AFP
Publicada em 02/08/2022 às 10h47
O líder da Al-Qaeda, o egípcio Ayman al-Zawahiri, morreu no sábado (30) em um ataque com um drone americano em Cabul, capital do Afeganistão - anunciou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na segunda-feira (1º).
"No sábado, sob minhas ordens, Estados Unidos realizaram um ataque aéreo em Cabul, que matou o emir da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri", informou o presidente em um discurso na Casa Branca.
"A justiça foi feita, e esse líder terrorista não existe mais", completou.
Ayman al-Zawahiri era um dos homens mais procurados no mundo pelos Estados Unidos, que ofereciam US$ 25 milhões em recompensa por qualquer informação que levasse a sua prisão, ou condenação.
Considerado o cérebro por trás dos atentados de 11 de setembro de 2001, que deixaram quase 3.000 mortos em Nova York, Al-Zawahiri estava em paradeiro desconhecido há mais de dez anos. Ele assumiu a liderança da organização terrorista depois da morte de Osama bin Laden, em 2011, em uma operação americana no Paquistão.
Sua morte permitirá que as famílias das vítimas dos ataques contra as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York e a sede do Pentágono perto de Washington "virem a página", declarou o presidente Biden.
- Mísseis Hellfire -
O ataque com drone foi executado com dois mísseis Hellfire e sem a presença militar americana no terreno, disse uma autoridade americana, o que demonstra a capacidade dos Estados Unidos de "identificar e localizar até os terroristas mais procurados do mundo e tomar medidas para eliminá-los".
Ayman al-Zawahiri foi localizado "várias vezes e por longos períodos na varanda onde foi finalmente atingido" pelo ataque na capital afegã, acrescentou.
A operação "não causou vítimas civis", disse Biden, que testou positivo para covid-19 e estava em isolamento quando ordenou o ataque em 25 de julho.
A casa atacada não tem sinais de explosão, e ninguém ficou ferido na operação. Os dois dois elementos sugerem que as forças dos Estados Unidos utilizaram o Hellfire R9X, míssil com seis lâminas que não explode ao atingir seu alvo.
Batizado de "Flying Ginsu", o míssil virou munição habitual para matar líderes "jihadistas" sem provocar vítimas civis.
A casa de três andares atingida no ataque fica em Sherpur, um bairro rico da capital afegã, onde moram vários líderes e comandantes talibãs.
Vários moradores entrevistados pela AFP acreditavam que a casa estava vazia.
"Não vemos ninguém morando lá há um ano", afirmou um funcionário de uma empresa da área. A casa "estava sempre escura, sem uma única lâmpada acesa".
No fim de semana, o ministro afegão do Interior, Sirajuddin Haqqani, negou relatos sobre um ataque com aviões não tripulados em Cabul e disse à AFP que um foguete atingiu "uma casa vazia" na capital.
Nesta terça-feira, porém, o porta-voz talibã Zabibullah Mujahid tuitou que um "ataque aéreo" foi executado por "drones americanos", mas não citou vítimas, nem mencionou o nome de Zawahiri.
A presença de Ayman al-Zawahiri em Cabul era uma "clara violação" dos acordos alcançados com o Talibã em Doha em 2020. Segundo os termos do pacto, os islâmicos se comprometeram a não receber a Al-Qaeda em seu território, afirmou uma fonte do governo americano.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse na segunda-feira que, ao "abrigar e proteger" Zawahiri, o Talibã "violou de maneira grosseira o acordo de Doha", que previu a retirada das tropas americanas do Afeganistão.
No âmbito deste acordo, o Talibã prometeu não voltar a abrigar jihadistas, mas, segundo analistas, o grupo nunca rompeu seus laços com a Al-Qaeda.
- Críticas -
Zabibullah acusou Washington de violar os acordos com um ataque em seu território.
Mas, de acordo com uma fonte do governo Biden, "autoridades talibãs da rede Haqqani estavam a par da presença" do líder da Al-Qaeda em Cabul.
O ministro Sirajuddin Haqqani lidera a rede Haqqani, um grupo insurgente talibã conhecido pelo radicalismo e por sua violência nos últimos 20 anos. Autoridades americanas consideram esta rede como o braço direito dos serviços de Inteligência paquistaneses.
Foragido desde os ataques de 11 de setembro de 2001, Zawahiri cresceu em uma família rica no Cairo, antes da guinada para um islamismo radical e violento. Deixou o Egito em meados da década de 1980 para morar em Peshawar, noroeste do Paquistão, onde ficava a base da resistência à ocupação soviética do Afeganistão.
Foi nesta época, quando milhares de combatentes islamitas viajavam para o Afeganistão, que Zawahiri e Bin Laden se conheceram. Em 1998, ele foi um dos cinco signatários da "fatwa" de Bin Laden que pedia ataques aos americanos.
Quando Ayman al-Zawahiri herdou, em 2011, uma organização decadente, precisou, para sobreviver, multiplicar as "franquias" e seus juramentos de lealdade circunstanciais, da Península Arábica ao Magrebe, da Somália ao Afeganistão, passando por Síria e Iraque.
O anúncio de Biden sobre a morte de Zawahiri acontece quase um ano após a caótica retirada das forças americanas do Afeganistão que permitiu aos talibãs recuperar o controle do país após 20 anos.
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