AFP
Publicada em 27/06/2022 às 10h30
"Não sou um assassino". O julgamento dos atentados terroristas de novembro de 2015 em Paris terminou nesta segunda-feira (27) com as declarações finais de Salah Abdeslam e outros acusados, após quase 10 meses de processo. O veredicto deve ser anunciado na quarta-feira (29).
A sala do Palácio de Justiça de Paris estava lotada no 148º e último dia do julgamento "histórico" para ouvir os 14 réus presentes. Abdeslam, o último a levantar, quis falar primeiro às vítimas.
"Apresentei minhas desculpas. Alguns dirão que não são sinceras, que é uma estratégia (...) como se as desculpas pudessem ser insinceras diante de tanto sofrimento", afirmou o único integrante vivo dos comandos que mataram 130 pessoas em 13 de novembro de 2015.
Adeslam enfrenta o risco de ser condenado à maior pena prevista no Código Penal da França, a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, sentença solicitada pela acusação. Os advogados de defesa consideram que esta seria uma "pena de morte social" para o francês de 32 anos, renunciou a explodir a carga presa ao seu corpo na noite do ataque
"A opinião pública pensa que eu estava nos bares, atirando contra as pessoas, que estava no Bataclan. Vocês sabem que a verdade está no sentido contrário", afirmou, depois de considerar a "prisão perpétua" à altura dos fatos, mas não dos "homens no banco dos réus".
O principal acusado, detido na Bélgica em 18 de março de 2016, quatro dias antes dos ataques contra o metrô e o aeroporto de Bruxelas (32 mortos), admitiu "erros" durante sua vida. "Mas não sou um assassino e se for condenado por assassinatos, vocês cometeriam uma injustiça", disse.
- Arrependimentos, desculpas, condolências -
A maioria dos outros 13 acusados presentes - seis são julgados à revelia - reiteraram "arrependimentos" ou pedidos de "desculpas". Alguns expressaram "condolências" às vítimas e agradeceram a seus advogados. Muitos afirmaram "confiar na justiça".
"Não sou um terrorista", disse Abdellah Chouaa, um belga-marroquino de 41 anos que comparece ao julgamento em liberdade por ter recebido Mohamed Abrini - "o homem do chapéu" dos ataques em Bruxelas - em seu retorno da Síria. "Você destruiu minha vida", afirmou, sem conter as lágrimas.
Abrini, para quem o Ministério Público pediu pena de prisão perpétua com 22 anos de cumprimento obrigatório, disse que o aconteceu foi "repugnante". "De alguma maneira, poderia ter evitado, não deveria ter acontecido nunca", acrescentou.
Como outros acusados, este amigo de infância de Abdeslam afirmou que deseja que os sobreviventes e os parentes das vítimas possam algum dia "reconstruir" e "virar a página".
Ao reafirmar sua compaixão pelas vítimas, o tunisiano Sofien Ayari disse temer que a decisão do julgamento já esteja tomada, como se não houvesse "nada para compreender dos fanáticos" no banco dos réus. Osama Krayem foi o único que não falou.
As penas solicitadas contra os 20 acusados vão de cinco anos de prisão até prisão perpétua sem liberdade condicional para Abdeslam e dois ex-dirigentes do grupo Estado Islâmico, que foram considerados mortos na região da Síria e Iraque.
"A audiência foi suspensa e será retomada na quarta-feira 29 de junho de 2022 a partir das 17H00 (12H00 de Brasília), quando se espera o veredicto no caso do pior ataque em Paris desde a Segunda Guerra Mundial", anunciou o presidente do tribunal, Jean-Louis Périès.
Os atentados de 2015 em Paris e no Stade de France aconteceram em um contexto de ataques na Europa, enquanto uma coalizão internacional lutava contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. Milhares de sírios chegavam por sua vez ao continente europeu para fugir da guerra em seu país.
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