a classe média e trabalhadora, à qual pertencem muitos latinos, além de fortalecer a luta contra as mudanças climáticas.
É muito importante "para uma comunidade latina que trabalha duro, mas não tem muita renda", declarou nesta segunda-feira (22) Xavier Becerra, secretário de Saúde e Serviços Humanos do governo.
Segundo uma pesquisa do instituto BSP Research, patrocinada pela organização Climate Power, 87% dos latinos nos EUA apoiam o plano porque estão preocupados com a mudança climática.
Muitos deles já estão sofrendo as consequências: "desde trabalhar durante horas em condições climáticas perigosas, até pagar custos de energia mais altos ou viver em áreas mais propensas a desastres climáticos", segundo a Climate Power.
- Tramitação no Senado -
O Senado, no entanto, poderá fazer mudanças no projeto de lei e devolvê-lo à Câmara. Dividido meio a meio, tanto os 50 republicanos como dois senadores centristas - entre os 50 democratas - estão reticentes em aceitar 100% do texto, por medo de uma escalada da dívida em um contexto de aumento da inflação.
Porém, segundo Pili Tobar, vice-diretora de Comunicação da Casa Branca, o plano pode ser facilmente financiado se "os americanos e as grandes corporações pagarem sua parte justa" nos impostos federais.
Em um projeto de lei normal, seriam necessários 60 votos de 100 para sua aprovação no Senado, algo impensável com a atual composição da Casa. Assim, Biden recorreu ao chamado processo de reconciliação orçamentária, para o qual basta a maioria simples de 51 votos.
Nesse sentido, o presidente ainda precisa convencer os dois senadores centristas do Partido Democrata, para depois somar com o voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris e chegar aos 51.
Há consenso sobre a maior parte das medidas do plano, mas a seção que trata da questão migratória, uma das principais promessas de campanha de Biden, pode ficar de fora do 'Build Back Better'.
- Cidadania, uma via-crúcis -
Durante a campanha presidencial, Biden prometeu a cidadania para 11 milhões de imigrantes irregulares. Ele já tentou abrir caminho duas vezes para cumprir sua palavra, mas acabou parando nas duas em Elizabeth MacDonough, encarregada de interpretar o regimento do Senado e que considera que este tema não tem lugar no 'Build Back Better'.
Agora, em sua terceira tentativa, Biden deu um passo atrás e já não fala mais em cidadania. Se o Senado aceitar incluir o trecho, cerca de 7 milhões de imigrantes irregulares poderão solicitar permissões para trabalhar, viajar ao exterior e tirar carteira de motorista. Além disso, ficarão protegidos contra a deportação por um período de até dez anos.
A deputada progressista Alexandria Ocasio-Cortez encabeçou uma carta na qual mais de 80 integrantes da Câmara pedem ao Senado que não desperdice "esta oportunidade única em uma geração".
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