Rondoniadinamica
Publicada em 08/10/2022 às 09h39
Porto Velho, RO – É inegável. O resultado do primeiro turno no Brasil inteiro mostrou que uma nova onda bolsonarista varreu o País. E de maneira tão ou até mais enfática do que o movimento visto em 2018. A realidade é: o espectro fincou raízes.
A única diferença – extremamente considerável –, é que o líder da nova safra verde e amarela, a despeito da força política demonstrada por adeptos das urnas, pode ficar de fora do Poder.
O atual presidente Jair Bolsonaro, do PL, encerrou a etapa inaugural do pleito em segundo lugar, atrás de Lula, do PT.
Numa escala continental, que é o tamanho das plagas brasileiras no todo, registrou-se uma diferença significativa, que pode soar sensível, mas, no fim, representa uma vantagem de 6.186.367 (seis milhões cento e oitenta e seis mil trezentos e sessenta e sete) votos.
Para vencer, Bolsonaro precisa preencher o déficit entre um e outro, e, ainda, buscar pessoas que votaram em seus adversários e/ou convencer quem deixou de ir às urnas a fazê-lo.
Vale registrar que Rondônia mostrou mais uma vez de maneira maiúscula ser uma unidade federativa sumariamente a favor do atual regente do Planalto.
Quando Marcos Rocha, atualmente no União Brasil, surgiu para a política há quatro anos atrás rumando ao Palácio Rio Madeira, Bolsonaro já era seu amigo, aliado e parceiro de todas as horas. Isto não mudou de lá para cá.
Recentemente, o presidente chegou a citar Rocha no Twitter por conta da deliberação favorável no sentido de reduzir o ICMS dos combustíveis a fim de auxiliar o governo federal na pauta econômica. Isto só para trazer arquétipo de reciprocidade na relação governador-presidente.
A "guinada" de Marcos Rogério ao bolsonarismo começou em 2018 na campanha de Expedito Júnior durante segundo turno / Reprodução
Também foi naquele ano, 2018, que Marcos Rogério, correligionário do morador do Alvorada, mas à época do DEM, decidiu pela primeira vez na vida fazer o famigerado gesto da “arminha” já sentindo os ventos da política mudarem de posição.
No caso, uma especialidade do congressista que, de maneira muito pragmática, tem dado seus passos no tabuleiro de acordo com as coordenadas do Poder.
Muito antes disso, quando o PT elevou Dilma Rousseff ao comando maior da Nação, Rogério pertenceu à base de apoio da gestão no Congresso Nacional enquanto membro do PDT. O PDT, no caso, histórico partido de esquerda cunhado sob a égide do trabalhismo concebido por Leonel Brizola cujo maior expoente hoje é o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, também ex-ministro de Lula.
Bolsonaro e Rocha têm relação recíproca há mais de quatro anos / Reprodução
Aliás, em 2013, há menos de dez anos, Rogério dizia que Dilma poderia contar com ele enquanto exaltava teóricos de esquerda, incluindo o ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar em março de 1964:
“O PDT é um partido histórico, com bandeiras bem definidas, e contribui decisivamente para a construção de um Brasil melhor. Como sonhavam nossos grandes líderes Leonel Brizola, Jango, Darcy Ribeiro e tantos outros, continuamos com os mesmos ideais, com os mesmos objetivos. Embora os protagonistas da história atual sejam outros, não perdemos e não perderemos jamais a nossa identidade”, disse na Tribuna à ocasião.
O mesmo discurso era encerrado assim:
“Sim, o Brasil e a Presidente Dilma Rousseff podem contar conosco. Ajudamos a eleger esse Governo e temos responsabilidade por ele. E aproveito para saudar aqui o novo Ministro do Trabalho e Emprego DR. Manoel Dias, nosso Secretário-Geral do PDT, um homem preparado para o cargo, que conhece o Brasil e fará, sem sombra de dúvida, uma grande gestão à frente daquela Pasta”, finalizou.
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Depois disso, foi relator do processo de cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, bastante elogiado pela tecnicidade do documento elaborado, e participou também da articulação do impeachment da ex-aliada Dilma Rousseff, rumando para o Centro, quando passou a ocupar as fileiras do DEM.
Cada vez mais fisiológico, o senador percebeu na agitação conservadora um novo espaço para fazer de guarida na vida pública.
E da “arminha com a mão” feita em 2018, quando participava da campanha de segundo turno de Expedito Júnior (ainda no PSDB) contra seu atual adversário Marcos Rocha, à época do PSL, foi um pulo para tornar-se de vez bolsonarista, atuando em prol dos interesses do Planalto na CPI da COVID-19 já como senador da República. Aliás, Rogério trocou – acertadamente, politicamente falando embora moralmente questionável – Expedito por Bagattoli, pecuarista eleito senador.
Rondônia Dinâmica escreveu a respeito em julho deste ano.
Em suma, pensando em si, Marcos Rogério tem sido vitorioso em praticamente todas as suas escolhas na vida pública. Ponto para ele.
Marcos Rocha, por outro lado, não havia ocupado cargos político-eletivo até o arrastão da primeira leva bolsonarista.
Ocupou, entretanto, a Diretoria do Colégio Tiradentes, em Porto Velho, e chegou a ser secretário municipal de Educação no mandato de Mauro Nazif, do PSB, na Capital. Um cargo técnico, distante de questões ideológicas.
Aliás, durante o pleito de 2022, em um dos embates que teve com Léo Moraes, do Podemos, no primeiro turno, o próprio Marcos Rogério fez menção honrosa a Nazif quando houve manifestações críticas contra a Energisa na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
No dia 30 de outubro, os rondonienses irão às urnas de novo, desta feita para escolher um dos xarás.
Marcos Rocha, atual governador, ainda novo politicamente falando, mas ao menos coerente no sentido de empunhar desde sempre as mesmas bandeiras; ou Rogério, que, apesar da desenvoltura em Brasília, da fama alcançada na mídia nacional, tem em seu histórico – bem maior que o do adversário – uma linha de atuação inconsistente, ideologicamente, mas sempre compatível com as deliberações do Poder vigente enquanto pessoalmente vantajoso.
A proximidade real e a lealdade ao presidente, como bem comprovou o abrir de urnas no primeiro turno, serão os critérios decisivos no fim das contas.
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