AFP
Publicada em 28/12/2021 às 10h40
As autoridades somalis posicionaram, nesta terça-feira (28), militares fortemente armados no centro da capital do país, Mogadíscio, em meio a uma nova crise política.
Soldados leais ao primeiro-ministro, Mohamed Hussein Roble, tomaram posições em torno do palácio presidencial, um dia depois de o presidente, Mohamed Abdullahi Mohamed, conhecido como Farmajo, anunciar sua destituição.
"Os soldados não estão longe dos principais pontos de controle que cercam o palácio presidencial, equipados com metralhadoras pesadas e lança-foguetes", relatou Saido Mumin, um morador do bairro presidencial, em conversa com a AFP nesta terça.
A disputa entre o presidente e seu primeiro-ministro começou há vários meses, mas se intensificou nos últimos dias.
No sábado (25), Farmajo retirou de primeiro-ministro a missão de organizar as eleições - esperadas desde o início do ano - e, na segunda-feira (27), "suspendeu-o" de suas funções, acusando-o de estar envolvido em um caso de corrupção.
"O presidente decidiu suspender o primeiro-ministro Mohamed Hussein Roble e retirar seus poderes porque ele está vinculado a [casos de] corrupção", afirmou, em nota, o gabinete da presidência, que acusa o chefe de Governo de interferir na investigação de um caso de apropriação de terras.
Roble reagiu, acusando o presidente, ontem, de querer cometer "um golpe de Estado contra o governo, a Constituição e as leis do país".
"Como o presidente aparentemente decidiu destruir as instituições governamentais [...] ordeno que todas as forças nacionais da Somália trabalhem sob a liderança do gabinete do primeiro-ministro a partir de hoje", disse Roble durante uma entrevista coletiva de seu gabinete, onde conseguiu entrar apesar da forte presença militar na parte externa do edifício.
"O primeiro-ministro está decidido a não ser dissuadido por ninguém no cumprimento de seus deveres nacionais, com o objetivo de liderar o país rumo a eleições que abrirão o caminho para uma transferência pacífica de poder", afirma um comunicado divulgado pelo gabinete de Roble.
Enquanto isso, os aliados da Somália - a missão da ONU neste país, os Estados Unidos, a União Europeia e as Nações Unidas - divulgaram um comunicado conjunto na noite de segunda-feira, no qual manifestaram sua "profunda preocupação".
Presidente desde 2017, Farmajo viu seu mandato expirar em 8 de fevereiro, sem conseguir chegar a um entendimento com as lideranças regionais para a organização de eleições.
A Somália não realiza eleições diretas há 50 anos e tem um sistema indireto complexo. A organização das eleições foi afetada nos últimos meses por várias circunstâncias.
Em abril, combatentes pró-governo e opositores trocaram tiros nas ruas de Mogadíscio, depois que Farmajo ampliou por dois anos seu período de governo, sem organizar eleições.
A crise constitucional foi aplacada quando Farmajo recuou na decisão e Roble negociou um calendário eleitoral.
Mas, nos meses seguintes, a rivalidade entre os dois políticos afetou novamente a votação.
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