RFI
Publicada em 14/12/2021 às 15h18
O governo francês anunciou nesta terça-feira (14) que pretende fechar por seis meses a Grande Mesquita de Beauvais, no departamento de Oise, ao norte de Paris. O imã, líder religioso muçulmano, é acusado de manter um discurso que ataca “o modelo republicano e a França”. Esta não será a primeira mesquita fechada na França desde a aprovação de uma lei contra o separatismo em agosto.
O anúncio foi feito pelo ministro do Interior, Gérald Darmanin. “Hoje demos início ao processo de fechamento da mesquita de Beauvais, [uma mesquita] completamente inaceitável, que luta contra cristãos, homossexuais e judeus”, afirmou o ministro.
Desde o assassinato do professor Samuel Paty, decapitado em outubro de 2020, Darmanin tem encampado a luta contra o “separatismo islamista”, termo adotado pelo presidente Emmanuel Macron.
A morte de Paty foi o resultado de uma campanha de ódio contra o professor, que defendeu a liberdade de imprensa em sala de aula, instigada por um grupo religioso radical.
Após a tragédia, o governo Macron apresentou uma lei contra o separatismo, aprovada em agosto de 2021, que aumenta as punições em caso de discurso de ódio e amplia o controle sobre templos, lugares de culto e de educação religiosa.
Como resultado, cerca de 20 mesquitas e lugares de culto muçulmano já foram fechados nos últimos meses, de acordo com o ministro. Seis estão em processo de fechamento temporário por suspeita de radicalismo.
Entre elas, a mesquita de Allonnes, na Sarta (oeste da França), e sua escola corânica, acusadas de difundir discursos que legitimavam a jihad armada (“guerra religiosa”) e que tratavam como inimigos todos aqueles que não creem no Corão, como relatou o jornal Le Figaro.
Minoria radicalizada
Em Beauvais, a mesquita, dirigida pela associação "Esperança e Fraternidade", fechou suas portas temporariamente nesta terça-feira "para acalmar a situação e proteger os fiéis do frenesi da mídia", enquanto não há decisão sobre o processo iniciado pelo Ministério do Interior.
O advogado da associação, Samim Bolaky, afirma que o processo contra a mesquita na verdade visa o discurso feito por um dos imãs que, segundo ele, já teria sido suspenso pela associação.
O Ministério do Interior acusa o homem, que agiria como imã regular no centro religioso, de tratar os combatentes da Jihad como heróis e defender a prátiga rigorosa do Islã, acima das leis republicanas francesas. De acordo com o ministério, suas observações apresentam as “sociedades ocidentais como islamofóbicas” e incitam “o ódio a homossexuais, judeus e cristãos”.
Bolaky defende que as frases foram tiradas do contexto e pede ao governo que aprecie as 150 horas de ritos gravados para tomar sua decisão.
Islamismo, um assunto eleitoral
A França conta com cerca de 6 milhões de muçulmanos em seu território, menos de 10% de sua população. Conforme o Ministério do Interior, há no total 2.623 lugares de culto muçulmanos no país.
No entanto, a radicalização islâmica tem sido um assunto frequente na França desde a série de atentados que abalou o país em 2015 e provocou centenas de mortes.
“Nós não confundimos a parcela minoritária de lugares de culto radicalizadas, que devemos fechar ou precisamos colocar de volta no caminho certo, com a imensa maioria de muçulmanos na França que amam a República e não representam qualquer problema”, afirmou o ministro durante uma longa entrevista à radio RTL no domingo (12).
A quatro meses das eleições presidenciais de 2022, o debate sobre o islamismo está no centro das campanhas dos representantes da extrema direita Marine Le Pen e Éric Zemmour e da candidata da direita Valérie Pécresse (Os Republicanos).
Conforme a última pesquisa de intenção de votos feita pela Odoxa, Macron lidera com 24% dos eleitores, mas seus concorrentes à direita somam quase 50% das intenções de voto: Pécresse tem 19% da preferência do eleitorado, Le Pen, 17% e Zemmour, 12%.
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