RFI
Publicada em 29/09/2022 às 14h56
O presidente russo, Vladimir Putin, formalizará nesta sexta-feira (30) em Moscou a anexação pela Rússia de territórios ucranianos, amplamente denunciada pela comunidade internacional. O líder russo promete defender as regiões anexadas até mesmo com armas nucleares.
O Kremlin vai realizar uma cerimônia na sexta-feira quando será formalizada a anexação das regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk (leste), Kherson e Zaporíjia (sul).
"Uma cerimônia para assinatura de acordos sobre a entrada de novos territórios na Federação Russa será realizada amanhã no Kremlin", informou o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov. "Vladimir Putin fará um grande discurso neste evento", acrescentou.
A capital russa se prepara para as festividades para marcar a anexação das quatro regiões, que ocorre após "referendos" condenados por grande parte da comunidade internacional.
Kiev, apoiada pelo Ocidente e suas entregas de armas, jurou continuar sua contraofensiva que vem fazendo o Exército russo recuar em algumas regiões há quase um mês, forçando Putin a mobilizar apressadamente centenas de milhares de reservistas civis.
Concerto e autoridades
Para a organização do evento, o tráfego motorizado será proibido em grande parte do centro da cidade na sexta-feira, enquanto um concerto será organizado, de acordo com a mídia local," à sombra dos muros do Kremlin", onde uma aparição de Putin está sendo esperada.
Autoridades instaladas por Moscou nas regiões de Donetsk e Lugansk, Zaporíjia e Kherson já chegaram de avião a Moscou desde a noite de quarta-feira (28), informaram agências de notícias russas.
Diante de uma enorme contraofensiva ucraniana, a Rússia acelerou o processo de anexação com a organização precipitada dos chamados “referendos”, sob a supervisão de soldados armados. Esses votos foram chamados de "farsa" e "simulados" por Kiev e seus apoiadores ocidentais.
Até a China, o parceiro mais próximo de Moscou, tem criticado a violação da integridade territorial de um Estado soberano.
Crimeia
A Rússia segue o roteiro da anexação, em 2014, da Crimeia, península no sul da Ucrânia. Na época, Putin também fez um discurso com grande pompa.
A Ucrânia denunciou as novas anexações e não se deixou intimidar pelas ameaças de Putin de usar armas nucleares, buscando uma contraofensiva no leste e no sul. Depois de ter reconquistado a maior parte do nordeste, Kiev parece determinada na recuperação de Lyman, uma cidade na região de Donetsk e um importante centro ferroviário que o exército russo controla desde maio.
As forças ucranianas permanecem em silêncio sobre as operações em andamento, mas as autoridades leais a Moscou na região reconheceram dificuldades. "O adversário está fazendo tentativas regulares de ataque para criar as condições para um cerco", disse o alto funcionário de Donetsk, Alexei Nikonorov, à televisão russa.
O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um centro de pesquisa dos EUA, observou que "combates significativos" estavam em andamento na área e que, se a Ucrânia reconquistasse Lyman, isso permitiria que Kiev avançasse para a região de Donetsk e a região vizinha de Lugansk.
Fuga de reservistas
Na prática, os bombardeios russos continuam a atingir cidades ucranianas, matando inclusive uma criança durante a noite de quarta-feira, em Dnipro. Pelo menos cinco civis também foram mortos na parte controlada pela Ucrânia da região de Donetsk.
Na Rússia, a mobilização de centenas de milhares de reservistas civis para reforçar as linhas do país continua, assim como o êxodo de dezenas de milhares de russos temendo serem mobilizados.
Um jovem de vinte e poucos anos, que chegou à Mongólia pela fronteira terrestre, prefere permanecer anônimo para explicar os motivos que o levaram a fugir da Rússia. "Foi muito difícil deixar tudo para trás. Minha casa, minha pátria, meus entes queridos. Mas é sempre melhor do que matar pessoas", declarou ele à agência AFP em Ulaanbaatar, a capital.
Na frente internacional do conflito, foram os vazamentos devido a explosões misteriosas nos gasodutos Nord Stream 1 e 2 que alimentaram novas tensões russo-ocidentais. Os dois campos se acusam agora de terem sabotado os tubos submarinos, uma infraestrutura crucial para o fornecimento europeu de gás russo. Os gasodutos estavam, no entanto, parados por causa do ataque russo ao seu vizinho.
“Um Estado estrangeiro”
A Otan denunciou nesta quinta-feira (29) atos de sabotagem "deliberados, imprudentes e irresponsáveis", enquanto o Kremlin declarou suspeitar "do envolvimento de um Estado estrangeiro". A diplomacia russa acusou, no dia anterior, aos Estados Unidos.
Uma reunião do Conselho de Segurança da ONU está agendada para esta sexta-feira sobre o assunto, a pedido de Moscou.
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