RFI
Publicada em 09/02/2022 às 11h26
Enquanto as negociações na ONU sobre um tratado de preservação da biodiversidade em alto mar se arrastam há anos, uma iniciativa paralela visa impulsionar avanços pela proteção e a regeneração dos oceanos. O One Ocean Summit se inicia nesta quarta-feira (9) na cidade de Brest, na costa noroeste da França, com a participação de cerca de 20 chefes de Estado e de governo, além de 400 especialistas, cientistas, membros de organizações e representantes de grandes empresas.
O evento de três dias é uma iniciativa do presidente francês, Emmanuel Macron, que exerce atualmente a presidência rotativa da União Europeia. “Somente uma ação coordenada face aos diferentes desafios marítimos pode nos garantir sucesso neste objetivo, envolvendo clima, biodiversidade, combate às poluições como à pesca ilegal e excessiva, economia azul, conhecimento e governança dos oceanos”, declarou Macron sobre a cúpula.
Na sexta-feira (11), os 35 países fundadores da iniciativa devem publicar uma “declaração de Brest”, na qual exigirão uma conclusão “ambiciosa” das negociações oficiais no âmbito das Nações Unidas sobre o tema. Eles também prometem se engajar em compromissos voluntários nesse sentido e pela regeneração dos oceanos, que cobrem 70% da superfície terrestre e estão cada vez mais degradados pela interferência humana. A diminuição da poluição por plásticos é um dos focos da cúpula.
As mudanças climáticas estão deixando as águas mais quentes, ácidas e com menos oxigênio, com consequências dramáticas que se acentuam ano a ano, como aumento do nível do mar, tempestades mais violentas, perda de biodiversidade e dos recifes de corais, entre outros.
Transição energética dos transportes marítimos
Neste objetivo, a participação do setor privado é fundamental. As quatro maiores companhias europeias de transporte marítimo e turismo ( CMA-CGM, Maersk, Hapag-lloyd et MSC) concordaram em tomar parte das discussões, para uma definição de contornos mais sustentáveis de uma “economia azul”. A transição energética dos navios, por exemplo, ainda é um tema que exige avanços consideráveis, embora seja responsável por mais de 90% do frete internacional de mercadorias e matérias-primas.
O assunto – há muito tempo negligenciado em prol dos debates focados no clima – ganha progressivamente força no âmbito internacional. Neste ano, pelo menos seis grandes eventos serão dedicados à proteção dos oceanos, que desempenham papel crucial na regulação do clima do planeta, mas também na preservação da natureza e o abastecimento para benefício humano. A expectativa é de que, finalmente, nas negociações previstas para março na ONU, em Nova York, os países sejan capazes de concluir um amplo pacto sobre a governança das águas internacionais.
Hoje, dois terços dessa imensidão azul é desprovida de qualquer regulação, o que resulta em abusos que esgotam os recursos naturais. Ao mesmo tempo, segundo as Nações Unidas, mais de 3 bilhões de pessoas dependem dos mares e zonas costeiras para sobreviver.
Novas fronteiras da exploração submarina
O apetite do homem pelos oceanos está longe de ser saciado – pelo contrário. A exploração do fundo do mar avança a passos largos, pelo seu papel nas telecomunicações – a internet mundial depende da rede de cabos submarinos dos gigantes digitais – e na prospecção de gás, além da da nova fronteira de riquezas minerais a serem extraídas das profundezas submarinas, que já poderia se iniciar em 2023 e preocupa as organizações ambientalistas.
“Emmanuel Macron se posiciona como protetor dos oceanos, mas a realidade é outra: ele apoia a extração mineral em águas profundas”, denuncia o Greenpeace. A entidade teme que a cúpula não passe de uma ocasião para impulsionar o tema ambiental na campanha do atual presidente francês, que deve disputar um novo mandato nas próximas eleições presidenciais no país, em abril.
A One Ocean Summit é a última edição da iniciativa One Planet Summit, cúpulas ambientais organizadas anualmente por Macron desde que assumiu o poder, em 2017. Este quinto evento, entretanto, não foi capaz de sensibilizar as grandes potências marítimas, como a Austrália. O Brasil também está ausente. Entre as lideranças que confirmaram presença, estão sobretudo europeus, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Todas as conferências da cúpula podem ser acompanhadas à distância, mediante inscrição – à exceção do segmento de alto nível, na manhã de sexta e chefiado por Macron.
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