AFP
Publicada em 01/04/2022 às 09h08
O índice de inflação na zona do euro bateu um novo recorde em março, a 7,5% em ritmo anual, de acordo com a Eurostat, em um cenário de guerra na Ucrânia que elevou os preços da energia e dos alimentos.
Em fevereiro, a inflação foi de 5,9% para os 19 países que adotaram a moeda única, um número de que já representava o maior nível registrado pela agência europeia de estatísticas desde que começou a medir os preços ao consumidor na região em janeiro de 1997.
Desde novembro, a inflação não para de bater recordes nos países que usam a moeda europeia, forçando os governos a intervir para proteger seus consumidores.
Na França, um desconto de pelo menos 15 centavos por litro de combustível entrou em vigor nesta sexta-feira, enquanto os preços da gasolina ultrapassaram os 2 euros por litro, em média.
A Espanha divulgou um pacote de ajuda de 6 bilhões de euros na quarta-feira.
Cheques pagos aos trabalhadores, redução de impostos, redução do preço do transporte público ou teto de preços de energia... Os governos europeus multiplicaram os anúncios nas últimas semanas.
A alta da inflação é alimentada pela disparada dos preços do petróleo, gás e energia elétrica. As tarifas da energia aumentaram 44,7% em ritmo anual em março, após a alta de 32% em fevereiro.
Todos os componentes do índice são afetados por uma aceleração dos preços, com destaque para os alimentos: +5%, após +4,2% em fevereiro. Os bens industriais subiram 3,4% em março, após 3,1% no mês anterior. Até os preços dos serviços decolaram: +2,7% em março, contra 2,5% em fevereiro.
Se a espiral alimenta uma crise social na Europa, também é uma dor de cabeça para o Banco Central Europeu (BCE), responsável por garantir a estabilidade dos preços.
O recorde de inflação, bem acima da meta de 2% ao ano, reforça a pressão sobre a aplicação de uma política monetária acomodatícia e, portanto, com aumento das taxas diretoras.
Partidário da ortodoxia monetária, o presidente do Banco Central alemão, Joachim Nagel, pediu nesta sexta à instituição que "não perca a oportunidade de tomar as contramedidas apropriadas" para conter a alta dos preços.
Mas uma política muito rígida pode destruir o crescimento que mal se recuperou das consequências da pandemia.
A guerra na Ucrânia lançada em 24 de fevereiro pela Rússia "acentuou a inflação e reduziu o crescimento simultaneamente", sublinhou na quarta-feira a presidente do BCE, Christine Lagarde.
Em 10 de março, o BCE reduziu sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano na zona do euro, para 3,7% (ante 4,2% anteriormente). Simultaneamente, elevou sua projeção de inflação para 5,1% (contra 3,2%).
A Rússia é o principal fornecedor de gás da UE e o segundo maior exportador de petróleo do mundo. Mas também é, como a Ucrânia, uma grande potência agrícola: os dois países juntos representam 30% das exportações mundiais de trigo.
As tensões e incertezas sobre a oferta logicamente causaram um aumento nos preços das commodities nos mercados mundiais nos últimos meses.
Descrita no ano passado como um fenômeno temporário, a inflação deve durar pelo menos este ano. É impulsionada "principalmente pelos preços da energia e dos alimentos", observa Bert Colijn, analista do banco ING, que espera um novo aumento no próximo mês sem excluir "uma taxa de dois dígitos".
"O pior já passou? Podemos duvidar", diz.
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