AFP
Publicada em 13/10/2022 às 15h33
O Parlamento iraquiano elegeu nesta quinta-feira(13) Abdel Latif Rashid como presidente da República, na esperança de encerrar um ano conturbado de crise e violência, em uma sessão marcada por disparos de foguetes que deixaram dez feridos nas proximidades.
Rashid, um engenheiro curdo de 78 anos, foi eleito por 160 votos a 99 do presidente em fim de mandato Barham Saleh, informou um funcionário da Assembleia Legislativa.
Sua primeira decisão foi nomear o líder político xiita de 52 anos, Mohammed Shia al-Sudani, como primeiro-ministro, com a missão de formar um novo governo para tirar o país da estagnação política.
Em julho, a proposta de nomear Sudani para esse cargo provocou indignação entre partidários de outro líder xiita, o clérigo Moqtada Sadr, que protestaram na Zona Verde, a mais segura de Bagdá, e invadiram o Parlamento.
As tensões foram reavivadas e nove foguetes do tipo katiusha foram lançados na Zona Verde, deixando dez feridos, incluindo seis agentes de segurança dos deputados, segundo funcionários do setor. Os disparos não foram reivindicados.
A nomeação de um presidente e primeiro-ministro ocorre mais de um ano após as últimas eleições legislativas, em 10 de outubro de 2021.
A estagnação política dificulta reformas e grandes projetos de infraestrutura em um país rico em hidrocarbonetos, mas devastado por décadas de conflito.
Neste ano, o Parlamento tentou três vezes eleger um presidente, mas em nenhuma das sessões foi atingido o quórum de dois terços.
- Tensões internas e religiosas -
No Iraque, o cargo de presidente é tradicionalmente reservado a um curdo, mas há meses os dois partidos históricos dessa comunidade disputam o cargo, sem chegar a um acordo.
As tensões também são significativas entre os dois blocos xiitas, a comunidade majoritariamente muçulmana no Iraque, e no Parlamento.
A facção liderada pelo clérigo popular Moqtada Sadr exige a dissolução do hemiciclo e eleições antecipadas. Mas o Quadro de Coordenação, uma aliança de facções pró-iranianas, pede a formação de um Executivo antes de convocar novas eleições.
Sudani, que aos 9 anos perdeu o pai, executado pelo regime de Saddam Hussein, é um dos principais representantes da oposição xiita ao ditador derrubado pela invasão americana em 2003.
O novo primeiro-ministro, formado em agronomia, "não tem um passado duvidoso nem é alvo de grandes acusações de corrupção", diz Sajad Jiyad, pesquisador do think-tank Century International.
Mas para seus oponentes "ele não tem reputação de reformista e faz parte do stablishment político", acrescentou.
As tensões atingiram um pico em 29 de agosto, quando mais de 30 apoiadores sadristas foram mortos em combates contra o exército e Hashd al-Shaabi, integrado às tropas regulares em 2017.
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