AFP
Publicada em 31/12/2021 às 09h57
Em um momento em que Europa enfrenta uma acentuada crise energética, a metade da capacidade nuclear alemã ainda ativa no país será desligada nesta sexta-feira (31), uma década após a histórica decisão de Angela Merkel de abandonar essa fonte de energia.
Os reatores localizados nas cidades alemãs de Brokdorf (norte), Grohnde (centro) e Gundremmingen (sul) deixarão de operar em 2022. O conjunto representa cerca de 4 gigawatts/hora de potência instalada, ou o equivalente a mil aerogeradores.
No final de 2022, será a vez das últimas três usinas do país, Neckarwestheim (sul), Isar 2 (sul) e Emsland (norte), com uma capacidade de cerca de 4 GW.
O desastre nuclear de Fukushima em 2011 convenceu a ex-chanceler alemã da necessidade de deixar para trás essa fonte de energia não fóssil controversa.
Apesar da retirada de um tipo de energia que ainda fornece cerca de 11% da eletricidade gerada em 2020 no país, “a segurança do abastecimento na Alemanha continua garantida”, afirmou na terça-feira Robert Habeck, ministro da Economia e Proteção Climática, dos Verdes.
Para compensar o fim da energia nuclear, e à espera de energias renováveis para preencher essa lacuna, a Alemanha se abastece de combustíveis fósseis, especialmente gás, em escala maciça.
O desligamento de três reatores nucleares dos seis que ainda estavam em operação ocorre em um momento de crise de abastecimento no continente, alimentado pelo recente ressurgimento de tensões geopolíticas com a Rússia, principal fornecedor de gás para a Europa.
Alguns países ocidentais suspeitam que Moscou continuará criando obstáculos para exercer pressão, à medida que as manobras militares russas continuam na fronteira com a Ucrânia.
O novo governo alemão alertou recentemente que poderia ordenar o "fechamento" do polêmico gasoduto Nord Stream 2, que conecta a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico, no caso de uma escalada militar.
Mas há outro fator para a alta dos preços: os estoques na Europa estão em seu nível mais baixo, afetados pelo prolongado inverno de 2020.
O reabastecimento tem sido complicado, enquanto a demanda está forte, refletindo uma recuperação mais forte do que o esperado nas economias após a crise da covid-19.
Soma-se a isso os gargalos das energias renováveis, como eólica e solar, por questões meteorológicas.
Segundo Sebastian Herold, professor de política energética da Universidade de Ciências Aplicadas de Darmstadt, o fim da energia nuclear na Alemanha deve elevar ainda mais os preços.
“No longo prazo, esperamos que o aumento das renováveis equilibre as coisas, mas não será assim no curto prazo”, disse ele à AFP.
A Alemanha continuará "mais dependente do gás, pelo menos no curto prazo e, portanto, também um pouco mais dependente da Rússia", segundo o professor.
Isso é agravado por outro contratempo: o fechamento das usinas elimina uma fonte de energia de baixo carbono em um país onde as emissões continuam a aumentar.
O uso de combustíveis fósseis para compensar o fim da energia nuclear poderia aumentar as emissões de CO2 "em até 40 milhões de toneladas" por ano, de acordo com o instituto DIW, com sede em Berlim.
A Alemanha provavelmente não cumprirá suas metas de redução de emissões de CO2 "em 2022" e "será difícil em 2023", alertou Robert Habeck em uma entrevista ao Die Zeit.
Seria necessário instalar entre 1.000 e 1.500 novas turbinas eólicas por ano, segundo Habeck, ante "pouco mais de 450" por ano instaladas nos últimos anos.
A nova coalizão governamental em Berlim, liderada pelo social-democrata Olaf Scholz, estabeleceu a meta de ter 80% da eletricidade produzida na Alemanha de forma sustentável até 2030, um avanço de 8 anos em relação às previsões do executivo anterior.
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