AFP
Publicada em 31/08/2022 às 09h06
Helicópteros resgatam pessoas isoladas nas montanhas do norte e barcos percorrem as áreas alagadas do país: o Paquistão mobiliza todos os recursos nesta quarta-feira (31) para ajudar os milhões de desabrigados pelas inundações mais graves da história do país.
Um terço do país está submerso após as chuvas de monção, que provocaram 1.162 mortes desde junho - de acordo com o balanço atualizado nesta quarta-feira - devastaram plantações agrícolas fundamentais para a economia e destruíram ou danificaram gravemente um milhão de casas.
"O Paquistão está inundado de sofrimento. A população paquistanesa enfrenta uma monção cataclísmica", disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ao apresentar um pedido de doações de 160 milhões de dólares para os próximos seis meses.
Mais de 33 milhões de pessoas, um em cada sete habitantes do país, foram afetados pelas "piores inundações da história do Paquistão", segundo o primeiro-ministro Shehbaz Sharif.
O governo calcula que precisará de pelo menos 10 bilhões de dólares para reconstruir as infraestruturas, em particular nos setores de telecomunicações, rodovias e agricultura.
Mas a prioridade é ajudar milhares de pessoas bloqueadas nas montanhas e vales do norte e nos vilarejos isolados do sul e oeste.
"Pedimos ao governo que ajude a acabar com nossas dificuldades o mais rápido possível", declarou à AFP Mohammad Safade, que teve a casa completamente inundada em Shikarpur, na província de Sindh (sul).
"Precisamos que a água seja bombeada imediatamente para que possamos retornar para nossas casas", suplicou.
A província de Sindh virou praticamente um rio, quase sem locais secos para permitir a drenagem.
"Se você sobrevoa a região, não vê nenhuma terra seca, apenas quilômetros de campos inundados e vilarejos alagados", disse à AFP a ministra da Mudança Climática, Sherry Rehman.
- Fenômenos extremos -
Na atual temporada de monção, o Paquistão registrou duas vezes mais chuvas que a média, de acordo com o serviço de meteorologia. Nas províncias de Baluchistão e Sindh, as mais afetadas, a média foi quatro vezes maior que a registrada nos últimos 30 anos.
As chuvas de monção, que vão de junho a setembro, são essenciais para irrigar as plantações e para reabastecer os recursos hídricos do subcontinente indiano
Mas há pelo menos três décadas o Paquistão não registrava chuvas tão intensas e por tanto tempo, algo que as autoridades atribuem à mudança climática, que aumenta a frequência dos fenômenos extremos.
Este ano, o país já registrou uma onda de calor com temperaturas superiores a 50ºC, incêndios devastadores e cheias catastróficas provocadas pelo rápido degelo das geleiras.
Apesar de ser responsável por menos de 1% das emissões mundiais de gases do efeito estufa, o Paquistão é o oitavo país mais ameaçado por fenômenos meteorológicos extremos, de acordo com um estudo da ONG Germanwatch.
O governo paquistanês atribui o cenário aos países industrializados, acusados por Islamabad de terem enriquecido graças às energias fósseis sem uma previsão das consequências.
- Escassez de comida -
Muito dependente da agricultura, o Paquistão antecipa graves consequências para uma economia precária, que já registra os primeiros problemas com a tragédia, como a disparada dos preços de alguns alimentos, como cebola, tomate e grão-de-bico.
Sharif prometeu que todo o dinheiro será gasto de "forma transparente e destinado aos que necessitam".
O governo dos Estados Unidos anunciou a liberação de 30 milhões de dólares de ajuda humanitária. Também começaram a chegar voos de carga da China, Turquia e Emirados Árabes Unidos.
Por todos os lados são observados acampamentos improvisados para receber os desabrigados, que precisam enfrentar o forte calor e a escassez de água potável e comida.
Em um clínica improvisada em Sindh, os médicos atendem pacientes que caminharam descalços pela água suja e repleta de escombros.
"Meu filho está com muita dor nos pés. Eu também", relata Azra Bhambro, uma mulher de 23 anos que procurou ajuda.
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