AFP
Publicada em 24/06/2022 às 10h28
A ajuda começou a chegar nesta sexta-feira (24) aos vilarejos devastados do sudeste do Afeganistão, mas milhares de sobreviventes permanecem desabrigados, sem comida ou água, três dias após o terremoto mais mortal do Afeganistão em mais de duas décadas.
O terremoto de 5,9 graus de magnitude que atingiu, na quarta-feira, esta região empobrecida e isolada na fronteira com o Paquistão deixou mais de 1.000 mortos, 3.000 feridos e milhares de desabrigados.
As casas com paredes de tijolos de barro não resistiram e os sobreviventes se viram completamente desamparados. Precisam de abrigos, para se proteger da chuva e do frio, mas também de comida, água e produtos de primeiros socorros.
"Não há cobertores, nem tendas, nem abrigos (...) Todo o nosso sistema de distribuição de água está destruído. Não há absolutamente nada para comer", explicou à AFP Zaitullah Ghurziwal, morador da província de Paktika, a mais afetada.
Vários tremores secundários foram sentidos desde quarta-feira. Cinco pessoas morreram na manhã desta sexta-feira em Gayan, segundo Maqbool Luqmanzai, diretor de saúde deste distrito, muito afetado.
As operações de socorro são complicadas pelo isolamento da região e pelo clima. As chuvas causaram deslizamentos de terra que retardam a entrega de ajuda e danificaram linhas telefônicas e elétricas.
Mas os repórteres da AFP viram sete caminhões do Programa Mundial de Alimentos (PAM) da ONU, carregados com barracas e biscoitos, chegarem esta manhã no vilarejo de Wuchkai, em Gayan, depois de mais de um dia de viagem de Cabul.
Outros, transportando alimentos como óleo e arroz, seguiam, segundo um membro da organização.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) também está presente, com dois caminhões carregados com barracas e medicamentos.
- Desafio para os talibãs -
O terremoto representa um grande desafio para o Talibã, que assumiu o poder em meados de agosto de 2021 após 20 anos de insurreição.
A ajuda internacional, que sustentou o país por duas décadas, foi cortada após a ascensão ao poder dos fundamentalistas islâmicos e volta aos poucos.
E desde então o país está atolado em uma profunda crise financeira e humanitária.
O governo diz que faz o possível para ajudar as vítimas e pediu auxílio à comunidade internacional.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a ONU está "totalmente mobilizada" para ajudar o Afeganistão.
De acordo com seus serviços, o Alto Comissariado para os Refugiados (Acnur) distribui tendas, cobertores e mantas de plástico; o PMA já entregou alimentos para cerca de 14.000 pessoas em Paktika e a Organização Mundial da Saúde (OMS) forneceu 10 toneladas de suprimentos médicos, suficientes para 5.400 cirurgias.
A União Europeia calcula que 270 mil pessoas que vivem nas áreas afetadas pelo terremoto precisariam de assistência e liberou uma ajuda de emergência inicial de um milhão de euros.
Paquistão, Irã e Catar também enviaram ajuda às vítimas do desastre. E os Estados Unidos, que se retiraram do Afeganistão no final de agosto após 20 anos de guerra, disseram estar trabalhando com seus parceiros humanitários para enviar equipes médicas.
Alguns países relutam em fornecer ajuda diretamente ao Talibã por medo de que ela seja desviada.
- Distribuição 'transparente' da ajuda -
"A distribuição da ajuda será transparente", assegurou à AFP o porta-voz do governo, Bilal Karimi. "Vários países nos apoiam e estão do nosso lado".
Aldeias inteiras foram destruídas. As autoridades estimam que um total de quase 10.000 casas, às vezes abrigando 20 pessoas, foram danificadas.
Em Wuchkai, em um cemitério com vista para o vilarejo, 11 sepulturas foram recentemente cavadas. Todas contêm os corpos de uma mesma família morta no terremoto, incluindo crianças.
Na aldeia de Zaitullah, as pessoas, que vagam com rostos cansados e resignados, perderam tudo.
"Nós não tínhamos nem uma pá para cavar (as covas), nenhum equipamento, então usamos um trator", disse.
A urgência é grande para os mais frágeis: idosos e crianças. A ONG Save the Children estimou na quinta-feira que mais de 118.000 crianças foram afetadas pelo desastre.
"Muitas crianças provavelmente não têm acesso a água potável, comida e um lugar seguro para dormir", alertou.
O Afeganistão é frequentemente atingido por terremotos, particularmente na cordilheira Hindu Kush, que fica na junção das placas tectônicas Euro-Asiática e Indiana.
O terremoto mais letal de sua história recente (5.000 mortos) ocorreu em maio de 1998 nas províncias de Takhar e Badakhshan (nordeste).
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