RFI
Publicada em 16/05/2022 às 14h19
As forças armadas ucranianas anunciaram nesta segunda-feira (16) ter expulsado as tropas russas e retomado o controle de uma parte de sua fronteira com a Rússia no nordeste do país. A região fica nos arredores de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, que foi cenário de bombardeios intensos desde o início da invasão em fevereiro.
Com informações de Murielle Paradon e Sami Boukhelifa, enviados especiais da RFI.
No 82º dia da invasão russa, o ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que seu exército havia empurrado as tropas russas e retomado parte da fronteira com a Rússia, a norte de Kharkiv.
O conselheiro presidencial ucraniano Oleksiy Arestovich havia afirmado no domingo (15) que os russos estavam movimentando suas tropas da região de Kharkiv para a região de Donbass, no sudeste do país, onde pretende ampliar seu controle, tomando a cidade de Severodonetsk.
Em Mariupol, cidade sitiada há semanas pelos russos, os combatentes ucranianos feridos serão transferidos da siderúrgica de Azovstal. O ministério russo de Defesa afirmou que um novo cessar-fogo foi estabelecido no entorno da usina e um "corredor humanitário" foi aberto. Os soldados ucranianos serão levados para serviços médicos em Nozoazovsk, território controlado por forças russas e pró-russas.
Retomada da fronteira: um ato simbólico
O anúncio do governo ucraniano sobre a retomada da fronteira na região de Kharkiv nesta segunda foi acompanhado da publicação de um vídeo que mostra soldados erguendo um marco fronteiriço azul e amarelo, cores da bandeira da Ucrânia.
"Estamos orgulhosos de nossos soldados que restauraram a fronteira. Agradecemos a todos que estão arriscando suas vidas para libertar a Ucrânia dos invasores russos", escreveu o governador da região, Oleg Sinegubov, em um canal do Telegram.
No domingo, um dos conselheiros da presidência ucraniana havia anunciada uma mudança na estratégia russa. As tropas estariam deixando o nordeste da Ucrânia para se concentrar na região de Lugansk, no Donbass. O objetivo seria tomar a cidade de Severodonetsk.
"Para fingir uma vitória, o inimigo se concentra em dois objetivos: ou avançar as fronteiras da região de Lugansk", parte da qual tem sido controlada por separatistas pró-russos desde 2014, ou "tomar Severodonetsk". A cidade tornou-se a capital administrativa da parte da região controlada pela Ucrânia.
Kharkiv conta seus mortos
Na lenta retomada da região de Kharkiv, as autoridades ucranianas contam os mortos e recuperam os corpos de seus soldados e dos combatentes russos. Os corpos dos russos devem ser enviados de volta a Moscou.
O odor do necrotério de Kharkiv é forte e acre. Pelo chão, os corpos foram alinhados embaixo de uma lona enquanto aguardam o exame dos funcionários do necrotério. Em um grupo separado, dois corpos com membros negros e vestidos com uniformes militares russos.
O estado de putrefação dos corpos é efeito do tempo de abandono. “Estes corpos estavam no campo de batalha há um mês”, explica o diretor do necrotério, Yuri Nikolaevitch, à reportagem RFI. “Eles serão levados a um local refrigerados e enviados para a Rússia.”
A troca de corpos de soldados mortos em batalha é parte da Convenção de Genebra. E os ucranianos mostram à imprensa estrangeira para desmentir os rumores de que parte dos russos estariam sendo enterrados ou guardados na Ucrânia.
Até agora, é difícil saber quantos homens morreram nessa guerra iniciada em fevereiro. Kiev estima que perdeu cerca de 3.000 soldados e afirma que 25.000 russos morreram, mas Moscou nega os números, falando apenas sobre "perdas significativas".
Em Kharkiv, as autoridades ucranianas se recusam a dizer quantos são os soldados russos encontrados mortos no território ou quantos foram levados ao necrotério.
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