AFP
Publicada em 24/08/2022 às 09h37
A colheita de outono na China está sob "grave ameaça" pelas temperaturas elevadas e a seca, advertiram as autoridades, que fizeram um apelo por ações para proteger as plantações da pior onda de calor já registrada no país.
A segunda maior economia mundial foi afetada no atual verão (hemisfério norte) por temperaturas recorde, secas e inundações repentinas, uma série de fenômenos extremos que se tornam cada vez mais frequentes e intensos devido à mudança climática, alertam os cientistas.
Durante os últimos meses, o sul da China viveu o período mais longo e sustentado de altas temperaturas e escassez de chuvas desde o início dos registros meteorológicos há mais de 60 anos, informou o ministério da Agricultura em um comunicado.
O rio Yangtze, principal reserva de água potável do país, está seco em vários trechos e há dois meses os moradores de muitas cidades chinesas recebem alertas diários pelo forte calor, o que motivou as autoridades a ordenar o racionamento de energia elétrica.
Na agricultura, a seca é particularmente problemática nas plantações de arroz e de soja, que exigem muita água.
Quatro departamentos governamentais emitiram um alerta na terça-feira com apelos por medidas para proteger as lavouras e pedidos para que "cada unidade de água seja utilizada com cuidado", com métodos como o risco escalonado ou semeadura de nuvens, uma tática para tentar provocar chuva.
"O rápido avanço da seca, sobreposta às temperaturas elevadas e aos danos provocados pelo calor, provoca uma uma grave ameaça à produção agrícola de outono", afirma o comunicado.
- "A pior onda de calor" -
Nos últimos meses, os especialistas expressaram preocupação com as colheitas do país devido às restrições vinculadas à covid-19, que afetaram a logística e atrasaram o plantio da primavera.
A segurança alimentar é um tema delicado na China, um país que foi afetado pela fome várias vezes. No final dos anos 1950 e no início da década de 1960, a coletivização das terras imposta pelo poder comunista provocou milhões de mortes na China rural.
O país afirma que assegura mais de 95% de suas necessidades de arroz, trigo e milho, mas os problemas nas colheitas podem levar a um aumento das importações, no momento em que a oferta de cereais enfrenta grandes dificuldades pela guerra na Ucrânia.
Várias grandes cidades registraram os dias mais quentes de sua história, com o termômetro atingindo 45ºC no sudoeste do país.
Nesta quarta-feira, a província de Sichuan (sudoeste) bateu o recorde de temperatura com 43,9 ºC, informou o serviço meteorológico provincial em um comunicado.
"É a pior onda de calor já registrada na China", disse à AFP Liu Junyan, diretor para clima e energia da unidade do Greenpeace no sudeste asiático.
"O impacto da mudança climática se intensifica... é provável que no próximo ano os recordes de calor sejam batidos novamente", acrescentou.
- Chuva artificial -
No início de agosto, o serviço de meteorologia nacional informou que a temperatura do país aumentou duas vezes mais rápido que a média mundial desde 1951, uma tendência que deve prosseguir.
Com a falta de água, a China tenta provocar chuva artificialmente lançando no céu projéteis carregados de iodeto de prata, segundo o canal público CCTV.
Várias províncias chinesas ordenaram o racionamento de energia elétrica para administrar a demanda elevada, provocada em parte pelo uso generalizado de ar condicionado.
As megacidades de Xangai e Chongqing ordenaram a redução das iluminações decorativas e as autoridades de Sichuan limitaram a energia destinada ao setor industrial, enquanto as represas hidrelétricas registram níveis mínimos.
Mais de 1.500 pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas na região de Chongqing na segunda-feira após incêndios provocados pela seca e temperaturas elevadas, informou a agência estatal de notícias Xinhua.
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