Professor Nazareno
Publicada em 17/12/2021 às 09h28
Conheço Porto Velho, a fedorenta, inabitável e podre capital de Roraima, como poucas pessoas. Há mais de quarenta anos que tenho a infelicidade de morar por aqui. Desde o longínquo ano de 1980 que tive a infeliz ideia de fixar residência na desorganizada cidade e assim resolvi “passar uns dias” nesta suja curva de rio. E por incrível que pareça nada, absolutamente nada mudou neste quase meio século de existência. O prefeito de então era Sebastião Valadares e o governador do Estado era um apagado coronel do Exército, ambos prepostos da infame ditadura militar por estas bandas. O coronel logo virou “Deus” e aquele prefeito continuou longe dos holofotes. A cidade era um caos e nada funcionava direito. Como ainda hoje, a sujeira abundava, não tinha uma boa rodoviária, aeroporto, saneamento básico, água tratada e nem hospital.
No entanto, naquela época, Porto Velho e Rondônia já tinham uma tenebrosa, dissimulada e mentirosa classe política que se manteve fiel até os dias de hoje. Durante todo este tempo, as falsas esperanças se mantiveram e a cruel realidade insiste em bater todo dia na cara dos tolos rondonienses e de todos aqueles que acreditaram na lorota de novos tempos e de prosperidade na “nova estrela no azul da União”. A rodoviária da capital já era a mesma de agora, uma imundice que a caracteriza hoje como o pior terminal rodoviário do país. Mas todos os anos as promessas de uma nova estação de passageiros da capital se mantiveram. O infecto e tenebroso igarapé que a margeia era um pouco mais limpo, pois a cidade tinha, óbvio, uma população menor. Hoje aquele curso d’água é um esgoto mal cheiroso cujas águas matam qualquer um ser que as tome.
O acanhado aeroporto da cidade, apesar de uma pequena reforma muito mal feita levada a cabo algum tempo depois, continuou parado, improdutivo e imprestável como sempre foi. Hospitais bons não havia naquela época. Só o velho e também inservível Hospital de Base. O bom era que não tínhamos nenhum “açougue” metido a hospital como temos hoje em dia. Porém, muitos eleitores idiotas de Rondônia podem dizer que daqui “a não sei quantos anos” teremos um novo hospital de pronto socorro que vai atender aos pobres e miseráveis do lugar. Promessas nesse sentido já há. Custará 300 milhões de reais, mas será pago mais de um bilhão do nosso suado dinheirinho. Porto Velho tinha muito mais árvores do que agora. Mas todas foram solenemente arrancadas para dar lugar a ruas tortas com tapiris e palafitas sem rede de esgotos ou água tratada.
E apesar do nome Porto Velho, porto de passageiros ou de cargas mesmo a cidade não tinha. E nem nunca teve até hoje. Mas como no próximo ano haverá eleições, as promessas eleitoreiras e mentirosas já estão a todo vapor. Infelizmente isso sempre foi praxe por aqui. E como muitos dos eleitores rondonienses são tolos e facilmente enganáveis a felicidade já reina em conversas e bate-papos. Teremos na cabeça dos incautos, por exemplo, em Porto Velho a partir de 2022, um novo hospital de pronto socorro, redes completas de águas e esgotos, urbanização, porto rampeado, excelente mobilidade urbana, menos violência e claro, um novo terminal urbano de passageiros. Haverá aumento da produção agropecuária, duplicação da BR-364, ligação com Manaus via BR-319, garimpo de ouro “bombando” no rio Madeira, mais empregos, oportunidades e comida para todos. Rondônia das promessas já é realidade.
*Foi Professor em Porto Velho.
URL: https://rondoniadinamica/noticias/2021/12/um-porto-de-promessas-por-professor-nazareno,120555.shtml