AFP
Publicada em 17/03/2022 às 14h17
Diante do retorno da pandemia de coronavírus e da queda dos mercados, a China teve que prometer que apoiaria a atividade, mesmo que isso signifique mudar o rumo de sua política econômica.
"Devemos tomar medidas concretas para fortalecer a economia no primeiro trimestre": esta frase, pronunciada na quarta-feira (16) após uma reunião do governo, teve um efeito imediato nos mercados.
Embora não tenham sido anunciadas medidas concretas, a bolsa de Hong Kong valorizou 16% em dois dias, após várias sessões de queda devido ao retorno da covid-19 na China.
"O confinamento é o principal motivo da decisão de Pequim", diz Chen Long, analista da Plenum.
Embora tenha sido o primeiro país do mundo a sair da pandemia em 2020, a China sofre, nos últimos dias, sua pior onda da doença.
Dezenas de milhões de pessoas estão confinadas, incluindo toda a população da cidade de Shenzhen (sul), o "Vale do Silício chinês", que abriga a sede das gigantes chinesas Huawei (telefonia, 5G) e Tencent (internet, videogames). É a terceira maior cidade da China em termos de PIB.
A deterioração das condições sanitárias ocorre em um cenário de desaceleração do crescimento, agravado pelo baixo consumo, pelo endurecimento das regulamentações em vários setores e pelas incertezas relacionadas à Ucrânia.
"A China está em uma batalha sem precedentes" na frente econômica, diz Clifford Bennett, analista da ACY, com sede na Austrália.
O governo espera que o crescimento deste ano seja de apenas 5,5%, sua previsão mais baixa em três décadas.
- "Na corda bamba" -
Neste contexto, o governo parece disposto a flexibilizar o seu controle sobre o setor privado, que penalizou especialmente as empresas tecnológicas e imobiliárias nos últimos dois anos.
No setor digital, as autoridades têm sido particularmente intransigentes em questões como concorrência ou dados pessoais.
Essa "retificação" de práticas anteriormente difundidas fez com que as gigantes da tecnologia perdessem bilhões em capitalização desde 2020.
Embora continue o curso econômico, Pequim insistiu na quarta-feira na necessidade de que a regulamentação seja "transparente e previsível".
A atividade imobiliária também foi afetada pelas medidas para sanear um setor endividado e marcado pela especulação desenfreada.
A reunião de quarta-feira pediu "mitigação de riscos" e adoção de "medidas de apoio" para "acompanhar a transformação" de um setor que responde por mais de um quarto do PIB chinês, juntamente com a construção.
Desde 2020, muitas empreiteiras lutam para não falir, incluindo a gigante Evergrande, à beira da falência.
Pequim está andando na "corda bamba" tentando "esvaziar bolhas especulativas" sem "causar um crash", aponta Rajiv Biswas, analista da IHS Markit (S&P Global).
Em um contexto de intensas tensões com os Estados Unidos, a China vem reduzindo o tamanho de seus gigantes tecnológicos há um ano.
O governo reluta em deixá-los abrir capital no exterior, preferindo captar fundos no mercado interno (Hong Kong, Xangai, Shenzhen e Pequim).
O "Uber chinês", Didi, foi obrigado a retirar-se de Wall Street no ano passado, tendo entrado no mercado sem a aprovação do regime comunista.
O governo chinês disse na quarta-feira que está "trabalhando" com Washington na questão da listagem de empresas chinesas nos Estados Unidos.
A invasão russa da Ucrânia "certamente" está relacionada às novas diretrizes de Pequim, aponta Bennett.
A China está sob intensa pressão diplomática para não ser uma tábua de salvação para a Rússia, atingida por inúmeras sanções desde a invasão da Ucrânia.
Mas Pequim está relutante em virar as costas ao seu aliado, sob o risco de se ver sob sanções ocidentais.
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