AFP
Publicada em 21/03/2022 às 15h22
Os Estados Unidos declararam oficialmente nesta segunda-feira (21) que os rohingyas foram vítimas de "genocídio" cometido pelo exército birmanês e afirmam ter evidências de que a intenção era "destruir" essa minoria muçulmana em 2016 e 2017.
"Concluiu-se que membros das forças armadas birmanesas cometeram genocídio e crimes contra a humanidade contra os rohingyas", disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
Ele acrescentou que é a oitava vez desde o Holocausto que os Estados Unidos reconhecem oficialmente a existência de genocídio.
Já existe um processo judicial perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, a principal instância judicial da ONU, para determinar se um genocídio foi cometido em Mianmar.
As evidências mostram "uma clara intenção por trás dessas atrocidades massivas: destruir os rohingyas, no todo ou em parte", disse Blinken durante uma visita ao Museu do Holocausto em Washington, que apresenta uma exposição intitulada "O caminho de Mianmar rumo ao genocídio".
Ele afirma que a conclusão foi baseada "em uma análise dos fatos e do direito realizada pelo Departamento de Estado", juntamente com "uma série de fontes independentes e imparciais, além de nossa própria investigação".
Ele cita em particular um relatório de diplomacia dos EUA de 2018, que se concentra em dois períodos, o primeiro começando em outubro de 2016 e o segundo, em agosto de 2017.
"Em ambos os casos, o exército (birmanês) usou as mesmas técnicas para atingir os rohingyas: aldeias varridas do mapa, assassinatos, estupros, torturas", listou Blinken.
O secretário de Estado estimou que os ataques de 2016 "forçaram cerca de 100.000" membros dessa minoria muçulmana apátrida a fugir para Bangladesh e que os ataques de 2017 "mataram mais de 9.000 rohingyas e forçaram mais de 740.000 deles a buscar refúgio" no país vizinho.
"O ataque aos rohingyas foi generalizado e sistemático, o que é crucial para se chegar a uma determinação de crimes contra a humanidade", insistiu.
- "Uma luz"-
Os rohingyas comemoraram com cautela a iniciativa dos EUA, cujas conclusões são conhecidas desde domingo.
"Isso deveria ter sido feito há muito tempo, mas acho que a decisão dos EUA ajudará o processo perante a CIJ", disse um refugiado rohingya em um dos campos onde vivem os deslocados, perto de Sittwe, capital do estado de Rakhine.
Thin Thin Hlaing, ativista dos direitos dos rohingyas, aplaudiu a decisão.
"Tenho a sensação de que vivo na escuridão, mas agora vemos uma luz porque eles reconhecem nosso sofrimento", disse à AFP.
Cerca de 850.000 rohingyas estão em campos em Bangladesh, vizinho de Mianmar, e outros 600.000 permanecem no estado birmanês de Rakhine.
"É bom ver o governo dando esse passo tão esperado para responsabilizar esse regime brutal", tuitou o senador americano do Oregon Jeff Merkley.
Blinken não anunciou novas sanções contra Mianmar. Os Estados Unidos já impuseram uma série de sanções à liderança birmanesa e, como outros países ocidentais, há muito restringem suas exportações de armas aos militares birmaneses, acusados de crimes contra a humanidade, mesmo antes do golpe de 1º de fevereiro de 2021.
O caso apresentado contra Mianmar à CIJ foi agravado pelo golpe que derrubou o governo civil liderado pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, provocando protestos massivos e uma repressão sangrenta.
Em 15 de março, um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sobre o período pós-golpe acusou o exército e o Estado birmanês de possíveis crimes contra a humanidade e crimes de guerra e convocou a comunidade internacional a agir.
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