AFP
Publicada em 25/01/2022 às 14h40
As forças curdas apoiadas pelos Estados Unidos reforçaram o cerco a jihadistas entrincheirados em uma prisão no nordeste da Síria nesta terça-feira(25), em uma tentativa de encerrar um confronto que começou há cinco dias e deixou pelo menos 166 mortos.
Na última quinta-feira (20), mais de 100 combatentes do grupo Estado Islâmico (EI) invadiram a penitenciária de Ghwayran em Hasake, vigiada por milícias curdas, com caminhões-bomba e armas pesadas.
"As forças curdas estão tentando fechar o cerco aos jihadistas, que se esconderam na parte norte da prisão", disse à AFP o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
Segundo ele, as milícias curdas avançam lentamente dentro da prisão, temendo emboscadas do EI.
Alguns presidiários do grupo jihadista já foram transportados de ônibus para outros centros de detenção nas últimas horas, mas o diretor do OSDH não especificou quantos ainda estão presos.
Segundo a organização, vários menores detidos foram transferidos na segunda-feira (24). Rahman alertou que, se um acordo entre as partes não for concluído, "haverá um massacre, centenas de pessoas morrerão".
- Divisão entre os detidos -
As Forças Democráticas Sírias (FDS), uma milícia majoritariamente curda, não confirmaram relatos de que o EI está mantendo guardas como reféns.
Operando com apoio aéreo de uma coalizão internacional liderada por Washington, essas milícias enviaram unidades de elite e veículos para Ghwayran.
As FDS informaram que 250 detidos do EI se renderam nesta terça, o que eleva para 550 o número de jihadistas que se entregaram.
Na segunda-feira, o ataque à prisão parecia iminente, mas o OSDH explicou que as forças curdas se mostram relutantes, por causa dos reféns deixados na prisão.
As FDS esperam que os jihadistas sejam cercados, sem suprimentos ou munição, disse Rahman.
O especialista destacou que há negociações em andamento para libertar alguns membros das forças curdas e guardas, em troca da entrega de suprimentos médicos para os jihadistas feridos. Segundo o OSDH, há 27 reféns na prisão e 40 desaparecidos.
Rahman indicou que os jihadistas estrangeiros do EI se recusam a falar, mas que muitos combatentes sírios são a favor de uma negociação.
Esses confrontos deixaram quase 45.000 deslocados pela violência, segundo a ONU.
A maioria dos detidos em Ghwayran foi capturada por milícias curdas no final de 2018 e início de 2019, nos últimos dias antes da derrota do autoproclamado califado do EI.
A ONG Save the Children informou que recebeu mensagens de áudio de um adolescente australiano que foi levado para a Síria por seus pais quando tinha 11 anos.
"Não há médicos para me ajudar", disse o jovem que relatou estar ferido na cabeça e nas mãos.
"Estou com muito medo, há muitos cadáveres", acrescentou o menor na gravação, cuja autenticidade não pôde ser verificada pela AFP.
Os curdos, que controlam grandes extensões de território no norte e nordeste da Síria, pedem em vão a repatriação dos quase 12 mil jihadistas de mais de 50 nacionalidades presos no país.
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